Capítulo 13

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Durante um tempo passeou com Esther pelos corredores, tentando memorizar os caminhos para os principais lugares do palácio. O que mais a agradou descobrir, foi aquele que ligava o seu quarto ao do rei. Sentia uma saudade tão forte de seu pai que a presença daquele homem idêntico era agradável ao extremo. Às vezes tinha certeza que seu peito explodiria por conviver com o afastamento de tantas pessoas amadas.

Olhou o anel que Rodrigo lhe dera e isso o trazia para mais perto. Ouviu seu coração bater tantas vezes, deitada em seu peito nos piqueniques que faziam. Ocasionalmente segurava o medalhão de seu pai espremendo-o com as mãos. Não sentia mais o choque que vinha do objeto naquele dia na escola. A saudade de Pedro e sua mãe, de seu namorado e da Vivi, que era a fonte de maior angústia. O saudosismo a inundava ao remeter sua mente para o pátio do colégio, onde passou bons momentos e onde era apenas uma adolescente comum. O que antes era extraordinariamente ordinário para a moça, parecia distante, de uma outra vida. Agora tinha todos que amava, afastados dela, seu pai desaparecido e sua mãe assassinada a sangue frio. Tudo isso causado por quem ela jamais fizera mal algum. Por que a odiavam? Por que lhe infringir mal? O desejo de seu coração se realizaria, vingar a morte de sua mãe, e os autores do ato macabro pagariam com suas vidas. Enquanto seu peito explodia com tantas lembranças e sentimentos, seguia Esther até o quarto do mago. A serva ia explicando outros caminhos pelos corredores do palácio. Conseguiu memorizar poucos deles, pois sua atenção estava presa em suas amarguras. Mas os que realmente importavam, ela lembraria: o quarto do rei, o quarto do mago e a biblioteca real. O caminho até o quarto de Esther, do Jonas e o da cozinha, foram-lhe ensinados após muita insistência da princesa. Pararam na frente da porta do quarto de Erycles.

— Vamos? — convidou Joice.

— Não posso, princesa. Não possuo permissão para entrar nos aposentos do Mago Real.

— Vai me deixar sozinha, Esther?

— Estarei aguardando que saia, aqui do lado fora.

— Não, não é preciso, sei voltar para o meu quarto. Pode cuidar de suas coisas essa tarde.

— Obrigada alteza! Então, posso ir até a vila visitar o meu pai? Prometo que estarei de volta antes do jantar para ajudá-la a se vestir.

— Falou tudo! Isso é necessário mesmo, me vestir é um grande desafio! Será que o Mago Real faria um feitiço para as roupas entrarem em mim sozinhas? — brincou.

— Acredito que sim, princesa, mas então, eu teria que voltar para a cozinha!

— Então deixa isso quieto! Vá Esther, visite o seu pai e volte antes do jantar! — As duas sorriram e Joice entrou.

O quarto era escuro e cheio de trecos e cacarecos. Viu poções. Cada uma delas em seu devido frasco e em sua prateleira. Aparentemente com uma ordem totalmente desordenada que só o próprio Erycles poderia adivinhar. Um lugar misterioso e gelado, estava realmente frio ali dentro. O dia estava quente até agora. O que será que aconteceu? Olhou para o lado e viu o mago saltando para o ambiente ao encontro de Joice.

— Desculpe, alteza, precisava resolver alguns assuntos com o rei e me atrasei para o nosso compromisso, mas podemos começar agora.

— Senhor Erycles, o que foi o frio que senti agora pouco? Posso jurar que vi gelo e logo em seguida desapareceu do nada.

— Toda magia executada deixa um rastro. Esse rastro pode ser identificado por outros seres com poderes mágicos, dependendo do nível da magia executada, e do nível de quem a observou. Magos, bruxos e feiticeiras, dentro dos respectivos níveis que possuem, quando presenciam um feitiço, sentem e veem de forma peculiar. A sua deve ser com o frio e o gelo.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now