— Pedro, acabou. Pega suas coisas e some daqui, acabou. — Comecei a chorar de novo sentindo a dor vir novamente. — Eu quero o divórcio, nada do que disser ou fizer vai fazer eu confiar em você novamente.

Ele me encarou chorando também. Eu queria tanto poder abraçar ele, esquecer tudo e fingir que nada tinha acontecido.

Mas não dava. Eu ainda não tinha pensado na gravidade da situação, e eu sabia que quando pensasse doeria, doeria talvez mais do que eu fosse capaz de suportar.

Ele pegou a mala do chão. Doeu ver a desistência da sua parte, mas ia ser melhor assim, não adiantava insistir em algo que não ia acontecer.

As lágrimas escorriam no seu rosto e ele limpou antes de me olhar de novo.

— Sabe... no meio de toda essa merda, eu só... — Engoli em seco limpando as lágrimas. — queria saber o por que?

— Eu... não tenho resposta pra sua pergunta. — Ele fechou os olhos e assenti. — Eu te amo Maria Júlia, eu sempre te amei e isso não vai mudar. Nunca. — O Pedro falou tentando se aproximar de mim e me afastei.

— Não... porque não se destrói quem ama. — Abracei meu próprio corpo e virei as costas pra ele.

Ouvi seus passos no corredor, e depois na escada. Olhei ele entrando no carro sob a chuva forte, e quando olhou pra mim pela última vez.

Ele ficou parado na porta do carro, como se precisasse de um impulso pra ir embora, afastei a cortina pra não ter que ver aquilo.

Aquele dia ficou marcado em mim pra sempre, eu jamais iria esquecer o maldito dia em que tudo deu errado na minha vida.

Alguns minutos depois, quando a ficha caiu de que tudo acabou... de que todas as lembranças não eram mais felizes e que eu estava sozinha nisso, a dor me atingiu tão forte, que eu não fui capaz de lutar contra.

Me deixei vencer, caí no chão chorando e sentindo meu coração agonizar no peito.

Acabou.

Tudo que construímos durante anos acabou em minutos, por um erro dele que não deveria existir, nunca.

As perguntas eram muitas, todas sem nenhuma resposta, "por quanto tempo isso tava acontecendo?", "a culpa foi minha?", "o que eu vou fazer agora?"...

Nunca senti isso na vida, nunca precisei de nenhuma decepção e isso fazia com que a dor ficasse mais insuportável ainda.

Eu amo o Pedro, nunca duvidei disso, mas só agora eu percebi o quanto.

Ele tinha ido embora, pra sempre, eu só sabia que não queria ver ele nunca mais na vida, só queria sofrer tudo que tinha pra sofrer sem ver que ele seguiu a vida com a amantezinha de merda.

Passei a tarde toda chorando. Não sabia quantas horas tinha ficado ali. Só consegui me levantar depois de sentir uma dor forte na barriga, pareciam que estavam enfiando uma faca em mim.

Meus olhos estavam inchados e minha boca seca, acho que se me mexesse muito vomitaria.

Olhei no celular, varias chamadas perdidas... minha visão se embaralhou novamente quando a dor piorou ainda mais. Senti algo quente escorrer pela minha perna e olhei pra baixo.

Uma linha fina de sangue escorria pela minha perna. Senti meu corpo fraquejar e a dor aumentar ainda mais.

Peguei o celular já desesperada, eu não sabia o que era aquilo, mas já imaginava, eu só podia estar... arfei de novo com a dor sem conseguir pensar em nada.

O primeiro nome da lista era o Pedro, ignorei e liguei pra mamãe.

— Filha? Você está bem? O Pedro me ligou e...

— Mãe... eu não sei o que tá acontecendo, eu to sangrando... por favor vem pra cá...

Foi o suficiente pra minha visão ficar turva e minhas pernas fraquejarem, tudo ficou escuro.

— Merda... ele não atende a droga do celular. Você sabia o que estava acontecendo? — Acordei com uma dor de cabeça do inferno e vi a silhueta embaçada da mamãe e de outra mulher.

— Não... não sei, eles estavam bem até ontem. Só estavam brigando demais ultimamente e... — Reconheci a voz da Isa e consegui enxergar as duas nitidamente.

Meu braço estava com soro e eu estava em um quarto de hospital.

— O que tá acontecendo? — Perguntei e as duas olharam pra mim sem graça.

— Ah meu amor, que bom que você acordou! Estávamos preocupadas. — Mamãe pegou na minha mão e sorri.

Vi ela respirando fundo, eu sabia que a Isabel iria abrir a boca uma hora ou outra então só esperei.

— Maju... você... hmmmm, você tá grávida. Descobrimos antes que você mas não faz mal. Ou você já sabia? — Ela falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Neguei sem entender. — Você quase perdeu seu bebê porque se esforçou demais, mas tá tudo bem agora, só vai precisar ficar de repouso por alguns dias.

— Você disse grávida? — Perguntei sem entender nada e ela assentiu.

— Sim filha, você tá esperando um bebê. Tentamos falar com o Pedro mas... ele não atende as ligações. — Mamãe falou sorrindo e me lembrei de toda aquela merda.

— Não... o Pedro não. Por favor, não fala nada pra ele sobre isso, sobre o bebê, nem nada disso. — Pedi quase implorando e senti uma dorzinha na barriga.

— O que?! Você tá louca? Ele precisa saber Maria Júlia. — Isabel falou fazendo uma careta e senti as lágrimas quentes descendo.

— Por favor... é meu filho, o Pedro não pode saber disso... por favor, por favor. — Implorei e mesmo sem entender elas me ouviram. — Eu... não vou aguentar se ele estiver por perto.

Contei tudo que aconteceu pra elas, só parei devido a dor que comecei a sentir, e não sei se por conta da empatia que sentiram por mim, ou por realmente concordarem, – o que é pouco provável – mas elas aceitaram minha decisão de não contar nada pro Pedro sobre a gravidez.

Gravidez essa que nem eu tinha me dado conta ainda, eu tinha um bebê comigo, uma lembrança do Pedro, pra sempre.

Mesmo sem saber se isso seria bom ou ruim, vi isso como um recomeço, uma forma de me limpar das lembranças que eu tinha.

O melhor agora era manter ele o mais longe possível, porque apesar de amá-lo, seria mil vezes mais difícil superar tudo isso com ele por perto.

Decidimos manter esse bebê em segredo, e não sei porque isso funcionou tão bem durante os primeiros cinco anos...

Eu só não sabia que essa seria a pior decisão da minha vida.

A nossa vez Where stories live. Discover now