Nós não podemos

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- Eu queria tanto vê-lo... Nunca quis isso, nunca. Apesar de em alguns momentos de fúria ter desejado sua morte, mas a raiva cegava-me. Em sã consciência jamais diria tais palavras.- Sussurrei.- Mas hoje queria abraça-lo, senti-lo, tê-lo ao meu lado e dizer a ele que o amo.- Suspirei.- Aprendi a amá-lo um pouco mais. Antes era somente sua ausência, porém sabia que ele estava bem. Agora além de sua ausência, sei que não está bem.
Tenho medo de esquecer seu rosto. Mal sei como estão seus traços atualmente.
Estou quase um ano sem vê-lo. Não sei se seus fios de cabelo ainda estão com aquela coloração que deixa-o charmoso ...- Suspirei - Se suas íris continua azeitona e torna-se mais numa cor mais forte no frio. Eu sinto muita falta dele. Sussurrei.

- Eu te prometo que quando Marcus sair do CTI, te levo no primeiro dia para vê-lo.- Seus lábios encostaram-se em minha testa.

- E caso ele não saia?

- Decerto ele irá sair. Marcus é forte. Sempre foi forte. E os fortes sempre conseguem. Ele não passou por duas paradas cardíacas? - Apertou minha mão.

- Seu otimismo deixa-me otimista.- Sorrir.

- Não quero que fique triste, se sinta triste ou culpada.
Tudo irá piorar. Irá imaginar coisas além do que deveria. Tem que passar por isso com estabilidade emocional, senão desencadeará algum distúrbio emocional e eu não quero isso, como já te disse uma vez. Só anseio o seu bem. - Olhou-me.-
Quando vi sua primeira fotografia, para te conhecer, a primeira coisa que meus olhos capturam foi seu sorriso. Me encantei de repente por seu sorriso tímido. - Sorriu - Você estava em seu quarto e Marcus havia chegado quando menos esperava para o seu aniversário.
Quando você abriu a porta e o viu, ele tirou a fotografia no mesmo instante. Foi o que ele me disse.

- Havia me esquecido desse dia. Aconteceu no meu aniversário de quatorze anos. Não estava esperando por ele, como em todos os meus aniversários. Karla já tinha avisado que ele não viria e mandaria o presente via correio. Mal sabia ele que eu não queria presente algum, mas sim sua presença.
Entretanto, na manhã daquele dia, amanheci já emburrada, como de costume - Sorrir - dirigir-me até a porta para ir comer algo e enfrentar os inúmeros abraços e beijos de Kala, eu odiava aquilo, mas hoje... hoje...- Calei-me por alguns segundos.- A vontade era de fugir daquela casa por pelo menos aquele dia, porque eu odiava os meus aniversários. Odiava pelo fato de que eu passava-o sozinha, sempre sozinha, jogada pelo sofá devorando pizzas, nachos, panquecas carameladas, e cozinhando os olhos numa televisão. Pedro só vinha me ver à noite. Era sempre assim.
E aquele dia seria da mesma forma. Porém, ele apareceu. Embora ainda estando com mágoa, fomos até um parque de diversões, depois fomos até minha lanche favorita, depois ao cinema e depois para a varanda, nos três, eu, ele e Karla, e ficamos contando as estrelas... - Derramei uma ligeira lágrima.- Acho que essa memória  fugiu-me porque depois disso, de sua vinda, ele não veio mais.
E tudo se repetiu, voltou a monotonia, a cara emburrada, o sofá, a comida, a TV, Pedro... Mas o pior está acontecendo agora. Á medida em que fui crescendo, os problemas, por desventura, também. Tudo está dando errado antes mesmo de dar certo. Quando estava em Chicago eu sabia enfrentar, eu sabia lidar, ao contrário de agora.
Desde o momento em que saí do coma, não tive felicidade, Dylan. Sorrio num dia para no outro chorar. É sempre assim, a infelicidade irá se tornar superior a felicidade, até que chegará num ponto em que ela me tomará por inteira e eu irei me render.
O que dói-me de forma ardida é saber que meu pai está  num leito de Hospital e eu não. Eu não deveria está aqui, eu não merecia, já que a vida não é favorável a mim.
Eu não quero mais estar aqui e eu sei que ele queria...Ele tem muitas coisas a fazer, uma empresas para cuidar, uma família para dar amor, um casamento para planejar, cafés para tomar... Enquanto a mim, não vejo nada necessário para fazer. Às vezes não me vejo vivendo. Às vezes não gosto de viver. Não sei o que pode vir pela frente, e eu não estou e jamais estarei preparada.

Desventuras De MaryanneWhere stories live. Discover now