Capítulo 18

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— Como era a minha avó? Ainda não me falou sobre ela.

— Tudo terá o seu tempo. Nada será escondido de você.

Algo nele lhe pareceu de fato amigável naquele momento da conversa. Na verdade não gostava disso, pois não confiava nele.

— Minha avó lhe conhecia, então?

Ao lembrar-se de sua avó, ela não conseguia se recordar de uma rainha, mas sim da bondosa senhora que contava histórias até que adormecesse.

— Terminamos por aqui hoje. Precisa tomar suas lições o quanto antes, em aproximadamente dois meses precisaremos ir até Montherran, quando a Princesa Kilayra completará dezoito anos. Certamente seremos convidados para a festa. Eu irei com você, seu tio me ordenou. Ele está muito ocupado tentando localizar seu pai. Iremos para Montherram através de uma rota arcana. Acho muito bom que seu tio me envie, lá tenho assuntos a tratar com uma velha amiga. (parei aqui)

Joice não tinha ideia do que na frase do velho lhe surpreendia mais. A Princesa Kilayra realmente existir, ou por ter a mesma idade dela. Teria uma festa pra ir naquele lugar, um verdadeiro baile de princesas! Essas tais de rotas arcanas, o que seria isso? Ou se a surpresa maior ficava pelo fato de que aquele velho possuía amigos. Resolveu perguntar a respeito de cada item, menos sobre o último, pois achou indelicado de sua parte. O mago lhe respondeu com precisão e sem delongas, estava ocupado naquele dia. Disse que a princesa existia sim. Sobre as rotas, ele explicaria depois, em uma das outras aulas que teriam nos dias que se seguiriam. Mas interessante seria que em pouco tempo ela conheceria a Princesa Kilayra Bremen, a princesa das princesas!

As aulas nos aposentos de Erycles tomaram uma proporção que Joice não havia imaginado no início. Ela estudava incansavelmente, pois o mago parecia também não se cansar, apesar da muita idade. Ela aprendia sobre esse novo mundo, e sobre o antigo ela descobria coisas que jamais sonhara em ver nas aulas de história com a 'Dona' Madalena. Fatos históricos, livros que foram queimados na biblioteca de Alexandria, como havia há pouco descoberto. Ninguém na terra neutra poderia imaginar o que se perdeu de fato naquele incêndio. Mapas, história sobre povos, magias, línguas esquecidas e tudo o que jamais as pessoas acreditariam se ela lhes contasse. Sentia muitas saudades dos seus amigos, dos que amava, de seus pais, sua vida e de Rodrigo. Que saudade de Rodrigo! Gostaria de vê-lo. Sentir seu cheiro, ouvir sua voz. Quando pensava nele sua mente voltava para seu mundo real, era como ela passou a chamar sua antiga vida. Às vezes sua mente vagava e se perdia dos estudos. Felizmente ela tomava diariamente as poções para que seu aprendizado pudesse ser potencializado e o cansaço minimizado. Tinha um pouco de medo de tomá-las no início, mas havia de reconhecer que elas ajudavam bastante. Aprendeu a língua única, língua comum a todos no reino, também conhecida como língua da paz, e aprendia agora a linguagem usada nos velhos livros de magia. De vez em quando Joice sentava no alto do castelo e assistia o pôr dos sóis, sorria sempre por imaginar que aquela expressão parecia um erro de português. Encontrou no jardim um lugar onde deitava e se imaginava na praça, em que tantas vezes namorou o cara mais lindo do mundo. Como viveria o resto de seus dias sem jamais revê-lo, sem tocá-lo ou mesmo sem poderem conversar?

Tinha vontade de falar com o feiticeiro sobre as pessoas que amava pra saber se existia alguma maneira de matar a saudade, mas falar delas poderia ser perigoso. Sentia arrepios ao pensar no que aconteceria se alguém como Erycles descobrisse seus nomes e localização, isso poderia expô-las a um perigo desnecessário. Estava deitada observando as nuvens no jardim do palácio, enquanto um turbilhão lhe invadia os pensamentos. Sentiu-se gelada e viu o rastro de magia que seguia o tão temido feiticeiro aproximar-se dela.

— Precisamos continuar.

— Não gosto quando chega sem me avisar. "E esse frio na espinha que não passa quando estou com você bruxo!" — pensou.

— Seu tio acha que já está pronta para a sua primeira missão. Eu, particularmente, acredito que precisa de mais treino na língua dos antigos.

— O que ele quer que eu faça?

— Pretende que você busca de alguns itens mágicos.

— Que itens mágicos?

— Vou explicar assim que chegarmos a meu quarto.

— Está bem, mas...

Não terminou a frase e uma flecha atravessou o céu e parou nas costas do bruxo. Não chegou a tocá-lo, parou no ar como se um campo de força invisível o protegesse. Ele olhou para o lado de onde havia sido disparada e balbuciou palavras num antigo idioma. O céu escureceu e um raio acertou algum animal gigantesco, um uivo alto e estridente se ouviu. O animal apoiou as patas no chão e saiu em disparada. Longe o bastante,¬ ficou de pé novamente, dando a impressão de criar um rasgo no ar usando suas garras e um portal se abriu, possibilitando a sua passagem. Mas antes que pudesse sumir, Joice viu em seus olhos o ódio por aquele velho. O animal ainda sussurrou alguma coisa e sumiu por completo. A flecha pegou fogo nas mãos de Erycles, que virou as costas e caminhou como se nada tivesse acontecido. A voz rouca do velho lhe causava ainda mais arrepios após aquele evento.

— Venha logo!

— O que foi isso?

— Isso? O que acha que foi? — silenciou e pensou nas palavras que usaria. — Isso, criança, não é nem mesmo o começo dos perigos que atravessará em sua jornada. Eles estão mandando seu recado. Quem estiver em seu caminho será massacrado, aniquilado, morto.

— Mas nem chegaram perto de te atacar.

— Olhe nos meus olhos, lhe mostrarei o que aconteceu agora. Seus olhos ainda não foram treinados para ver rápido o suficiente.

Joice obedeceu e seu estômago pareceu saltar para a sua garganta. O animal que acabara de ver ao longe era uma espécie de lobisomem. Parecia saído dos livros, ele tinha uma rapidez absurda e o que Joice não pôde ver nos segundos anteriores, era como um filme de horror passado em câmera lenta. O lobo chegou a tocar seu cabelo e o seu medalhão brilhou, a criatura recolheu sua mão. O mago mexeu os dedos cruzados às suas costas e a espada que o atacante trazia consigo mudou para a mão de Erycles. Surpreso com a rapidez do mago, ele se afastou e um arco apareceu em sua mão, como se sempre tivesse estado ali. E uma fecha veio em direção a Joice e outra para o mago. Em mais um movimento de dedos e um balbuciar, as duas flechas pararam antes de atingi-los. A de Joice pegou fogo enquanto o velho virava e agarrava a sua com um movimento certeiro. O balbuciar ainda era de difícil tradução, mas Joice reconheceu a linguagem. E o clarão veio do céu e atingiu a criatura. Joice ouviu o uivo ainda mais claramente, sentia que o monstro viera para matá-la. Viu a sua corrida frenética para se afastar do seu oponente e seus movimentos de garras abrindo o ar e entrando na fenda que se criou como se sumisse num repente. Mas antes de desaparecer, notou que seus olhos brilhavam vermelhos e seus dentes estavam cerrados, e Joice entendeu suas últimas palavras dirigidas à Erycles:

— O Guardião precisa morrer.

— Ainda não — sussurrou.


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Desculpem-me! Fiquei sem internet ontem!!! Mas o capítulo está aí!

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Todas as Sextas Feiras teremos: Novos capítulos de "Arautos - A Senhora do Caos"

Fiquem atentos para a Publicação de capítulos bônus!

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Espero por você por aqui!

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W.F.Endlich


A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now