Voltou a sentir. De repente sentia água fria no rosto. O impacto com a pele fervendo era relaxante, mas a sensação não durava por muito tempo. O rosto latejava como se tivesse encostado em brasa viva.
— Onde estou? — falou com sua voz normal, mas era um sussurro tão baixo que mal pôde ser ouvida.
— O que disse? — Um dos ajudantes contratados para cuidar das armaduras dos competidores se aproximava.
— Perguntei, onde estou? — retomando seu fingimento de voz rouca.
— Estamos livres do calor dos três sóis — disse outro competidor já sentado e dando fim no conteúdo de um copo de metal.
— Não! Preciso voltar para lá! Preciso vencer! — desesperou-se.
— Voltar pra lá? Não tem mais ninguém na arena. O que acabou de fazer foi uma coisa incrível! — afirmou o rapaz demonstrando surpresa e tentando ajudá-la a tomar um copo com um líquido transparente.
— O que aconteceu? — Outro gole.
— Você e outro guerreiro caíram na mesma hora. Foram os últimos. A competição chegou ao fim.
— Quem foi o outro?
— Fui eu — disse o quase titã chegando-se mais para o lado na outra mesa de pedra, onde os haviam colocado para o atendimento. Ele não parecia tão ameaçador deitado naquele patamar. Recebiam os mesmos cuidados.
"Água fria na fuça dele, isso!", pensava. "Podem jogar mais, ele merece!", sorriu mas engoliu o gesto secamente quando o observou olhando para ela. O sorriso era fixo no rosto, refletia. "Tatuado", concluiu. Não era possível!
— O que me diz? Sua força foi incrível, por um momento achei que fosse cair antes de você. Queria ver o quanto mais aguentaria daquilo, por um triz que consegui te acompanhar! Parabéns, garoto!
— Digo o mesmo a você! — "Garoto? Ele me chamou de garoto?", pensou em retrucar, mas queria encerrar a conversa, seus lábios doíam forçando o silêncio.
— Estamos na melhor classificação, fomos os últimos a cair e isso nos rendeu pontos de vantagens.
— Em breve serei apenas eu — Virou o rosto para o lado oposto ao do interlocutor.
— Por que não tira essa máscara? Está toda molhada.
— Está tudo bem. Isso foi uma loucura, depois de um calor como aquele e nos jogam água fria por todo o nosso corpo! — Agradeceu que ninguém tenha arrancado a máscara enquanto esteve desacordada.
— Não, esperaram um pouco até o corpo abaixar a temperatura. Essa sala é climatizada com magia, para que possamos esfriar mais rápido. A água é para hidratar a pele. Não está gelada. Nós é que estávamos quentes demais. Além do mais, não percebe que suas bolhas diminuíram? Tem um encanto de cura misturado. Vai evitar que as bolhas de nossos lábios se rompam e se tornem feridas amanhã, pois isso impossibilitaria nossa participação.
Kilayra não respondeu. Sentia-se enjoada. Lamentou a falta de tempo de estudar mais sobre a competição. Desejava não ter vantagem sobre os outros competidores quanto ao que sabia das provas. Mas parece que o oponente não teve a mesma honradez.
— E a máscara? — repetiu o moço.
— O que tem ela?
— Não vai tirar?
— Não enche! Ela me dá sorte!
— Sei... E você acredita em sorte? Não sei não... Acho que sorte não conta em um torneio, mas sim, a nossa capacidade.
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