O QUÊ?!

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- Diga você primeiro, Maryanne.- Olhou-me fixamente.

- Não devo-lhe explicação alguma a respeito do que acontece em minha serena vida, Karla.- Cruzei os braços.

- Mude seu palavreado quando trocar palavras comigo. Tenha um pouco mais de respeito, não sou sua mãe, sei muito bem disso, porém, sou madrastra. Com isso, deve-me sim, mesmo que não queira, explicações sobre sua nada serena vida, Maryanne. - Revidou.

- Não comece com seus argumentos inerentes. - Bufei - Eu apenas fui até a casa de Pedro, nada demais. Não faça um escândalo desnecessário.

- Nada demais? Você disse nada demais, Maryanne?- Indagou incrédula. Revirei os olhos.- Eu fiquei preocupada com você!

- Até parece que se preocupa comigo. - Joguei-me no sofá. - Pare de agir de uma forma falsa.

- Não estou agindo de forma falsa. É mesmo a verdade. Ligaram do meu trabalho dizendo que Daniel ainda estava na creche! Isso foi ás oito da noite, Maryanne. Quando fui buscá-lo já se passava das nove! Eu confiei em você. Confiei! Daí, me dá um chá de sumiço.

- Então se preocupou com Daniel, Não comigo.

- Pensei que estava em casa. Mas cheguei e não deparei-me com você. Desesperei-me. Pode parecer que não ou achar que não, mas você é importante para mim, garota.

- Você também.- Olhei-a com sarcasmo. Ela revirou os olhos.- Desculpe-me, não foi por querer, está bem? Estava tarde e...e não quis voltar para casa. Somente.

- Mas poderia ter ligado, Maryanne! Pedido a Pedro, a Augusta, não sei! Mas poderia...

- Desculpe, Karla. Errei, confesso. Estou calçando a cara e pedindo desculpas, não é suficiente?

Não poderia dizer que bebi. Ou melhor, exagerei na dose, porque além de encher o saco, iria dar-me uma palestra de como o álcool é prejudicial e blá-blá-blá...

- Um pedido de desculpas não interfere em nada, Maryanne. Não quero que me peça desculpas, quero que mude seus atos. Que cresça e floresça com responsabilidade.

- Pronto. Começou. Irá mesmo querer levar essa pequena discussão a diante? Torná-la maior?

- Não, Maryanne, não.- Passou suas mãos pelos seus fios de cabelos.- Quando irá entender? Quando? - Sussurrou.- Cadê o Leite e a Frauda que te pedir?- Perguntou - Não vai me dizer que se esqueceu, também... - Arqueou uma de suas sobrancelhas - Além disso, não respondeu-me, por que está com esse pijama?

- Bem, não necessariamente esqueci, apenas não trouxe o que pediu porque a grana está no bolso da minha calça, que obviamente não está comigo. Não pergunte-me o porquê pois não irei saber te responder.

- Ótima desculpa... continue.

- Peguei o pijama emprestado com a mãe do Pedro. Sim, desta vez eu me esqueci de algo. No caso, foi tirá-lo, porque aconteceu um grande imprevisto que eu não lembro-me, apenas isso.

Agora também não é uma boa hora para dizer que "torrei" todo o seu dinheiro com porcarias desnecessárias...

- Você apenas me decepciona, Maryanne. - Suspirou - Deveria, talvez, seguir os passos de Austin. Quem sabe assim, mudaria em algo.

- Outra vez...- Murmurei.

 Austin é filho de Katia, irmã de Karla. Ou seja, sobrinho de Karla. E Daniel é primo dele, filho de Keila e também sobrinho de Karla. Irmã das outras duas.
As irmãs, "K."
Nos conhecemos há muitos anos. Desde de criança. Crescemos juntos. Nós odiamos juntos. Porém ele retornou para Orlando com uma treze anos de idade sem dizer-nos o porquê ou dizer-me o porquê. Entretanto, antes mesmo de ir, nosso relacionamento havia esfriado. Permaneceu por lá uns bons tempos e retornou agora...?

- Prefiro não intervir, tia.- Manifestou-se.

- "Prefiro não intervir, tia."- Imitei sua voz - É o básico que você deve fazer, Austin. Aproveita e ensina isso para Karla. Ela é leiga nesse assunto. Agora diga logo, Karla. Por que ele está aqui novamente?

- É um prazer revê-la, Mary.- Sorriu.

- Para mim não é. - Olhei-o.

- Maryanne, pare, por favor! Onde estão os modos que te ensinei! Austin é seu primo, embora não tenham o mesmo sangue, mas são. Respeite-o.

- "Primos" também brigam.

- Desde quando tive a ideia de voltar, já sabia de tudo isso, Karla. Não se preocupe, não ligo. Conheço Maryanne muito bem.- Ele disse.

- Não conhece não! Mudei, está bem? Nao sou mais aquela! E você também! E-Está mais...mais... Idiota!

- Ou não? -Olhou-me. Corei.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh! Agora sei porque o odeio!

- Idiota, idiota, idiota! -Mostrei o dedo do meio.

- Maryanne! - Repreendeu-me Karla.

- Ele terá que ficar aqui? - Perguntei.

- Sim. Ficará conosco durante alguns meses. Seu colégio está em greve, e para não prejudicar ainda mais seus estudos, irá terminar o restante por aqui.

- A-Alguns meses? Nós dois juntos? S-Sob um mesmo teto? - Gaguejei. Ele olhava-me seriamente.

- Não vejo problema.- Ela disse.

- Mas eu sim. Poupe-me de sua astúcia em pensar que tem algum direito nesta casa...- Sorrir com sarcasmo.- Você não tem a minha permissão e muito menos a do meu pai...

- Está enganada, Maryanne... - Olhei-a com os olhos semicerrados. - Agora pare com suas palavras incoerentes e aceite, ou então, terá que aceitar do mesmo modo. Aja como uma garota de sua idade e aprenda a lidar com as desventuras da vida.

- Não quero ouvir suas palavras imundas! Isso é um atrevimento de sua parte. Deveria ao menos, comunicar-me antes! Assim, mudaria-me desta casa um mês antes! Você não pensa em mim e até mesmo em minha liberdade.

- Não comece com seus dramas! Com um tempo irá acostumar com Austin... Como se acostumou.

- Não, não me acostumei. Quando comecei a aprender a lidar com sua presença, ele partiu sem ao menos dar-me explicação.- Olhei-o.

- Você não me deu tempo. Não quis me escutar.- Ele manifestou-se.

- Você quem não me procurou.-Ei disse.

- Te procurei, sim, Maryanne. Te esperei um dia inteiro naquela bosque, entretanto, não veio.

- Não fui porque você mentia para mim! Não me dizia a verdade.

- Eu sempre te disse a verdade. Você, porém, não acreditava.

- Porque suas palavras não eram autênticas! Quer saber? Já chega por hoje! Uma dose de vocês durante alguns minutos é pior do que vodka pura!- Meus passos largos guiaram-me até a escada.

- Maryanne,pare de ser tão cabeça dura. Seja um pouco mais gentil! - Disse Karla.

- Não há forma de ser gentil com pessoas que tomaram sua confiança.

- Então acorde um pouco mais cedo, segunda. Você terá de ir ao Colégio com o Austin. Veja que fantástico​, uma compainha! Não irá se atrasar mais. - Meus olhos arregalaram-se.

- O Quê? - Indaguei incrédula.

Desventuras De MaryanneWhere stories live. Discover now