Capítulo LVIII

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(Ema narrando)
 

Me preparava para deixar a enfermaria, quando o assessor do prefeito adentrou o local, seguido por Nicolas.
— Você não vai se aproximar dela. – Nicolas o segurou pelo antebraço.
— Deixa, Nick. – dei passos em direção ao sujeito. — O prefeito não é homem o suficiente para vim até aqui? – questionei.
O sujeito puxou o braço e olhou emburrado para Nicolas.
— Não me toque com suas patas sujas. – disse ele, batendo dias vezes no antebraço, como se tirasse algum pó.
— Ema...
— Nicolas, fique quieto por um minuto. É tudo que darei para o capanga engravatado do William.
— Seu segurança particular precisa sair. Vim falar apenas com você. – disse o homem, seu semblante era sério.
— Não vou sair. – Nicolas cruzou os braços e se pôs ao meu lado. — Na última vez, que ela ficou sozinha, tentaram matar ela.
— Ele vai ficar. – encarei o sujeito. — Agora, desembuche.
— Se você puder esquecer o incidente de mãos cedo, será recompensada por isso. – o homem tirou um cheque de dentro do paletó e me ofereceu.
— Imagino que o dinheiro não venha direto da conta do prefeito, mas com certeza foi ideia dele tentar comprar meu silêncio, já que a filha dele fez uma grande bagunça. Vão comprar meus vizinhos também? A pistola que a Norman usou era do prefeito? Ou foi comprada nas ruas? – cheguei mais perto do assessor. — Diga para o William que eu tenho caráter. E jamais vou aceitar suborno.
— Tem 50 mil aqui. Melhor você pegar. Sua falsa honestidade já foi desmascarada há muito tempo. Alex que o diga. – o homem sorriu de canto. — Pegue.
Respirei fundo e olhei para Nicolas.
— Pode se retirar por um instante? Não quero que se prejudique por minha causa.
— Ema, você não pode...
— Saía! – ordenei.
— Você vai se arrepender disso. – Nicolas deixou o local com pressa.
— Eu sabe a que você iria aceitar. – disse o sujeito.
— Algumas pessoas tem preço. – sorri, olhando-o. — Outras tem valor. – fechei o punho, enfaixado e desferi um soco contra o rosto do sujeito.
— AAA... Que droga! – ele levou a mão a bochecha direita, ainda desnorteado pelo impacto do golpe.
— Diga para o William que nem mesmo todo o dinheiro dele seria capaz de me comprar. – sai andando.

***

Nicolas percorria a rodovia com o interior do carro imerso em silêncio.
— Eu já imaginava que recusaria o dinheiro do prefeito. – comentou ele, quebrando o silêncio.
— Hum. – desviei o olhar para fora da janela.
— Ema, é sério. – insistiu Nicolas.
— Concentra na estrada. Uma tentativa de homicídio hoje já é o bastante. – retruquei, encarando-o.
— Você é forte, Ema. A Norman não teria conseguido te matar.
— Tem certeza? Porque na hora em que ela apontou a pistola para mim, parecia bem possível. – respondi.
— Não devia ser mais grata pela vida? Pelo menos me trate melhor, afinal, passei a noite cuidando de você. – comentou Nicolas.
— Você e a Sarah estavam tramando pelas minhas costas. Praticamente fui raptara do hospital. – reclamei.
— Estou apenas seguindo ordens.
— Trabalha para a Sarah? – questionei.
— Já viu aquela advogada brava? Ela disse que... Esquece, Ema. Liga para ela, diz que estamos a caminho de Nova Aurora. – sugeriu Nicolas.
— Pare de ser conivente com as loucuras da Sarah. E não esconda nada de mim. – voltei a fitar a paisagem pela janela.
— Ela queria te proteger, assim como eu. — defendeu ele.
***
Despertei ao som de um sussurro próximo ao meu ouvido. Ao abrir os olhos lentamente, deparei-me com Sarah inclinada na minha direção, suas mãos repousavam suavemente nos meus ombros.
— Bem-vinda, Ema. – cumprimentou ela, sorrindo.
— Onde estou? – olhei para o banco do motorista, vazio.
— Na garagem da minha casa. – Sarah se afastou, estendendo o braço. — Vem, amor. Precisa trocar essas ataduras.
— E o Nicolas? – me sentia enjoada da viagem.
— Entrou em casa com a Mari e a Dani há alguns minutos. – respondeu Sarah.
— Onde esteve?
— Quer discutir isso agora? São 4 da manhã. Vamos descansar.
— Procurou a Norman?
— Não.
— Onde você estava, Sarah? – insisti.
— Fui até sua casa para garantir que não sumissem com a arma da Norman. Mas um sujeito chamado Palhares já estava lá. A arma desapareceu, acredito que ele a pegou a mando do prefeito.
— Você sabe o quão traiçoeiro é o pessoal do William? Pare de se envolver nos meus problemas, Sarah. Posso lidar com isso sozinha. – respondi chateada.
— Amor, a Norman quis te matar por minha causa. Como posso ignorar isso?
— Estamos longe de Santa Mônica. Vim aqui para recomeçar minha vida. Não quero falar da Norman e do William.
— Tá, vou esquecer esse assunto, mas se o prefeito ou a filha dele mexerem contigo de novo, vou me meter. Não importa o que você diga. – afirmou Sarah.
— Você é tão teimosa. – sorri fraco.
— Foi pessoal, Ema. – Sarah subiu a mão esquerda para minha nuca. — Se ela tivesse... – respirou fundo. — Eu mato a Norman se ela chegar perto de você de novo.
— Ei, o que é isso? – encarei Sarah. — Quer se tornar uma criminosa como ela?
— Vou perder o controle, Ema. – Sarah desviou o olhar. — Seria minha culpa, não suportaria.
— Não seria sua culpa. – toquei o rosto de Sarah com a costas da mão.
— Ema, isso é sangue? – segurou meu pulso, conferindo minha mão.
— Sim, soquei o rosto do assessor do William. Ele me ofereceu suborno. – respondi.
— Gosto do seu lado malvado, sabia? Acho sexy. – Sarah sorriu.
— Meu lado malvado deixou minha mão dolorida. – abaixei a mão. — Acho que vou precisar de ajuda para tirar a roupa.
— Me prontifico para ser sua cuidadora nas próximas horas. Dou banho, comida e beijinho. – disse Sarah.
— Nicolas deixou minha bagagem para trás. Estou apenas com um cartão do banco, meu RG e uns vinte reais em espécie. – confessei.
— Resolvemos isso mais tarde. Agora pode vestir algo meu. – ajudou-me a sair do carro.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora