Capítulo XXXI

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Despertei com o som do meu celular. Estendi a mão até a mesa de cabeceira, peguei o celular e vi o nome de Nicolas na tela. Ao atender, ele anunciou estar pronto, mas eu estava longe disso, minha voz embargada denunciava o sono.
— Abre a porta, Ema. – pediu Nicolas.
— Espere, mal acordei. – encerrei a ligação, colocando o celular na cama. Me levantei, sentindo meu corpo ainda pesado, e fui até a sala. Abri a porta para Nicolas, que parecia ansioso como um garoto prestes a experimentar algo novo.
— Ema, como conseguiu dormir? Estou contando os minutos para o acampamento desde o nosso encontro.
— Entre. Eu vou tomar banho. –  disse, afastando-me da porta.
— Comprei comida, água mineral e umas cervejas. Ah, comprei repelente também. –  informou Nicolas. — Compraram colchonetes?
— Sim. – respondi. — Lanternas, barracas... Fique tranquilo, você não vai dormir ao relento.
Nicolas, animado, se aproximou.
— Ema, me diga, acha que a Gabriela gosta de homens sem pelos? Nunca fiquei com uma mulher que gostasse de homens e mulheres. Então, decidi depilar. Quer ver?
— Ver o quê? – indaguei confusa. — Você não está querendo mostrar seu pênis? Está?
— Ema, você é como um médico, não tem interesse nele, então, por que não pode ver e me dizer se está legal?
— Poderia te dar várias razões, mas vou te dar apenas uma. Eu não quero ver, ok? – respondi.
— Por favor, me ajuda. – insistiu Nicolas.
— O que acharia se eu te fizesse esse tipo de proposta?
— Normal. Quer que eu veja? Você é o tipo de mulher que depila? Tem aquelas que fazem moicano, né?
— Que droga é essa, Nick? – estreitei os olhos.
— A Sarah parece o tipo que depila tudo.
— Chega, Nicolas. Não me faça te bater. – voltei a andar.

***

Às quatro da tarde, dirigi-me à casa de Sarah, com Nicolas ao volante. O bagageiro estava abarrotado de coisas, dando a impressão de que nosso acampamento duraria semanas. Ao pararmos em frente à casa de Sarah, soltei o cinto de segurança e desembarquei, seguida por Nicolas.
— Precisa de músculos, Ema? – ele perguntou, arregaçando as mangas da camiseta.
— Venha. – bati na porta e logo fui atendida por Sarah, que sorriu ao me ver.
— Achei que havia esquecido de mim. – disse ela.
— Não seria possível. – respondi.
— Isso foi fofo. – ela me deu um selinho.
— Suas amigas estão prontas? – perguntei.
— Sim, vou chamá-las. – Sarah saiu em direção ao corredor.
— Você é fofa. – Nicolas disse baixo, segurando o riso. Mostrei o punho fechado para ele.
— Não me amola. – resmunguei.

***

Partimos para o parque florestal em dois carros. Nicolas conduzia um deles. E foi o responsável por buscar Gabriela em casa. Enquanto isso, Sarah, Mariana, Daniele e eu acompanhávamos no carro de Sarah, sendo eu a motorista naquele momento.
Ao adentrarmos uma estrada envolta pela vegetação, percebi que estávamos nos aproximando do destino.
— Estamos quase lá. – avisei.
— Ótimo. – Sarah apoiou a mão sobre minha coxa, olhando pela janela. Abriu o vidro e se inclinou na direção do vento, sentindo-o tocar seu rosto. — Que frio. – sorriu, voltando o olhar para mim. — Espero que me aqueça esta noite.
Daniele se colocou entre os assentos, segurando nos encostos de cabeça das poltronas.
— Compramos algumas coisinhas para apimentar a noite. – disse ela.
— Você escolheu? – Sarah perguntou, dirigindo-se à amiga.
— Eu e a Mari. – respondeu Daniele.
— Ema está ansiosa para usar em você. – disse Mariana, fazendo-me olhar para ela pelo espelho interno do carro.
— É mesmo, Ema? – Sarah sorria maliciosamente. — Mal posso esperar por isso.
Esbocei um pequeno sorriso. O rumo daquela conversa estava me deixando insegura. Apesar de Mariana ter me ajudado a compreender a teoria, ainda não tinha conhecimento prático no assunto.
Quando finalmente alcançamos o início da trilha, estacionamos os veículos para prosseguir a pé. Nicolas foi o primeiro a sair do carro, seguido por Gabriela, cujo carro estava um pouco à frente do de Sarah.
— Seu amigo está ficando com aquela garota? – Sarah indagou enquanto retirava o cinto.
— Não, mas pretende. – respondi olhando para Sarah.
— Você a conhece?
— Sim, já nos vimos na padaria. – falei baixo, saindo do carro. Sarah logo saiu também, dando a volta pela frente do carro e ficando à minha frente quando fechei a porta.
— É a moça da rosquinha? – indagou Sarah.
— Sim, mas não fui eu que a convidei. – respondi, seguindo para a parte de trás do carro.
— Aposto que ela está aqui por sua causa. – disse Sarah, seguindo-me.
— Não, ela veio pelo Nick. – afirmei, abrindo o porta-malas e retirando as mochilas. Nicolas caminhou apressadamente em minha direção, Gabriela o seguia dando passos calmos.
— Ema!
— Oi, Nick. – cumprimentei, colocando uma das mochilas no chão. Mariana e Daniele saíam do carro.
— Quero te apresentar a Gabriela. – disse Nicolas, sorridente.
— Tá. – olhei para ele, recolhendo as mangas do meu casaco até o início do cotovelo.
— Gabi, essa é a Ema. – disse Nicolas, olhando de mim para Gabriela.
— Oi. – acenei, sorrindo.
— Oi, Ema. Lembra de mim? – Gabriela se aproximou e me cumprimentou com um beijo no rosto.
— Sim, você trabalha na padaria. – respondi.
— É. – Gabriela me olhava. — Fiquei contente pelo convite.
— Ah, legal. – enfiei as mãos nos bolsos dianteiros da calça. — Essa é a Sarah. E elas são Mariana e Daniele. – apresentei.
— Oi. – disse Gabriela. — Moram por aqui? O rosto de vocês não é familiar.
— Não. – Mariana respondeu. — Eu e minha namorada moramos na capital, estamos aqui a passeio.
Gabriela esboçou um sorriso.
— Adoraria estar namorando também. É difícil encontrar uma boa opção para namorar nessa cidade, geralmente, as melhores já namoram ou são obstinadas pelo trabalho. – comentou ela.
— Gosta de mulheres? – Sarah perguntou tocando as costas de Gabriela. Apesar do sorriso cativante, notei o olhar desconfiado de Sarah.
— Sim.
— Gabriela, você entendeu a pergunta? – indagou Nicolas.
— Sim.
Um silêncio se instalou por alguns momentos, criando um clima desconfortável.
— Mas... Você pediu meu telefone. – disse Nicolas confuso.
— É, pedi.
— Por quê?
— Você é amigo da Ema. – disse Gabriela. Sarah me lançou um olhar de canto, como se dissesse "Eu sabia".
— Você aceitou o meu convite para acampar. – disse Nicolas. — Isso não pareceu um encontro?
— Não, você disse que a Ema iria acampar com a gente. – explicou Gabriela.
— Merda. – bufou Nicolas.
— Isso é ótimo. Ela está aqui por causa da minha namorada. – Sarah pronunciou com ironia.
— Sua namorada?! – Gabriela estava visivelmente surpresa.
— Gente...
— Não, Ema. – Sarah me interrompeu. — O seu amigo perdeu o juízo. – ela saiu andando com pressa.
— Que droga, Nick. – suspirei, antes de ir atrás de Sarah..

Continua...

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora