Capítulo 47

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— Eu? É, eu... — gaguejava. — Vou te explicar tudo, mas antes preciso que me explique melhor essa história toda!

O céu parecia uma pintura, era muito cedo ainda e a mata estava clara e o rio à frente nunca pareceu tão calmo. Diferente do olhar transtornado do homem à sua frente. Ela se deu conta de que ele estava vendo a sua imagem agora, e não de Kilayra. Acreditando que seu cérebro não encontrou uma explicação plausível deduzindo estar ficando louco. Mas ela ainda se aproveitaria daquela situação confusa. Queria saber de tudo. Precisava entender que história era aquela de que a amava desde criança. Lembrava que várias vezes sentaram-se àquelas margens. Essa não era a primeira vez que havia forrado o chão pra que se sentasse. Questionava a todo instante se estar com ele naqueles dias valeria o preço que pagaria por toda aquela enganação. Será que ele a perdoaria? Contou-lhe os detalhes do plano da princesa. Sobre Magda e seus insetos quase no caldeirão. Sobre a poção e todo o resto. A feição de Ryan não mudou enquanto ela falava. Mas ao final, ele respirou e perguntou incrédulo. Pediu uma prova sobre o que ela falava. Caminharam pela vila e ela testaria suas suspeitas.

Ryan estava confuso, havia beijado Kilayra ou Ritshy? Declarou-se para quem sob a luz do luar? Será que falava a verdade? Que maldito feitiço poderia ser aquele? Magda era realmente uma poderosa feiticeira. Claro que se aquilo tudo fosse verdade...

A surpresa não poderia ser maior. As pessoas se curvavam diante dela. Ele observava de longe. Dois guardas se aproximaram e abaixaram-se diante de seu cavalo. Não era possível que tratassem Ritshy daquela forma. Aproximou-se para ouvir. Tratavam-na mesmo como se fosse a verdadeira Kilayra.

Andavam agora em silêncio nas laterais do rio. Ouvia-se apenas o barulho do trote dos cavalos. Ele apeou e pediu que ela fizesse o mesmo. Não suportaria mais daquilo. Havia se convencido. Mas o que houve para que ele a visse? Por que apenas ele?

— Convenceu-se? Fiquei com medo que o feitiço tivesse acabado, mas parece que só você pode me ver como sou realmente. Para o restante do mundo, eu continuo sendo Kilayra Bremen.

— O que espera que eu faça? O que quer de mim, agora?

— Não quero nada.

Lembrou-se vagamente de uma conversa tida com a princesa sobre a sua participação no evento. Na época duvidou de que fosse capaz de conseguir estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas parece que conseguiu! — Você estava morando no palácio todo esse tempo? Era você naquela noite sob o luar? Ou...

— Era eu sim, o tempo todo — ela repetiu como se lamentasse. — Sempre acreditei que fosse apaixonado pela princesa. Por que fez isso comigo?

— Você não deveria ter mentido pra mim... Não podemos.

— Fiz isso porque te amo. Arrisquei perder sua confiança em nome do que sinto. Tudo que eu disse foi verdade. Era eu, Éramos nós, o tempo todo!

— Não sei o que dizer... — percebeu o que ela queria dizer ao repetir aquela frase. — Estou confuso Ritshy. Jurei lá o meu amor à Kilayra, era pra ela entende? Não via você.

— Sei disso. Só quero que me escute... Eu sempre achei que meu destino seria esse, Mas agora... Só não poderá ser feliz caso não queira. Não entendo porque nunca me disse...

— Eu não podia e ainda não podemos. Não devia ter feito isso! Você foi longe demais.

— Sempre estive aqui. Eu o amei quando o vi chorar por causa da morte de seu pai. Amei após cada uma das noites que te observava dormir. Amei a tua presença de espírito quando perdia alguma batalha. E mais ainda a sua coragem para tentarmos novamente. Amei você em cada minuto, hora e dia que passamos juntos. Queria te contar toda a verdade... Mas ouvir que me amava... — Ele fez menção de interromper. — Mesmo dizendo isso para a Kilayra, foi maior do que eu. Amei a você mais do que fui capaz de amar a mim mesma. Em silêncio todos esses anos.

— Sabe que não poderemos.

— Não, não sei. Eu só topei essa jogada de ser a princesa porque eu achei que poderia te conquistar de alguma maneira, e agora sabendo que já me amava... Não acha que vou desistir, né?

— Mas eu via a Kilayra...

— Até deixaria que estivesse com outra pessoa se isso fosse te fazer feliz, mas agora que sei que sou eu... Se apaixonou novamente por mim. Tem que ser a gente!

— Acha que temos alguma chance?

— Eu conto com isso!

— Mas, e se não der certo? O que as pessoas falarão?

— Não estou preocupada com os outros. — estava indignada com a covardia que percebia em seus olhos.

— Então deixa que as coisas tomem seu rumo. Meu coração tá em paz.

Repassou todos os momentos de sua vida. Todos os momentos importantes. Tentou lembrar-se de uma única ocasião em que não fosse Ritshy ao seu lado quando mais precisou. Tentou lembrar-se de alguma vez que o tivesse decepcionado. Procurou em sua mente um único motivo para desprezá-la. Para dizer não. Mas tinha absoluta certeza de que Kilayra havia sido uma linda e imensa ilusão do garoto que hoje havia se tornado homem. Admitir o que sempre inundou sua alma em um mar de desespero? Mas ela era a única constante em sua vida repleta de percalços: Ritshy. O amor de sua vida. Mas daí a ficar com a sua irmã? Presumindo que ela nunca o amaria da mesma forma, então ele descobriu-se na tentativa de encontrar aquilo que segregara em seu coração na imagem da linda e inacessível princesa. Talvez fosse por isso que jamais conseguiu confessar seu amor pela Princesa, mas foi capaz quando quem estava em seu lugar era Ritshy. Não amava a Kilayra, nunca havia amado outra mulher. Talvez a coragem de se declarar tenha vindo do fato de estar na presença de Ritshy, ainda que inconscientemente. O que sentia por Kilayra era admiração, veneração. Seria seu eterno e mais fiel súdito. Mas por Ritshy, sentia desejos incontroláveis que jamais ousaria sentir por outra. O amor experimentado era de um homem. Resolveu continuar sua fala.

— Quando descobri a natureza do que trazia em meu coração por você, eu neguei. Lutei contra, escondi, tentei estar com outras mulheres. Até me enganei tentando me envolver nessa história com a princesa. Nunca me permiti dizer isso em voz alta por parecer errado. Mas isso termina aqui, hoje! Está decidido.

— Decidido? Então acovardar-se diante do sentimento é...

— Shiii! — Ordenou. — Sempre foi você. E assim que essa farsa acabar, aceita se casar comigo? Porque eu te amo!

Ele a puxou para perto e a beijou. Um gesto repleto de paz, sereno e apaixonante. Os pássaros resolveram cantar e o vento arfava as folhas perfazendo a trilha sonora daquele amor que perdurou por anos em silêncio. Os dois amantes se abraçaram.

— Posso te pedir uma coisa Ryan?

— O que quiser — com o dedo indicador ele afastava uma mecha insistente e teimosa que lhe invadia o rosto.

— Pra que eu possa acreditar que está falando realmente comigo, diga meu nome, só uma vez... — lágrimas atrevidas enchiam seus olhos enquanto ela suplicava, a voz sufocada e trêmula.

— Sinto muito por não ter contado antes, mas... Eu te amo, Ritshyla Andrean.

— Sou a mulher mais feliz desse Daran! Te amo, Ryan Reiter! Sim! Eu aceito!

Beijaram-se serenamente. Falar não era mais necessário. Muito havia sido dito. Muito havia sido omitido. Muito haveria de ser dito ainda. Só não agora.

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A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now