Capítulo 5

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Ao acordar, souberam da notícia de sua alta hospitalar. Estava tudo bem com ela. Foram pra casa e as visitas não paravam de chegar. Por volta das duas da tarde, Vivi chegou, acompanhada de Rodrigo.

"Eles realmente assumiram o romance", pensava Joice.

— Olá, nossa heroína! — disse Vivi.

— Oi gente — respondeu sem entusiasmo.

— Viemos te agradecer.

— Não foi nada! Faria o mesmo por qualquer um — pensava em completar com: "qualquer um... Casal apaixonado". — Não me devem nada por isso. — Calou-se. "Não precisam me oferecer nenhuma honra. Não quero ser a madrinha de vocês! Obrigada, mas não mesmo!", continuava sem poder evitar a ironia abundante em seus pensamentos, guardou essas partes em sua mente.

— Como foi que você fez? Como nos salvou? — Rodrigo interessava-se.

— Com o extintor.

Seria difícil explicar a história real. Se ela apenas soubesse o que aconteceu de verdade já ajudaria bastante. Gostaria de tirar de sua memória a ideia fixa de que não fez nada. Lembrava apenas que as suas mãos tremeram e doeram intensamente. Em seguida, tudo se resolveu automaticamente. Portanto melhor continuar com a dedução de sua mãe. Só não entendeu ao certo o motivo daquela invenção sobre extintores. Ela sequer havia perguntado sua versão dos fatos, apenas definiu o que houve e espalhou por ai. Nota mental: questionar à mãe sobre isso. Por enquanto, era melhor que ficasse assim, já que não saberia explicar o que realmente houve.

— Mas estava vazio — insistiu o rapaz.

— Eu trouxe um cheio do corredor. Caso não saibam, estávamos indo para o pátio, onde era mais seguro. Claro que isso não incluía os casais apaixonados, que ficaram escondidos nas salas de aula. Bom, mas deviam ter um ótimo motivo para estarem lá fazendo sei lá o quê.

— Como é Joice? — Vivi indignada.

— Ué, o que houve? O que a surpreende? Quando me contaria tudo? Quando? Assim que alugássemos uma república em Campinas, juntas? — Existia tanta mágoa quanto raiva naquela acusação.

— Joice, você acha que eu e o Rodrigo... Acha mesmo que eu faria isso? Nem se ele fosse o último garoto da Terra!

— Opa! Ando tão mal cotado assim?

— Quieto! — disseram as duas em coro e olhando pra ele no mesmo momento.

— Como pôde? O que pensa de mim Joice? Que sou a pior amiga do mundo? Acha que eu a trairia dessa forma? — estava quase chorando.

— Ah, então estamos nos últimas semanas de aula, e você procura ficar sozinha com o cara mais lindo da escola, na sala de culinária. Claro que em um local aonde ninguém mais iria num dia como este! E ainda quer que eu acredite que estavam, sei lá, jogando xadrez?

— Por acaso com "o cara mais lindo da escola" se refere a mim?

— Quieto! — esbravejaram em coro.

— Escuta aqui Joice! Acha que por ter salvado a minha vida eu não vou te falar umas verdades? Está muito enganada! Saiba que eu te adoro! E nada nesse mundo me faria ficar com o cara que você ama. Eu sou sua "melhor" amiga, esqueceu? Fico felicíssima ao perceber o grau de confiança que deposita em mim. Acha que eu seria hipócrita ao te trair dessa forma tão... tão... desalmada? Então não me conhece como eu pensava. Eu jamais te trairia, ainda que fosse por algo bem menos importante. Se um dia eu me apaixonasse pelo mesmo cara que você, pode ter uma certeza, minha grande e melhor amiga, jamais te contaria ou cogitaria isso. E você sabe a razão? Não! Imagino que não saiba. Então vou dizer, pra que não se sentisse mal! Não se incomodasse com o fato de me fazer infeliz vivendo a 's u a' felicidade! E eu, Joice, viveria para ver vocês dois juntos e bem! Você não é minha amiga como eu pensei! Muito obrigada por ter me tirado da sala em chamas minha grandessíssima melhor amiga, Joice Elora! Ah, isso é pra você! — Jogou uma caixa de bombons na cama da moça, virou as costas e abriu a porta num supetão. — Passe bem! — Saiu batendo a porta.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now