Capítulo 12

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Joice não podia enxergar sua figura entrando naquele local, mas sentia os olhares de todos em sua direção. Tentou manter-se ereta e imitou o caminhar das noivas. Seus cabelos ruivos estavam soltos. Dificilmente ela andava com eles daquela maneira, mas a cavalgada que fizera de manhã havia bagunçado o coque que sempre arrumava no alto da cabeça e teve que soltá-los.

Seu vestido era dourado e com alguns detalhes em branco. Havia pedras preciosas presas ao longo de todo o comprimento. A roupa tornara-lhe mais esguia do que normalmente ficava, pois sendo alta, gostava de vergar seu corpo para que tentasse passar despercebida onde estivesse. Sua figura não aparentava tantas curvas com os jeans que usava antes, e agora com os trançados de cordas na parte de trás da roupa, acabava por modelá-las. Revelando uma bela mulher.

Acabara de completar dezessete anos, pouco antes de seu pai desaparecer. Ele não a veria completar a maioridade? Não lhe daria um carro de presente? Nossa, a ideia de ganhar um carro e tirar carteira de habilitação parecia fora da suas possibilidades! Sentiu um aperto na garganta e decidiu que precisava continuar andando com os passos curtos. Admirou-se pela demora em percorrer o caminho até a mesa, que parecia não ter fim.

A luz que entrava na sala através das largas janelas se refletia em seus olhos e os tornavam azuis além do usual. Via de regra, não usava maquiagem, pois acabava chamando muita atenção para a tonalidade que possuía no olhar. A cor beirava a estranheza, pensava a moça. Ser diferente assim não era bom! Mas lembrava-se de seu pai definindo seus olhos. Uma fragmento roubado do céu num dia de sol primaveril. Azul. Celestial. Penetrante. Deslumbrante. Seu pai... "Ah, como viver sem ele?"

Caminhou por mais uns instantes pelo infinito persurso. As pessoas encaravam-na com curiosidade, pareciam tão interessadas! Sentiu um calafrio. Poderia ser de vergonha? Aquilo conseguia ser pior que o primeiro dia de aula! Sentou-se o mais rápido que conseguiu. A esperança era de que tudo terminasse logo. Não acabou. Só piorava.

— Seja bem-vinda, Joice! — bradou o tio. — Apresento a vocês a minha sobrinha, a herdeira de meu trono! Tendo em vista que não fomos abençoados com crianças, não é mesmo querida? — dirigia-se a uma figura feminina sentada ao seu lado, deveria ser a rainha. — Helena, conheça sua sobrinha, Joice — continuou o homem com altivez.

— Muito prazer! — disse a Rainha Helena, quase num sussurro sufocado.

— O prazer é meu, tia! — A figura pálida da mulher assustava-lhe um pouco. Seu semblante era estranhamente tenebroso, doente. Nossa, sua tia parecia muito enferma! Tinha a nítida impressão que se alguém a apertasse além da conta, ela se partiria ao meio.

— Façamos um brinde a esse momento glorioso e tão marcante de uma nova era em Lemúria. À sucessora do meu trono! Saudemos Joice Brandlyn, a princesa herdeira desse reino! — Levantou a taça num gesto repetido por todos.

A então princesa receou em erguer o brinde para si mesma. Não sabia se era de bom tom que levantasse ou não sua taça. Decidiu levantá-la utilizando-se do meio termo. Não haveria como negar o gosto por um momento de glória como aquele, onde todos quase a veneravam. E alguns quem sabe também a odiassem... Em todo filme medieval que assistiu, sempre havia aqueles que tramavam contra o reino e contra seu rei. Divertiu-se por uma fração de momento. Quem poderia ser tal espião? Olhou ao redor e observou a todos enquanto conversavam e comiam. Sem modos apropriados, mas ainda com um quê de elegância.

Brandlyn! Esse sobrenome era tão inusitado como o resto das coisas naquele lugar. Seu tio omitiu o habitual, Elora de Oliveira. Esse era o nome de sua família! Oliveira, como os seus avós e seu pai. Pensando bem... Oliveira era como uma mentira. Contada tantas e tantas vezes que foi validada. Aquele era apenas o nome tosco inventado pela avó sequestradora, que concedeu ao seu pai, e ela o herdara pela sequência lógica dos fatos. Pensar na mulher desse jeito, causava a sensação do "soco" no seu estômago.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now