Após a batalha com o dragão, o rei estava completamente transtornado. Amava demais sua filha e, num ato desesperado, chamou à sua presença os dois melhores competidores daquele dia. Decidiu que tentaria apelar para o que havia de mais humano neles. Apesar de ser o rei e poder ordenar que cumprissem suas ordens, naquele instante era um pai desolado com o rapto da amada filha.
Entrou no palácio e partiu em direção à sala do trono. Chamou os cavaleiros para uma conversa franca. Pensou e avaliou muito bem as palavras que usaria. Poderia colocar a princesa como a missão final do torneio, mas não poderia arriscar que eles saíssem em busca de sua filha em espírito de competição. Ele queria que colaborassem entre si, e se trabalhassem em equipe, como quando os viu escalando a torre, eles teriam mais chances de trazer Kilayra de volta com vida. Percebeu o poder que a sobrinha de Petrius possuía e resolveu que também pediria ao cunhado que a deixasse sair nessa missão. Não suportava a ideia de perder a filha. Ele olhou a porta fechada da sala do trono, respirou e entrou. Seu olhar era de emergência e dor. Sentou na cadeira que era sua por direito, olhou para o seu lado esquerdo e viu a da filha vazia. Por quanto tempo ela permaneceria assim, sem a encantadora presença da moça? Sara entrou com os olhos úmidos. Não disse uma palavra e sentou-se ao seu lado. Sua expressão preocupada já bastava. Ele sequer conseguia encará-la. Os dois entraram no ambiente após a rainha, e o rei começou em tom melancólico.
— Meus jovens, espero que compreendam que agora nada mais sou além de um pai atormentado. Amo muito minha filha. Quero que façamos um trato. Sei que já conhecem a lenda. Eles precisam da filha dos dois mundos para concluir a magia e se libertarem de sua clausura — O rei tinha consciência da origem da rainha e achava possível que ela fosse descendente dos povos da Terra de uma forma direta.
— Sabemos, majestade, mas não se preocupe, iremos trazê-la de volta — disse o Cavaleiro Negro.
— Os monstros escolheram justamente a minha criança, não sei o que farão. Mas preciso que os impeçam. Entendem o que digo? Precisam trazê-la de volta para casa. Darei a vocês o que quiserem, o que mais desejarem. Realizarei seus sonhos. Tesouros, terras, títulos e até mesmo a mão de Kilayra.
— O quê? — Ela olhava incrédula pela promessa que o pai acabara de assumir.
— Bom, já que colocou nestes termos, quando partiremos? — disse Sharl.
— Sem a intenção de ser atrevido, não acha absurdo oferecer a mão de sua filha a dois desconhecidos?
— Não serão mais desconhecidos após passarem pelo teste de magia, saberemos o quão honrado é cada um de vocês.
— Por mim está ótimo, quando partimos?
— Sharl, não seja insolente! Estamos falando da filha dele — disse baixo o suficiente para que somente ele escutasse.
— Qualquer coisa que desejarem eu lhes darei! Peçam e será seu. Minha filha é o meu maior tesouro. Apenas tragam-na de volta para casa. E se ainda assim o desejarem, serão meus chefes da guarda, o que por si só é uma posição de grande honra.
— Por mim está ótimo, já disse.
— Não! — Era óbvio que isso não a agradava nem um pouco. Seu pai acabou de tirar-lhe o direito de escolher seu futuro marido.
— Como assim, não? — perguntou confuso o rei.
— Mas ela... é a sua filha, como pode condená-la a casar-se com um total desconhecido? — O sangue de Kilayra fervia nas veias, estava prestes a terminar com aquela farsa, mas então, selaria o destino da amiga. O rei não designaria seus melhores guerreiros em busca de uma camponesa.
Lucas continuava.
— Está questionando minha decisão, cavaleiro? Não quer casar-se com a princesa.
— Se ele não quiser, eu quero — disse Sharl sem pestanejar.
— Não, meu rei, eu não teria tal pretensão — "Nem tamanho atrevimento", pensava. — Não questiono sua sabedoria. Mas só posso insistir que mal nos conhece. Seria justo que sua filha tivesse o poder de decisão.
— Entendo sua preocupação... Eu farei o seguinte, vocês voltam com ela e deixo que escolha entre os dois nobres cavaleiros que a salvaram. Mas que fique claro que os submeterei ao teste final do torneio, com magia. Que dirá sobre a suas intenções e lealdade ao rei e ao povo de Montherran. Concordam com isso?
— Perfeitamente, majestade.
— Entendi — dando-se por vencida, em detrimento da necessidade de sair em auxílio à amiga que só estava em apuros por sua causa.
— Vou respeitar seu desejo por não revelar o seu nome, sei que não deve possuir um brasão de família — pensativo. — Mas entenda, quando voltarem com a princesa, se ela quiser escolhê-lo como esposo, não farei objeção por sua origem, ou a falta dela.
— Por enquanto, temos um acordo. Garanto que tudo fará mais sentido em breve — Melhor que o pai pensasse que essa era a razão por manter sua identidade sigilosa. Antes isso, a ser obrigada a tirar a máscara.
— Algum outro pedido?
— Eu gostaria de deixar uma carta para a princesa a ser lida quando regressarmos. Mas minha única exigência é que apenas seja lida no meu retorno. Caso eu não volte a este palácio, que essa carta seja destruída sem ser lida. E quando voltar, quero apenas a honra em servi-lo como chefe da guarda real e meu título de metista reconhecido.
— Isso eu posso garantir, Cavaleiro! Acredito que assim, concluo nossa conversa. Tragam-na de volta e cumpro a minha parte no acordo — Olhou para um jovem servo que estava um tanto afastado atrás dos tronos e gesticulou para trazer pena e papel. Admirou-se por um jovem de origem simples ser alfabetizado. O próprio rei selou e ordenou que fosse guardado na sala do tesouro. — Não posso pedir que partam imediatamente, apesar de ser o meu desejo.
— Podemos ir — afirmou Sharl, sério.
— Sei que tiveram um dia difícil e não seria prudente sair no meio da noite. Vou deixá-los dormir hoje no palácio e quero que se alimentem bem. Logo pela manhã, fornecerei recursos, provimentos e cavalos. Partirão com o raiar do dia.
Neste instante, Joice foi anunciada. Entrava no ambiente e sentiu uma energia muito estranha emanando do cavaleiro que usava a máscara. Era uma energia mágica. Dirigiu-se ao rei com todo o respeito e pediu a palavra.
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A Senhora do Caos - A Viajante e o Dragão
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