Capítulo LX

582 55 8
                                    

(Sarah narrando)

Sentei-me à frente de Ema, na cama, e uma bandeja estava entre nós. Delicadamente, cortei um pedaço da panqueca e o aproximei da boca dela.
— Abra essa boquinha.
— Você está me mimando demais.
— Abra a boca, Ema. – insisti.
— Você está bastante mandona. – Ema abriu a boca. E eu a alimentei, observando-a mastigar, ofereci outro pedaço de panqueca. Após a segunda panqueca, ela se deu por satisfeita.
— Já estou cheia.
— Beba um pouco do suco. – peguei o copo com suco de laranja e aproximei o canudo dos lábios de Ema. Ela sugou o líquido, olhando para mim. — Muito bem.
— Sério, não cabe mais nada dentro do meu estômago. – Ema afastou seu rosto do copo. — Eu preciso caminhar.
— Vamos caminhar. – me levantei e peguei a bandeja. — Vou levar a bandeja até lá embaixo. Quando eu voltar, te ajudo a trocar de roupa, vamos dar uma volta na pista de cooper.
— Pista de cooper? Isso é um sonho? – Ema indagou sorrindo.
— A pista pertence ao condomínio, tem uma academia e quadras de futsal, vôlei e tênis. Pode frequentar. Eu prefiro usar a minha academia particular, fica no andar debaixo, a vista para o jardim me ajuda a relaxar nos dias difíceis, bom... Nos dias mais difíceis, eu vou para o clube.
— Qual clube?
— Clube de praticantes de BDSM. Eu não irei se você não for. – respondi.
— Ah, entendi.
— Você não está pronta para frequentar esse tipo de lugar, e não vou te apressar, tá? Eu gosto do jeito que as coisas estão entre nós.
— O que deixa o seu dia difícil? – Ema me olhava.
— Amor, sou advogada criminalista. O estresse faz parte da minha rotina. Eu lido com clientes que costumam achar que sou uma maga que magicamente vai apagar o histórico deles. Eles mentem, não que isso me prejudique, eu ganho 200 reais por hora. Quanto mais tempo eles levam para me contar a verdade, mais tempo levo para resolver o caso.
— Nossa... Você ganha em dois dias o que eu ganho em um mês. – Ema comentou chocada.
— Sem sujar minhas mãos. – sorri. — Obrigada por manter as ruas seguras, patrulheira. – dei um selinho em Ema.
— Uma advogada criminalista. – Ema respirou fundo. — Pior que isso, só se eu namorasse uma traficante.
— Eei, você está falando mal de mim, sabia? Eu ajo dentro da lei. – me defendi. — Eu seleciono bem os meus clientes, apesar de todos terem direito a defesa, eu jamais vou defender pessoas que fazem mal para crianças. Embora meus clientes não sejam santos, são devidamente julgados e, se considerados culpados, cumprem as penas correspondentes.
— Hm. – Ema estreitou os olhos. — É o seu trabalho. Eu entendo, só que...
— Minha mãe tem uma fundação que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica. Eu sou uma das doadoras fixas. Pode conhecer o lugar se quiser, algumas pessoas fazem trabalho voluntário lá. Eu já fiz, mas ultimamente não tenho tempo.
— Sua mãe é uma boa samaritana e seu pai um carrasco? Como o casamento deles funciona?
— Meu pai não é completamente ruim. Ele só... Passa do limite para proteger a família, sabe? Não estou justificando os atos dele, só explicando os motivos dele.
— Alfredo discordaria de você. – Ema retrucou. Fiz um leve aceno com a cabeça, concordando.
— Tem algo que preciso te contar. – apoiei a bandeja na cama e sentei perto dela. — Eu vou contar para a minha namorada, certo?
— Tudo bem.
— Quando eu tinha 18 anos, sai com um cara depois da balada. Eu ainda estava me descobrindo. A questão é que esse cara era um traficante de drogas. Eu não sabia disso, até a polícia nos abordar em uma blitz. Acharam cocaína no meu casaco, Ema, mas eu nunca usei droga alguma. Aquele filho da puta plantou a droga no meu casaco quando o deixei na cadeira para ir ao banheiro. Fui acusada de posse ilegal de droga. Eu fui conduzida até a delegacia. Liguei para o meu pai, e graças a ele, saí ilesa. Não voltei a ver o cara da balada. A questão, Ema, é que eu devia um favor para o meu pai. E ele me cobrou quatro anos atrás. Eu defendi o Eurico Ferreira, o homem que foi acusado de matar o seu parceiro na polícia.
— Meu Deus. – Ema soltou uma longa respiração. — Você sabia que o seu pai era o mandante?
— Ema, eu conheço o meu pai, eu sabia que a morte do Alex iria ser vingada. Não havia nada que eu pudesse fazer. Já sentiu impotente?
— Claro, me senti assim quando fui transferida para Santa Mônica. E... Me senti um lixo por não ter conseguido impedir o Alfredo de machucar o seu primo. Eu juro que tentei, Sarah, mas eu estava a pouco tempo na corporação, eu não era páreo para o Alfredo. Eu apenas aceitei a minha culpa por ser omissa. Sua família tinha o direito de mover uma ação contra mim e contra o Alfredo, tínhamos que pagar pelos nossos atos. No entanto, o seu pai se excedeu. Tirar a vida do Alfredo não trouxe a vida do Alex de volta.
— Eu concordo com você, mas acredite, Ema, meu pai nunca me ouviu. Eu nunca permitiria que ele orquestrasse a morte de alguém, tampouco que te prejudicasse. – comentei. — Te peço desculpas.
— Não precisa se desculpar, Sarah. Você fez o que tinha que fazer. Podemos discordar em algumas atitudes, mas nunca vou te julgar. – Ema me olhava. — É verdade que não gosto do seu pai, mas gosto de você.
— Eu também gosto de você. Muito, Ema. – toquei suavemente o rosto dela. — Queria ser a maga que meus clientes imaginam que sou, assim poderia mudar nosso passado. Alex estaria vivo, fazendo reabilitação. E você estaria em um cargo mais alto na polícia.
— Não dá para mudar o passado, mas podemos fazer uma caminhada. Relaxar a mente e focar no presente. Seu pai fez algo de bom ao criar você.
— Isso soa quase como uma declaração de amor. – sorri. — Vamos correr, aposto que consigo te vencer.
— Eu não teria tanta certeza disso. – Ema sorriu para mim.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora