Ele me deve explicações!

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- Estou saindo! - Disse em um galope - Ah, e não irei voltar logo. É sério... Caso queira, não me espere para o jantar.

- E porventura eu te dei a permissão?- Sua leitura foi interrompida para olhar-me seriamente.

- Você não tem controle sobre mim, Karla. Pare com esses pensamentos...- Sorrir ironicamente.

- Pelo menos diga-me para onde vai... Não irá matá-la se dizer...- Ela fez um coque em seu cabelo.
Seus fios não ficaram tão danificados depois da discussão entre ela e Patricia.
Sim, tiveram uma briga não muito agradável, desde as palavras até as agressões. E como sempre, sobrou para os cabelos. Patricia culpou Karla por não ter educado-me perfeitamente, sendo assim, capaz de colocar sua filha atrás das grades.
Então, Karla sentiu-se ofendida e iniciou toda a discussão.
Resumindo, rolou uma grande confusão. E claro, a polícia também entrou no meio do furdunço. E a notícia mais feliz vem agora... Não fui castigada!
Estranho, não?

- Estou indo até a casa do Pedro. É necessário saber de mais alguma coisa, senhorita guarda-costas?

Pedro é a única pessoa que me suporta-me há treze anos e não me acha estranha. Ele é meu único e melhor amigo. Já tive alguns outros quando menor, mas passageiros. Quero deixá-los  passado. Ás vezes, construir algumas amizades não genuínas,  machuca.
Nos entregamos demais para no final cairmos sem que eles segurem em nossas mãos.
Ter a si mesmo como melhor amigo, mesmo que em alguns mesmos seja árduo, é menos doído.

- Não vai ao colégio hoje?- Perguntou procurando algo em seu bolso.

- É... Bem... Houve um imprevisto e as aulas foram canceladas por um dia.- Menti. Eu havia sido expulsa por um dia por não ter lido minha redação... Não foi por não querer ler, eu até queria... Fiquei toda a madrugada realizado-a, mas é que todos aqueles olhos curiosos e julgadores, aquelas bocas prontas para serem abertas e liberar gargalhada porque eu... eu ainda tenho dificuldade, é mais forte que minha coragem... Não li e Sai da classe silenciosamente. Fui á diretoria e fui EXPULSA.
Todavia, deixei todas as torneiras dos banheiros , sejam eles, femininos e masculinos, abertas, como forma de vingamento.

- Você não mais me engana, Maryanne. Mas já é bem crescida, então, faz o que bem entender.- Dei de ombros - Pegue - ela me entregou uma quantia em dinheiro. - Quando voltar, compre fraldas e leite no armazém do Oliver, para Daniel. Se sobrar, fique com o troco.- Olhei-a com desdém.

"Se sobrar." Só uma palavra para resumi isso: Desaforo.

- Eu tenho mesmo que ir até lá?- Ela assentiu - Você sabe que odeio a filha dele, Karla!- Murmurei.

- Claro, que ideia a sua de pintar o cabelo da menina? - Perguntou ironicamente. Eu revirei os olhos.- Ainda mais de Verde! É obrigação dela não gostar de você.- fixou novamente seus olhos para a revista. Mostrei discretamente meu dedo do meio. - Ah, e pegue Daniel na creche para mim...

- O QUÊ?! - Quase engasguei-me com meu falar.- Ir até aquela creche?- Arregalei os olhos - Poupe-me, Karla! Já basta ver o rosto daquela...daquela... argh! - Suspirei - Ainda tenho que escutar de brinde, a voz nasal e insuportável daquelas mulheres irritantes que sempre dizem o quanto seus trabalhos são ruins? - Seus olhos estavam semicerrados - Não, Não e Não! Vá você!

- Então, o melhor que tenho a fazer, além de tirar o celular ou qualquer outro suporte onde há conexão com a internet e mesmo os que não tenha, além da televisão é claro, e das saídas repentinas e demoradas é te proibir, infelizmente, de ver Pedro. Não há nada mais justo que isso. - Deu de ombros. Dei um sorriso sarcástico.

- Você não se atreveria...- Arqueei a sobrancelha.

- Podemos começar agora caso queira... Posso ligar para a mãe de Pedro agora mesmo.- Piscou. Eu odeio quando ela faz isso.-
Você me conhece, Maryanne. Não duvide de minhas palavras. Jamais.

- Não duvide de minhas palavras. Jamais.- Imitei sua irritante voz - Eu te odeio, Karla! ODEIO-TE! - Bufei. Logo, retirei-me, batendo fortemente a porta.

- Não demore, Daniel irá estranhar e chorar. E você sabe, quando ele começa, nada o faz parar, senão, esses desenhos inúteis. E no meio da rua não tem esses desenhos inúteis...

- Vá se ferra, Karla! - Resmunguei.

***

- Esta é a foto de vocês dois juntos. Na quarta série.- Ela sorriu - A forma que ele te olha e sorrir logo em seguida é tão fofa.

- Saudade desse tempo.- Esbocei um sorriso. Estávamos no sofá da sala, vendo algumas fotografias de quando Pedro e eu éramos pequeno.

- O almoço estará pronto daqui a dez minutos, dona Andrea!- Gritou da cozinha, Augusta. Esta, cuida da casa.

- Tudo bem, Augusta. Ah, e traga suco!- Gritou de volta. - Vai ficar e almoçar conosco, Mary?- Eu assenti.

- Faz três dias que eu não vejo o Pedro. Aliás, onde ele está? Seu colégio acaba onze e vinte e já são quase meio dia e meia.

Pedro e eu estudamos em locais diferentes, por conta do curso técnico que ele resolveu fazer, já que ele está no fim do colegial e no próximo ano entra para a universidade. E no colégio em que eu estudo não há esse tal curso.
Até Implorei para Karla deixar-me ir para onde aquele colégio extraordinário, porém é do outro lado de Chicago, e eu sou desprovida de sorte e dinheiro, e teria que vender um rim para pagar a mensalidade e a passagem.

- Antes de sair ele me disse que se atrasaria porque iria em algum lugar. Só que eu não estou me lembrando. Seu falar foi quase inaudível. Eu ainda estava na cama.

- O suco, dona Andrea...- Manifestou-se Augusta, chegando até a sala.- Olá novamente, Mary!

- Olá novamente, Augusta! - Sorrir - Hum, suco de acerola, meu predileto!

- Será por que eu fiz? - Olhou-me sorrindo.

- Então, se lembrou, Andrea?- Perguntei dando um gole no suco.

- Aconteceu algo?- Indagou Augusta.

- Augusta, você se lembra onde Pedro disse que iria quando saiu para ir ao Colégio? Não consigo me lembrar.

- Ah, sim... Eu me lembro. Ele me avisou que chegaria um pouco mais tarde porque iria até a casa de uma amiga, acho que Erika. Não tenho certeza, mas ele iria fazer um trabalho.- Ela disse. Tremi por inteira.
Ele me deve explicações!

Desventuras De MaryanneOnde histórias criam vida. Descubra agora