Capítulo 56

187 34 11
                                    


Algumas pessoas, que não eram da nobreza, chegavam em bandos, em enormes grupos e famílias. Sentavam-se. Espremiam-se. Um grupo de piratas sujos tomava conta de um andar inteiro de uma arquibancada. Dispostos exatamente oposto ao local reservado para reis e rainhas. O grupo de homens sujos e mal barbeados ocupava lentamente e à força o local escolhido. As pessoas se afastavam temerosas, à medida que repovoavam os lugares antes tomados por pessoas honestas. Pareciam ter um líder, mas não era muito definido qual deles seria. Observavam tudo. Muita atenção. Procuravam alguém. Alheios aos piratas sujos, os moradores da região compareceram em peso, lotando todos os lugares disponíveis. Alguns haviam desembolsado alguma quantia pelo direito dos melhores lugares. Outros tinham garantido um extra ao precificar seu esforço, estando alguns dias esperando na fila, comercializando os lugares conseguidos. Era raro um festival como aquele! Seria diversão para todos que pudessem assistir ao campeonato, que era notícia em todo o Daran. Viajantes de todos os reinos espalharam a novidade. Cada um torcia pelo seu campeão na arena. Segurando nas mãos os bilhetes do Baccardium.

— A primeira disputa será a de resistência — começou o homem designado, narrando a competição, enquanto andava entre os competidores. — Apenas os últimos homens que suportarem o calor do meio dia serão classificados para a próxima etapa. Começando agora e terminando apenas quando restarem de pé os oito classificados. Entre os oito, ainda veremos quem serão os dois últimos a se renderem, esses obterão pontuação dobrada e triplicada, dependendo de quem sucumbir antes — O homem de meia idade que gritava do centro da arena, colocou-se à frente dos candidatos. A acústica do local somada ao silêncio da plateia facilitou para que fosse ouvido.

Havia várias fileiras de guerreiros, Kilayra não pôde contá-los. No primeiro quarto de hora, estava mais fácil. Metade dos combatentes havia desmaiado. Eram tirados da arena por pessoas cobertas com pesadas mantas. Os sóis permaneciam impiedosos com quem resolvesse afrontá-los. Estava difícil manter os olhos abertos em meio a todo calor. De fato a pele usada na armadura a mantinha protegida das maiores queimaduras, porém o calor beirava os limites do inaceitável. Seus olhos estavam sem proteção e decidiu fechá-los. Sentia a pele da pálpebra queimando e a dor era intensificada a fração de momento. Sentiu que havia um pequeno véu dobrado pouco acima dos olhos no lado de dentro da máscara, era uma espécie de tecido fino. Não pensou demoradamente a respeito, o tempo era curto. Acreditando que Monroy havia utilizado a pele que encobria as vísceras do bicho, respirou fundo e puxou o pequeno cordão que o prendia. Ao desdobrá-lo e cobrir o rosto teve certeza que estava certa em suas suspeitas. Tinha o tamanho exato para cobrir-se até o queixo. Se tivesse visto antes, teria evitado as bolhas, que já começavam a se formar.

O odor daquela pele era horrível, mas o calor na tez conseguia ser pior. Apesar de muito fina e de comprometer a visão, era melhor que a situação anterior. A pilosidade na armadura impedia que os raios penetrassem diretamente na pele, mas o calor podia ser sentido. A desidratação excessiva e rápida, era desanimadoramente sugestiva. Somadas à sensação de ardência e ressecamento nos lábios e rosto, incomodavam a ponto de considerar desistir. Mas não tinha essa opção, havia passado por muitos obstáculos para atingir aquele momento e nada a impediria de continuar. Os olhos lacrimejavam. Seus sentidos sendo tirados um a um. Não conseguia ver quantos mais restavam. Passava de uma hora de prova. Insistia em aguentar mais um pouco, precisava muito. Um pouco mais. Um tanto mais. Permanecer de pé. Não suportava a ideia de ser eliminada. Tinha que vencer! Precisava provar ao pai que era muito mais que uma indefesa e tola princesa. Não era indefesa!

O rosto queimava e as bolhas começaram a ficar tão inchadas que dava a impressão de que se romperiam. "Um momento mais", pensava. Bolhas. Ardência. Dor. Noutro instante, nada mais. Parou de sentir. Não queimava mais. Cessou o sentir calor. Acabou o incômodo por suar. Tentou mover os músculos das pernas. Que pernas? Não existiam mais. A mente parou. Seu corpo caiu num baque pesado no meio da arena. Tudo estava leve agora, mais suave. Os membros pareciam prontos a flutuar.

*********************************

Só tenho uma coisa a dizer:
- Obrigada!

Gostaria de deixar meu profundo agradecimento a todos que me acompanham nesta jornada!

Aquele Abraço,

W.F.Endlich




A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoKde žijí příběhy. Začni objevovat