Capítulo CLXXIII

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Quando Ema e eu chegamos à delegacia para nos encontrar com Catarina, meu coração parecia que iria saltar do peito. Nunca havia me sentido tão nervosa.

Na pequena sala que Catarina dividia com três policiais, sentei-me ao lado de Ema. Catarina nos ofereceu água e acomodou-se à frente de uma mesa de madeira.

— Bem, Ema, gostaria que me contasse como era sua relação com Rodolfo. Ele era um bom policial? – perguntou Catarina.

— Isso importa? Imagino que seu real interesse seja levar Júlio a julgamento. – respondeu Ema, visivelmente irritada.

— Quero entender a situação. Sarah me falou sobre o pai e o primo. Quero saber seu ponto de vista. O que Alex fez para merecer a ira de Rodolfo? – indagou Catarina, insistente.

— Vamos direto ao ponto. Você vai conseguir colocar Júlio na cadeia ou não? – Ema estava impaciente.

— Sim, ele vai amargar um tempo na prisão, mas certamente será menos do que eu gostaria. – respondeu Catarina.

— Ontem, meu parceiro se voltou contra mim. Peço que colha o depoimento de Rodrigo. Ele foi instruído pela delegada Marina, que é um dos braços de Júlio. Faça o que for possível para responsabilizar todos aqueles que contribuíram com ele. – insistiu Ema.

— Quer me ensinar a trabalhar, Ema? – perguntou Catarina, de maneira pretenciosa.

— Não tenho intenção de ensinar seu trabalho. Já me desvencilhei disso. Só quero uma vida tranquila, e isso depende da situação de Júlio. – respondeu Ema, tentando manter a calma.

— Sua namorada vai precisar de mais que palavras para garantir um futuro tranquilo. – disse Catarina, com um tom desafiador.

— Eu vou fazer o que estiver ao meu alcance. – respondi. — Agora, gostaria de ver meu pai. Ele ainda está aqui, não é?

— Está, mas é no mínimo inusitado que você queira vê-lo. – disse Catarina.

— É meu pai, tenho o direito de vê-lo.

— Espero que não esteja pensando em mudar de lado. – disse Catarina, levantando-se. — Me siga.

— Eu vou ficar aqui. – disse Ema.

Catarina me conduziu pelos corredores da delegacia até a cela onde meu pai estava, vigiado por um policial. Quando nos aproximamos, ele se levantou e veio até as grades.

— Sarah, finalmente deu as caras. – disse ele, com um sorriso irônico. — O que está acontecendo? Diga a essa policialzinha impertinente que tudo não passou de um mal-entendido.

Ele usava uma camisa social azul e uma calça cinza. Seus sapatos polidos, contrastavam com o piso desgastado da cela.

— Por que colocou o parceiro da Ema contra ela? – perguntei, tentando esconder minha raiva.

— De novo isso? Parece que meu único passatempo é perseguir aquela mulher. Sou um homem ocupado, Sarah. Não perco meu tempo com trivialidades.

— Você deveria falar a verdade ao menos uma vez na vida. – insisti, sentindo um nó na garganta.

— Eu não estou perseguindo ninguém.

— Pai, por favor, assuma seus erros. Só assim terei esperança de que se torne alguém digno. – segurei na grade, olhando diretamente nos olhos dele. — Não há nenhuma parte em você que lute contra suas atitudes monstruosas? Eu quero acreditar que você não é tão ruim.

— Melhor você sair daqui. Meu advogado já está cuidando da minha soltura. – disse ele, afastando-se das grades.

— Acha mesmo que não pagará por seus crimes? Eu vou depor contra você. – avisei, com firmeza.

— Faça o que achar melhor, Sarah. – disse meu pai, antes de se sentar no colchão fino da cela. — Mas saiba que está sozinha de agora em diante. Sem privilégios. Terá que viver com sua mediocridade. Espero que tenha uma boa vida sem os privilégios que te concedi ao longo dos anos. Muitas portas irão se fechar, Sarah. Vai acabar como operadora de caixa em alguma rede de supermercados.

— Tanto faz, pai. Ainda serei mais feliz do que ao lado de alguém com o seu caráter. – retruquei antes de deixar o local.

Ema estava próxima à saída e me recebeu com um abraço.

— Podemos ir agora?

— Sim. Eu quero sair desse lugar imediatamente. – respondi, com lágrimas nos olhos.

***

Retornamos para casa após o almoço e encontramos Norman na sala de estar, acompanhada por William e por um homem de aparência formal que segurava uma maleta. O homem vestia um terno escuro impecável e trazia uma expressão séria no rosto, enquanto Norman parecia visivelmente impaciente, batendo o pé no chão.

— O que está acontecendo na minha casa? – indaguei, confusa.

— Ah, finalmente chegou. – disse Norman, sem esconder a impaciência. — Assine logo os papéis. Estou ansiosa para voltar a ser solteira.

— Você entrou com o pedido de divórcio? – questionei, surpresa e tentando processar a situação.

— Mais ou menos. – respondeu Norman, lançando um olhar para o pai. — Vai, fala pra ela.

William deu um passo à frente, pigarreou e colocou as mãos para trás, adotando uma postura formal como se estivesse prestes a fazer um discurso oficial.

— Srta. Sarah, informo que, após os últimos acontecimentos, não desejo que minha filha seja associada à família Vélaz. Você é mal vista desde os boatos de traição que circulam nas redes sociais. E hoje cedo obtive a informação de que seu pai foi preso. Eu sou um político honesto e de caráter inquestionável. Não me associo com pessoas desonestas, portanto, o acordo matrimonial será desfeito. Seu pai não é o homem decente que imaginei.

Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo.

— Político honesto? – Ema estalou a língua. — Você é uma piada.

— Sarah, assine logo esse maldito documento. Eu tenho pressa para ir embora. – disse Norman, impaciente. — E que fique claro que sou eu quem não quer mais você.

O homem que acompanhava William e Norman, se revelou um advogado especializado em direito de família, retirou alguns papéis meticulosamente organizados da maleta e os colocou sobre a mesa de centro. Meus olhos seguiram o movimento das mãos dele enquanto depositava os documentos. Cada linha impressa representava um passo em direção à minha libertação.

Com tranquilidade, decidi encarar aqueles documentos como o portal para um novo começo. Era hora de seguir em frente, com coragem e resiliência, para moldar meu próprio destino. Após assinar os papéis, aguardei pacientemente enquanto Norman fazia o mesmo, selando assim o fim de um curto matrimônio.

Enquanto isso, Ema permanecia ao nosso lado, observando silenciosamente. Sua presença era reconfortante.

Com os papéis finalmente assinados e entregues ao advogado, uma sensação de leveza e liberdade começou a se instalar dentro de mim. Era como se um peso fosse retirado dos meus ombros, permitindo-me respirar mais livremente.

Sorri para Ema, sentindo um misto de alívio e gratidão por tê-la ao meu lado apesar dos obstáculos.

— Acabou. – disse, com um suspiro de alívio.

Ela assentiu com a cabeça e sorriu para mim. Então, com um gesto delicado, ela se agachou em minha frente, apoiando um dos joelhos no carpete.

— É cedo demais para te pedir em casamento? – ela perguntou. Me senti  inundada por uma onda avassaladora de felicidade. Levei as mãos à boca, incapaz de conter a emoção que transbordava em meu peito. Há tanto tempo, aguardava ansiosa por aquele pedido.
— Você realmente quer ser minha esposa, Ema? — perguntei eufórica.

— Claro. Seria uma honra. – respondeu Ema, com um brilho nos olhos.

Sem conseguir conter a emoção, a abracei com força, sentindo meu coração transbordar de ternura.

— Eu aceito casar com você, Ema. – declarei, com um sorriso que iluminava meu rosto.

— Como são bregas. – resmungou Norman.

Nada poderia diminuir a alegria que sentíamos naquele momento. Estávamos prontas para começar uma nova fase de nossas vidas juntas, com amor e esperança. Sabíamos que enfrentaríamos desafios pelo caminho, mas também compartilharíamos momentos de felicidade.

Era o início de uma jornada, onde construiríamos nossa própria família, repleta de amor.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now