Capítulo 27

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O dia amanheceu em Montherran, mais belo que todos e, como todos os dias, se superando. Kilayra amava sua terra natal, amava profundamente seu povo. Colocou a roupa, tomou seu café. Treinou com Jimmy e lá se foi metade da manhã. Tinha agora dezoito anos, mas nada parecia mudado. Após terminar seus afazeres matinais, pegou seu cavalo e foi passear deixando atrás de si uma enorme nuvem de poeira. Ritshy estava à sua espera. As duas cavalgavam rapidamente na direção da casa de Monroy.

— Já pensou sobre o assunto, Kilayra?

— E como! Mas estou longe de encontrar uma saída. Por acaso não quer ser princesa por mim alguns dias? — Riram.

— Gostaria muito, majestade. Só que ando muito cheia de coisas pra fazer. Não teria condições, nessa minha rotina tão assoberbada, de assumir os poucos afazeres de uma princesa. Passar o dia sem ocupações, a não ser pentear meus lindos cabelos dourados — As duas riram com gosto.

— Toma-me assim, tão em baixa conta? Isso mesmo! Fique aí zoando de mim.

— Zoando? O que significa essa palavra?

— Esqueça! — Como poderia explicar a Ritshy sobre o estranho vocabulário daquelas pessoas do mundo de Joice e Monroy?

— Estamos chegando. Parece-me que Monroy não está em casa — A jovem loira fazia menção a dar meia volta com o cavalo.

— Sempre é assim. Magda! — gritou Kilayra.

Adentraram a grande gruta e avançavam cautelosamente. Viam apetrechos horríveis. Medonhas teias de aranha e os mais feiosos insetos presos. Pior, uns ainda soltos a perturbar quem passava. Certamente aqueles monstrinhos serviam a algum dos feitiços daquela pessoa insana. Ritshy só podia definir tudo com uma única palavra: pavoroso. Kilayra conversava animadamente com Magda. Como podia sentir-se confortável naquele lugar horrendo? As duas falavam animadamente e de vez em quando voltavam o rabo do olho em sua direção. A moça apenas observava o local. Não conseguiu ouvir muito, estava ocupada olhando o besouro gigante, de uns cinco centímetros, a balançar na teia sobre o caldeirão de Monroy, tentando adivinhar o momento exato que o veria despencar de lá. Não aconteceu. Mas ao ouvir falarem seu nome voltou à atenção para a conversa que de tão animada, indignava.

— Ritshy, o que acha? — perguntou a amiga.

— Hã, eu... Desculpe — queria dizer sobre o besouro e desistiu.

— Kilayra, não acha que se precipitou em trazê-la agora? Acho que deveria ter me consultado antes de vir até aqui acompanhada — disse de forma ríspida a bruxa Magda Monroy.

— É a amiga de que sempre falo.

— Confia nela? — Magda encarou Ritshy e com seus olhos claros, percorreu a alma da moça fazendo que gelasse.

— Muito — respondeu sem hesitar.

— Sabe, garota, eu não gosto de estranhos... — dirigiu-se a Ritshy.

— Olha aqui Bruxa, quero que fique claro que eu não queria vir. Estou aqui para satisfazer as vontades de minha amiga aqui. Ela insistiu muito pra que eu viesse. E se isso a tranquiliza, saiba que não tenho a menor intenção de voltar nesta caverna. Não é agradável essa ideia de ficar aqui conversando com uma feiticeira, como se fossemos damas da corte tomando chá à espera de apetitosos biscoitinhos. Muito embora aquele besouro não me pareça apetitoso! E ele cairá no seu caldeirão cheio... sei lá do que!

Magda sorriu. Ela e a princesa olharam quase que no mesmo instante para a teia pendurada logo acima do caldeirão. A explosão de risada foi inevitável.

— Não sabia que não gostava de insetos Ritshy — disse Kilayra recuperando o fôlego. — Desculpe-me, deveria ter avisado que em uma caverna existem muitos deles.

— Não gosto mesmo! Será que podemos saber o real motivo para que eu precise estar aqui e irmos logo embora deste lugar?

Kilayra e Magda estranharam a explosão da moça que sentia-se, agora, um pouco envergonhada. Mas o fato é que com o decorrer da conversa animada das duas, havia tido exatamente a impressão que descrevera. Um pavor tomou conta dela. Mesmo sabendo que Magda Monroy não era mulher de servir chá e biscoitinhos.

— Bem, queiram me desculpar, mas é que... Não sei o que me deu... Acho que fiquei um pouco... — falou reticente, pois queria dizer horrorizada —...amedrontada com todas essas coisas — queria dizer bichos nojentos.

—Tudo bem Ritshy. É só a primeira impressão. Depois a gente se acostuma.

— Acostumar, eu? — Só a ideia já lhe causava arrepios.

— Sabe menina, gostei de você! Tem um gênio forte. Gostei mesmo! Pode voltar quando quiser. Será sempre bem-vinda à casa de Magda Monroy.

"Credo!", era o que lhe veio à mente, mas limitou-se em agradecer com um gesto de cabeça. Permanecia rígida como uma estátua, sentada naquele tronco observando se nada subia pelo tecido de sua saia que descansava no chão. Puxou a saia. Ajeitou todo o tecido no colo e deixou as canelas à mostra, para que assim pudesse perceber se algo resolvesse entrar em sua roupa.

— Não precisa agradecer — falava ternamente e mudou de assunto. — Princesa, sobre o que me pediu, consegui progredir. Tive uma ideia. Um feitiço que pode dar certo.

— Qual? — interessada.

— Ainda é cedo, mas creio que tenho uma solução. Já que podemos contar com mais alguém — Olhava Ritshy e sua saia erguida — em que pode confiar.

— O que é? Por que não fala logo?

— Tenho guardado comigo um feitiço. É muito difícil, mas é dele que precisamos.

— Do que se trata?

— É assim... — contou todos os detalhes sobre o encantamento. — Entenderam?

— Acho que sim... — duvidou a moça loira. — Mas as pessoas vão perceber.

— É maravilhoso! Eu poderia ficar tranquila para participar do torneio.

— Onde achamos os ingredientes dessa poção? Tem certeza que isso dará certo?

— Sim. Tenho. E os deixem comigo. Será meu presente de aniversário! Só quero que um dia antes do torneio estejam aqui e preparadas.

No caminho de volta, as duas conversavam. Teriam que esperar pra ver com seus próprios olhos. Os dias antes do torneio demonstraram sua capacidade de serem arrastados. Providenciou a inscrição de alguém sob o nome de "Cavaleiro Negro''. Ocupava algumas horas de suas tardes ensinando a Ritshy em quem poderia confiar e em quem não confiar de forma alguma dentro do palácio. Contou-lhe algumas histórias que só os da corte sabiam sobre os outros membros da nobreza. Coisas que lhe seriam úteis durante o próximo mês. Será que tudo correria bem? Elas tinham muitas dúvidas quanto a isso.



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Votinhos... votinhos... votinhos.

Estrelinhas... estrelinhas... estrelinhas...

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Obrigada a todos,

W.F.Endlich



A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now