Capítulo 45

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Os dias que antecediam ao torneio pareciam ter muita pressa. Eles se viam todas as manhãs. Tinham muito a fazer, mas não citaram mais a mal fadada noite, nem o tão obscuro assunto. A sócia da herdeira do trono foi até o suposto pai e pedia para cavalgar, convencendo-o de que iria só, para demonstrar sua melhora ao povo. "Sempre geniosa!", pensava o rei ao vê-la sair. Precisava ir até a gruta de Monroy, mas agora tinha algo mais importante. Seguia afoita pela floresta para o local onde encontraria o amor de sua vida.

— Esperou muito? — Ryan também estava ansioso e chegava num trote veloz com seu cavalo.

— Não — respondeu preocupada com o que lhe revelaria naquele momento. Contaria tudo. Nada mais seria escondido. Porém, antes, ela roubaria o beijo que eu possuía todo o direito. Certamente não haveria outra chance, pois não seria perdoada pela traição.

— O que quer comigo? — perguntou o rapaz.

Desde de a declaração para a princesa, sentia-se bem. Embora não falar nisso causasse alívio.

— Preciso falar também. — respondeu num solavanco para não perder a coragem.

— Pode ser que eu não entenda o que está havendo com você, mas preciso falar sobre isso. Nunca imaginei, que algum dia... Não quero que entenda errado. Mas o fato é que não podemos mais nos ver.

— Como assim? — incrédula.

— Antes era diferente... Você estava além das minhas expectativas.

— E agora... – induziu a continuar.

— Nem sempre te amei. Mas quando aconteceu, era de era insólito. Nunca imaginei que pudesse ser assim... de verdade.

— É que nunca te dei devida atenção.

— Não é só isso. Jamais pensei nisso assim, vê-la todos os dias. Isso precisa acabar. Não entenda mal. O que sentia por você não era amor. Nunca... Espero que saiba que morro por você se isso fosse necessário. Mas... Não posso mais continuar.

Impossível! Seus ouvidos a traiam. Ele sempre amou a princesa. Assim que elas trocaram de lugar ele deixa de amar. Estaria amaldiçoada? Ryan jamais a amaria. Conformava-se. O beijo. Seria o único de suas vidas.

— Você me amava e agora não ama? Disse que me tornei outra pessoa e que agora te faço ficar à vontade. Aí o seu amor desaparece?

— Muito pelo contrário, tá mais atenta, mais meiga, mais carinhosa... esse é o problema. Parece outra mulher. Uma, pela qual eu seria capaz lutar para passar a minha vida inteira.

— Mas não sei qual é o problema.

Estranhou a insistência da mulher. Continuou consciente de que ela, assim como ele, sabia que esse relacionamento seria impossível. Tiveram sua cota de amores impossíveis por mais de uma vida.

— Somos incompatíveis. Estou apaixonado por você... Por essa você parada bem na minha frente. Não pensei que sentiria isso outra vez. Nunca achei que fosse ser capaz de esquecer meu primeiro amor. Mas consegui. Você foi capaz conseguiu isso.

— Isso tá confuso! Primeiro grande amor? Do que está falando? — Isso era novidade.

— É diferente de antes... Sempre a esteve além de minhas expectativas. Mas agora, vendo que posso... Até parece egoísta, mas... queria que não recuperasse a memória para não perdê-la. Não amo, nem nunca amei de verdade a princesa de antes, mas a você eu amo.

— Ryan, eu... Preciso te contar... — lançaria mão daquele segredo? Poderia decepcionar Kilayra? O que faria agora? Perguntava-se aflita. Não sabia. Tinha convicção de que opção era a mais correta para todos. Mas o direito, para o amor e para a amizade, andavam em direções opostas.Como fazer o eu julgava ser oportuno para ela e Ryan e ignorar o segredo de sua melhor amiga? Uma angústia cortante tomou conta de sua alma. — Prometo que... assim que puder te contarei tudo. Só não duvide de meus sentimentos por você, não importa o que aconteça.

— Tudo bem — Ele não tinha noção sobre o quê estava concordando.

— Você ainda me ama? — Sufocada. — Mas você quer que eu vá embora?

— Não.

— Ryan... — interrompeu. Olhos marejados e boca trêmula.

— O que foi? — aflito, voz rouca.

— Eu também te amo! — num suspiro.

Aliviou a alma. A angústia dissolveu-se naquela frase. O suspiro era de alívio. O desejo de dois corações. Tudo pausadamente. Depois fechou os olhos para registrar em sua memória o rosto dele ao ouvir sua declaração de amor. Ele a segurou. Aproximou-se. A felicidade. Um sorriso. Algumas lágrimas. Levariam aqueles segundos tatuados em suas almas. O instante. A eternidade. O beijo. Umedecido e temperado ao sal das gotas que falam pela dor e alegria. O calor dos lábios que se tocavam. Sentia o seu interior tremer. No estômago as malditas, voadoras e coloridas borboletas a saracotear em suas vísceras. O amor estampado e correspondido naquele ato. Ele a amava! Ela era a Kilayra de depois da queda. E também era a Ritshy. Ele a amava, apenas não sabia disto.

Ainda com os olhos fechados, ao sabor daquele instante inesquecível, ele sentiu o cheiro de Ritshy. Não podia ser! Não era possível. Passou longos anos se convencendo de que a garota estava além de suas possibilidades, por ser quase sua irmã. Convenceu-se a amar a princesa. Agora que realmente havia conseguido, a mulher proibida invadia seus pensamentos temperando o sabor e permeando de fragrâncias àquele toque de lábios tão esperado. Não agora! Não dessa vez! Não seria ele capaz de diferenciar o que era verdade ou não em sua mente? Tinha certeza que nos últimos dias apaixonara-se definitivamente por Kilayra. Não pensava mais em Ritshy. Não sonhava mais com a moça. Não acordava suado revivendo momentos de sua mente insana em seus devaneios durante o sono. Como poderia estar beijando a princesa e só conseguir pensar na mulher que amou por toda a sua vida? O que os outros pensariam? Todos sempre os viam como irmãos. Estava amaldiçoado ao amor impossível. Isso era devastador.  


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O que acharam até aqui? Torcendo por eles?

Espero as leituras, os votos e os comentários de vocês! Indiquem para os amigos!

Aquele Abraço,

W.F.Endlich

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now