L2|| XV. "Inspiração"

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CALI

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CALI

Os altos e baixos do que sinto me exaurem da razão e vontade de continuar vivendo. Quando penso que posso respirar mais uma vez sem quebrar novamente em mil e um pedaços, descubro que estou ledamente enganada. 

É insano como não há nada que eu possa fazer para que pare de doer, para que eu pare de sentir esse abismo crescer cada vez mais amargo e fundo dentro de mim. 

E fora também. 

Ao colocar meus próprios braços ao meu redor, observo minha pele que está quase toda coberta do negrume da magia que eu não posso mais controlar. Tenho certeza que ela não só se exponencia em meu exterior, mas também em meu interior, me enchendo ainda mais de ódio, revolta, dúvida e luto. Me sinto levemente nauseada, gradualmente mais insalubre.

Me sento de joelhos e esmurro o chão de folhas que torno negras sem querer. Bato com tanta força nelas que acho que trinco alguns ossos de minha mão. Mas não importa, essa dor é mínima perto do processo destrutivo pelo qual minha alma passa no momento. 

— Guendri, isso tudo é sua culpa! Eu te odeio! Eu te odeio!! TE ODEIO!! — minha voz se aquebranta contra minha garganta como violentas ondas num mar bravo, saindo grave em meus gritos. Eu não consigo parar de deixar as palavras saírem, minha boca por mim infechável. — Você não merece o sacrifício de Igor! Você nos abandonou! Não merece nada além de qualquer punição que lhe seja dada agora! Espero que esteja queimando em algum tipo de inferno! — a saliva queima minha boca de tanto rancor contida nela. 

Mas não adianta muito. Mesmo colocando tudo para fora, pouquíssimo muda dentro de mim. 

Aqui estou eu no mundo Cardórie, gritando para o nada. Até me esqueço da pequena menina-deusa que há muito não fala nada, apenas andara alguns passos para longe de mim e em silêncio me observa. 

Seco meus olhos desembaçando-os assim que acho que a vi se mover. Ela se põe de pé, as aves em seus ombros em absoluto silêncio. Suas pequenas mãos de três dedos longos, magros e brancos se movimentam, delineando algo no ar continuamente, desenhando algo invisível.

— O que está fazendo? — seco mais ainda meu rosto para melhor enxergá-la e pergunto alto o suficiente para que me ouça de onde está. 

— Você. 

Franzo meu cenho com a estranha resposta e me levanto devagar.

— Como assim?

— Estou fazendo você. Você, de novo. Você óbviamente não foi bem feita e sei que posso fazer melhor. Se Guendri te fez mesmo... mais uma vez, ele errou.

— O quê? — fungo meu nariz e tento fazer sentido do que a deusa quer dizer. 

Mas ela não responde, apenas continua movendo suas mãos no ar e agora que falou isso, acompanhando as linhas que seus dedos esquisitos traçam, percebo que ela está delineando a mim.

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