Prazer, sou Dylan...

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- Sim... o padrasto que preencheu o vazio de um pai. Sou filho da grande paixão de sua vida, segundo ele. Eliza. Marcus já te disse algo a respeito?

- Sei que já ouvi esse nome, mas não consigo lembrar! Mas tem algo de errado, porque o amor de sua vida é Karla, minha madrasta. É estranho e intimidador... Minha cabeça está doendo e por que raios meu braço está engessado? - Surtei mentalmente por alguns segundos. - O que está havendo? O que estou fazendo aqui, o que vocês querem comigo?

- Acalme-se...

- Diga-me logo! - Murmurei.

- Apenas se sa...- O interrompi.

- Não irei sair daqui! Não insista, por favor. Se estivesse em meu lugar reagiria da mesma forma...

- Tudo bem.- Suspirou - Vamos por partes... Não se recorda de nada que aconteceu?

- O que aconteceu?

- Acho que a resposta é não....

- Você ficou em coma durante vinte e sete dias...- Interrompi-lo.

- Mas por quê?

- Houve um acidente. Um drástico acidente. - Suspirou - Realmente não se lembra do ocorrido?

- N-Não! E-Eu não lembro de quase nada... De onde venho, de meu sobrenome, de minha infância, de minha idade, de grande parte da minha vida, de absolutamente nada! Restam-me poucas memórias do meu pai e de Karla... Lembro-me também, porém pouco, através de fotográficas, de uma mulher cujo sorriso é lindo e que porventura talvez, há semelhanças comigo! Ah, e minha casa. Isso, uma casa com um venusto jardim. Meu refúgio. Apenas isso. Céus, quem sou? Isso é tão perturbador!

- Já é um bom começo... Não se apavore, irei te explicar tudo.

- Irei... Irei tentar.

- Pelo que soube, tudo aconteceu quando estava saindo de Chicago, sua cidade natal, agora já sabe de onde é, e estava de viagem para Orlando, onde estamos agora. Era noite e estava um temporal. Com isso, como faziam a viagem de carro, houve um choque entre o veículo de seu pai e um outro cujas pessoa são desconhecidas. Então o choque foi tamanho e você acabou batendo a cabeça na lataria dando consequência a uma perda de memória.

- E por que eu estava de partida para cá? Onde está Karla? Karla é minha madrasta, onde está a minha mãe?

- Desculpe, mas não não sei respondê-la.

Suspirei desanimadamente. Não há caos maior.

- E como ele está?

- Bem, ele ainda está internado. Seu estado é grave. Não há previsões de melhoras. Porém, prometi a ele, enquanto ainda estava compreendendo algo, mesmo fraco, que se você melhorasse antes que ele, iria cuidar de você. Lembro-me perfeitamente. Sua boca estava seca, sua pele demasiadamente pálida. Essas foram as únicas palavras que ele disse antes de ir para o centro cirúrgico: "Filho, cuide dela para mim, não a deixe morrer, eu te imploro, não a deixe morrer! " Sua voz rouca soa em minha memória como se ele estivesse ao meu lado.

Suas palavras pareciam genuínas.

- Deixe-me vê-lo, por favor! Não quero esquecer seu rosto...

- Não agora. Você ainda está debilitada. Além disso, visitas não foram liberadas. Ele está na UTI.- Ficou em silêncio por alguns segundos. - Era para você está repousando.

- Não posso deixá-lo sozinho.

- Marcus jamais ficará sozinho, minha mãe, Eliza, está junto a ele. Assim como você, não estará sozinha em sua ausência, porque terá a mim. Será meu papel
guiá-la e protegê-la, porque agora será um momento complicado da sua vida. Os métodos de recuperação serão árduos e duradouros. Contudo, seu novo lar é aqui, Maryanne. Até tudo se ajustar. Terá amor e abraços em todos os momentos. Será uma experiência tanto para nós quanto para você, acredito. Durante esses anos, nunca residimos com uma garota. Você ficará bem, conosco. - Imaginei um sorriso -

- Está bem...- Disse num tom quase inaudível. Eu parecia está num despenhadeiro de aflições. O que serei, o que fui?

- Mudando de assunto...

- C-Cigana... - Disse a mim mesma em sussurro. - É mesmo a verdade... E-Ela...

- ...Gostou do quarto? - Indagou.

- É incrível...- Limpei uma lágrima que caiu dos meus olhos.

- Saia para comer algo. Você precisa se alimentar. Mais tarde iremos ao médico. Os tratamentos irão começar.

É estranho saber que conheceu pessoas, e que talvez, possa vê-las caminhando pensativas sobre uma rua deserta e não poder cumprimentá-las, porque não as reconhece.
Não há palavras para manifestar-se ao saber que perdeu todas as memórias de sua vida...

Olhar-se no espelho e não se lembrar de tudo que viveu, dos motivos de seus risos bobos, de suas manias, medos, planos, paixões... Não reconhecer a si próprio é assustador! É como se fôssemos estranhos para nós mesmos. É como viver neste mundo e não poder respirar. É como está em um mar e não saber nadar. Você falece na medida em que a água te afunda.
É algo embaraçoso de se compreender.

Eu nasci outra vez aos... aos... Eu não sei minha idade! Eu não sei quem sou eu!

- Ainda está aí? - Perguntou tirando-me de meu pequeno devaneio.

- E-Estou... - Levantei. Logo abrir a porta, não por completo. Não posso confiar em alguém que mal conheço. Mesmo que suas palavras me passem confiança. Olhei timidamente e ao mesmo tempo, amedrontada para ele, que olhava-me fixamente. Logo desviei meu olhar.

- Prazer, sou Dylan... - Sorriu - Estava chorando? - Perguntou. Balancei negativamente a cabeça - Seus olhos vermelhos não mentem. Diga, em quê estava pensando naqueles dois minutos de silêncio?

- Em nada...- Sussurrei. -
M-Minha cabeça... - Fechei os olhos. - E-Estou tonta...

- Está tudo bem? Maryanne... Ei!

Meus olhos fecharam-se em questão de segundos. Pareciam está colados... Não enxergava nada. A sensação de tontura sussurrava em meus ouvidos. Minha fraqueza era tamanha, que não conseguia conter-me em pé. O chão, em meio aos burburinhos da tontura, chamava-me para ficar sobre ele, para inteiramente dele. Foi então que cedi e fui ao seu encontro.

Desventuras De MaryanneOnde histórias criam vida. Descubra agora