Capítulo 25

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O que mais a preocupava era que com os preparativos para a sua partida, não encontrava meios de confrontar o mago e descobrir sobre o aprisionamento de seu pai. Seguiu seus passos desde a saída de Montherran, porém, não conseguiu uma pista sequer do paradeiro do pai. Optou por não falar nada ao tio, pois não poderia provar suas suspeitas pela palavra de um contraventor em seu leito de morte. E não tinha certeza de que o tio acreditaria. Pensou em falar com Helena, mas ela sempre parecia tão debilitada. O fato era que antes de chamar a atenção de alguém para suas suspeitas, precisava ter alguma coisa concreta. Caso contrário, Erycles teria tempo para dar fim nas evidências e tudo ficar com o dito pelo não dito.

Apesar do asco que se formava em suas entranhas, era obrigada a continuar as aulas. Naquela tarde, em especial, chegou perto de sentir satisfação em ouvi-lo. Foi esclarecida a história sobre a existência de uma profecia há muito escrita. Tratava de uma traição que aconteceria em sua família. Achou absurdo que trairia as pessoas que mais amava. Um desaforo ele mencionar traição depois de tudo o que fazia. Bem como, a forma com a qual o velho falava, mas ouviu tudo com atenção.

— Sua ancestral, Elora, a nascida no fogo da montanha, tornara-se a segunda Guardiã dos Portais. Você descende de sua linhagem direta, de grande poder mágico. Seu destino irá muito além de seus próprios desejos e imaginações. Então, agora precisa se concentrar para que seu poder possa surgir, pois ele está adormecido em sua mente. Você é um ser mágico, uma feiticeira descendente da magia mais pura existente de nosso mundo.

— Mas eu havia entendido que enquanto meu tio for vivo a magia mais forte de nossa família pertencerá a ele. Ele é o Guardião? Não é isso?

— Não é sobre o seu tio que estamos falando. Não estou aqui para isso. Estou aqui para treinar seu poder, possibilitando o sucesso em sua jornada. Você sairá em uma busca muito em breve, mas para isso, precisa estar ciente de seus poderes. Encontrará muita magia nesse caminho e pessoas que querem a sua morte também estarão por perto. Preciso que entenda que seu poder é imenso e é necessário acordá-lo.

— Certo, então me ensine como!

— Concentre-se naquela árvore.

Ela olhou na direção apontada fazendo esforço para se concentrar. Fechou a cara em uma expressão ridícula, como se fosse ajudar na tarefa.

— Quero que a arranque do chão.

— Quer que eu cave? — desfez a careta.

— Não, garota ingênua! Passou praticamente dois meses treinando magia! Quero que a arranque do chão com as habilidades que desenvolveu de magia!

— E por acaso se importaria de me ensinar como? — Corada com a fala do bruxo. Como podia ser tão rude e desrespeitoso?

— Leu todos os livros que te dei?

— Sim, mas eles não falam sobre arrancar árvores.

— Você precisa entender as aplicabilidades para as teorias que vem estudando. Precisa arrumar uma forma criativa de tirar aquela árvore dali. Fazer magia trata-se de usar o seu intelecto para aglutinar feitiços e assim conseguir o que deseja. Os livros falam de vários encantamentos, quais poderiam te auxiliar a realizar a tarefa que te confiei? Pense, conclua e aja! Como arrancaria aquela árvore do chão?

— Cavando, já disse! — insistiu na ideia da pá.

— Então comande a terra, criança! Cave usando seu poder.

— Mast'aray arenam... Mast'aray arenam... Mast'aray arenam... Mast'aray arenam... — ordenava que a terra se movesse.

E o solo começou a se movimentar de forma que a árvore fosse empurrada para fora. Teve a impressão de ouvir gritos e não compreendia o que se passava. Sentia como se aquilo doesse em seu próprio corpo, pele e ossos; era como se aquela dor fosse lhe alcançar a alma. A sensação de remover aquela planta do chão era uma das piores que já sentiu em toda a sua vida. Era imenso o sofrimento, se aproximava da sensação do seu transporte para o Daran. A magia parecia rasgar-lhe ao meio, porém na proporção que lhe afligia aquela dor, dava-lhe a impressão de que ficava mais forte. Inversamente proporcional à medida que a árvore perecia. Era como se fosse possível esmagar o mundo e os seres vivos apenas com as mãos. Naquele instante ela decidiu que não causaria mais mal àquela criatura estática e tentou devolver suas raízes de volta na terra, achava que assim ela voltaria à sensação de paz. Mas foi incapaz de devolver a árvore ao seu local de origem, estava em um turbilhão de sentimentos, e o sofrimento era muito difícil de ser contido.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoWhere stories live. Discover now