Capítulo 54

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Os sóis ainda nem se espreguiçavam quando a moça abriu os olhos. Percebeu ter dormido por umas duas horas. Era suficiente. Levantou-se, banhou-se no rio próximo ao seu acampamento na clareira da floresta. Durante o tempo que viveu nas imediações do palácio, as pessoas não a reconheceram na cidade, nem mesmo os Defensores. Em sua rotina de fuga constante, permanecia com sua capa. Transitava pelas ruelas da capital, torcendo para que ninguém a olhasse com atenção. A capa impediria olhos desatentos de reconhecê-la. Contudo, uma olhadela atenciosa poderia pegá-la de surpresa. Foi até a casa de Magda. Tudo estava preparado e à espera da jovem. Vestiu sua roupa negra confeccionada com habilidade maestral. A pele do bicho havia sido tratada e fervida, embora o cheiro não fosse um dos melhores. Não era uma armadura bonita, mas em contrapartida, extremamente funcional e forte. Passou o fio de sua espada pelo antebraço já coberto e sequer houve um arranhão na peça. Ficou irreconhecível, tinha uma máscara, que cobria a parte de cima das bochechas e os olhos, deixando apenas os lábios e o queixo à mostra. Os cabelos foram trançados e presos de modo a permanecerem escondidos na parte interna às costas da guerreira.

A caminhada até a entrada da arena foi infindável. Armaram uma estrutura colossal para o evento. Olhou em volta. Pôde ver o quanto estava lotada de expectadores. O barulho era audível a muitos metros de distância. Nada que viveu até aquele momento, exceto à caçada do rynius a fez aumentar os batimentos cardíacos naquela proporção.

— O próximo!

— Sou eu... — ouvindo o grito e percebendo que era com ela. Havia falado com sua voz natural. — Sou eu, senhor — repetiu, engrossando a voz.

— Qual o seu nome, garoto?

— Cavaleiro Negro! — em tom solene. Mas ouviu soluços e risos dos outros concorrentes. Odiou cada um deles!

— Vejam homens, esse espertinho diz ser o famoso Cavaleiro Negro. Ou deveríamos dizer, o anão negro? Qual a sua altura criança? Seu nome é Cavaleiro Negro? — dizia com sarcasmo... — Filho da senhora meretriz negra e do senhor vagabundo negro? Sua mãe era uma meretriz, meu rapaz? Por qual razão quer esconder seu nome de família? — A risada tomou conta de todos à sua volta. Apenas alguns poucos lutadores permaneciam alheios àquele tumulto.

— Com certeza não, senhor — Imaginava se a rainha o ouvisse falar daquela maneira, certamente pararia na guilhotina.

— E que nome sua honrosa mãe lhe deu?

— Meu nome não interessa, senhor. Na minha inscrição consta Cavaleiro Negro. E é assim que me apresentará na disputa. Estamos acordados?

— Está bem, meu jovem. Senhor digníssimo Cavaleiro Negro de um metro e meio! — ironizava pelo clichê daquela denominação e o tamanho demasiadamente pequeno do guerreiro. Ria-se com gosto enquanto procurava entre um amontoado de papéis desenhados com uma bonita letra. Idade?

— Dezoito.

— Tem certeza que não sairá daqui chorando, meu rapazinho?

— Não fiquei nessa fila todo esse tempo só pra ouvir suas tolices. Podemos continuar, por favor? Quando ganhar esse torneio eu serei seu superior. Pode ter certeza que me lembrarei deste dia com satisfação. Pagará por essa cena ridícula! Veremos se continuará achando tanta graça.

— Misericórdia, meu senhor! — ironizava. — Pelo menos sabe ameaçar como gente grande. Aguardarei ansioso, moleque!

— Vamos! Confira logo a minha inscrição. Preciso entrar.

— Aqui está! — Acenou com a cabeça e abriu-se o portão para onde estavam os demais competidores. Autorizou a entrada do baixinho arrogante.

— Vamos nos encontrar em breve, guarda! — falava sério, pretendia contar ao rei o que os desgraçados faziam com pessoas de menos sorte que a deles. Pessoas que não contavam com uma posição confortável no reino. Lucas não gostaria de saber que afrontas como aquela eram feitas aos nobres guerreiros que se inscreveram para o cargo. Entrou na arena. Seu pai estava no local de costume, Ritshy ao seu lado, acenou-lhe com um lenço. Sentiu saudade da figura paterna e ciúmes pela amiga poder estar ao lado do homem tão admirado.

— Conhece aquele cavaleiro mascarado, filha? — interessou-se Lucas.

— Não. Achei simpático de minha parte que eu acenasse para os cavaleiros — A moça respondeu ao rei, sem tirar os olhos da amiga. Percebeu que alguns cavaleiros ainda estavam procurando seus lugares para se posicionarem.

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Votem, comentem e indiquem, por favor.

Sua contribuição faz toda a diferença pra mim! 

E a disputa começa!!!



A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now