L2|| XIV. Há Quem Chame Isso de Destino

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SEIS ANOS ATRÁS (continuação - parte final)

Acordo dentro de uma banheira de cor branca, dentro de um banheiro muito bem iluminado e da mesma cor. Olho a minha volta com leve confusão e assim que vejo o rosto do homem que me atacara e também me salvara. Eu apenas o fito em silêncio. 

— Te coloquei aí pois você sangrou muito antes de se curar. — explica, sentado na beira da banheira.

Olho para meu corpo. Os furos feitos pelas balas em minha pele já fecharam, agora só o vestido exibe todas as marcas do ocorrido em si. As balas foram expelidas sozinhas por meu próprio corpo e sentam-se comigo na banheira. São bem mais do que imaginei. Eu estou coberta de sangue e tentando entender como é que foi que minha noite que começara muito bem terminara assim, comigo sangrando na banheira de um estranho.

— Aonde estou? — me levanto e ele se levanta também. 

— Mundo humano. Brasil. São Paulo. Meu apartamento. 

Olho para baixo e ao tentar pisar fora da banheira, reparo em como o lugar é bem decorado, com aquele luxo moderno característico da raça humana. Há dois espelhos enormes do outro lado então vou até um deles analisar de frente o tamanho do estrago. 

Acho que suei frio enquanto meu corpo descobria como se curar de balas humanas e o pouco de maquiagem que aprendi a usar derreteu em resposta. Meus longos e negros cachos estão mais ferozes que de costume e com o vestido furado e marinada em sangue, pareço ter saído de uma das batalhas que Guendri envia Alexis e eu. 

Da próxima vez que vier para uma balada no mundo humano, virei com minha armadura.

O humano com velocidade e força não-humanas pára a frente do espelho ao lado do meu.

Eu o olho. Ele agora está sem o terno escuro, tem apenas uma camisa azul claro desabotoada na gola e suas estúpidas mãos novamente em seus estúpidos bolsos. Reparo que também tem sangue sobre si, e tenho quase certeza de que é em sua maioria meu.

Ligo a torneira prateada e jogo um pouco de água no rosto, piorando o que já está horrível. Maquiagem humana é uma faca de dois gumes: se está no lugar certo é uma maravilha. Se não estiver, é assustador. Respiro fundo, analisando o resultado final do meu dia em minha face incrédula com os ocorridos.

— O que é um traveco? — pergunto de novo. Sei lá, eu estou curiosa até agora.

— É uma forma de chamar um homem humano que gosta de se vestir como mulher. Imbecis usam o termo na esperança de ofender.

— por que acharam que eu sou um?

— Talvez por ser alta demais, erguer um garoto pelo pescoço sem dificuldades e jogar um cara em cima de um carro. Imagino que saiba que mulheres humanas não são tão fortes fisicamente. Nem homens humanos, para falar a verdade.

— Mas você é. — constato o óbvio na esperança de alguma confirmação de sua parte sobre minhas suspeitas. Ele não diz nada. Você acha que eu pareço um homem humano? — me olho no espelho curiosa, tentando encontrar o motivo de acharem que eu pareço um.

Quando o olho novamente, vejo seus olhos me percorrem por completo lentamente, em silêncio.

— Definitivamente não. — Concluí, devagar.

Ele assiste meus lentos passos até ele. 

— Não te acertaram também? — com a proximidade, analiso seu corpo. É grande. Enche bem o as medidas do tecido que o cobre. Ele responde minha pergunta com uma breve negativa. — Como não? Tem furos na sua camisa. — fechados na pele como os meus, mas óbvios no tecido, apesar do meu sangue tê-lo sujado. Sei que é meu pois o perfume doce está forte. Ainda calado ele me estuda de volta, despreocupado em se explicar. — Quem é você?

ADARISOnde as histórias ganham vida. Descobre agora