Capítulo CLXXVIII

292 39 0
                                    

(Sarah narrando)


Acordei com o lençol envolto em meu corpo. O espaço de Ema havia sido preenchido por uma bandeja de café da manhã, com sanduíche, uvas e suco de laranja. Olhei ao redor e vi meu creme cicatrizante sobre a mesa de cabeceira. Levantei o lençol e observei meu abdômen nu. Minha pele estava indolor e quase sem marcas da noite passada.

Sentei-me na cama e tomei o café da manhã preparado por Ema. Liguei a TV e zapeei pelos canais até encontrar um noticiário onde Catarina era entrevistada.

— Ele ficará preso até o julgamento, pois apresenta risco de fuga. Seria ingenuidade liberá-lo.

— Detetive, é verdade que o secretário de justiça foi denunciado pela própria filha? – indagou a repórter.

— Encerramos por aqui. – disse Catarina, abandonando os holofotes e retornando para dentro da delegacia.

Desliguei a TV e fui para o banheiro, onde tomei um banho relaxante e escovei os dentes. Vesti uma roupa leve: uma blusa que terminava pouco acima do umbigo, um short e um par de tênis. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e desci para a sala. Fui para a pista de corrida e logo encontrei Ema, fazendo flexões próximo à pista. Parei perto dela e mordi meu lábio inferior ao olhar sua silhueta detalhadamente. Ema me olhou e parou o exercício.

— Achei que era uma miragem. – disse ela em tom de brincadeira.

— Acordei bem disposta. Tive uma noite muito boa, sabe? – sorri.

— É mesmo? – Ema se levantou. — Como foi sua noite?

Toquei os braços de Ema.

— O que eu disse sobre bracinhos à mostra? – apertei o tríceps de Ema e suspirei, era quase inevitável babar por seu físico.

— Está quente.

— Ah, sem dúvida está quente, principalmente dentro da minha calcinha. – confessei, fazendo Ema rir, suas bochechas ruborizaram.

— Você gosta de me ver envergonhada?

— Não, eu prefiro te ver me submetendo às suas vontades. – subi as mãos para o rosto de Ema. — Eu adorei a noite, amor. Na verdade, adorei nosso dia. Você estava tão confiante. A confiança te cai bem, te deixa mais sexy.

— Eu fiz um belo estrago em você. – disse Ema, subindo as mãos por baixo da minha blusa.

— Não. Eu estou prontíssima para mais uma sessão de spanking — respondi.

— Ainda não tenho tanta familiaridade com os termos, mas gostei daquele instrumento de ontem.

— Flogger. Use-o quando quiser. Eu adoro a sensação de pele ardendo e doendo ao mesmo tempo.

— Agradeça ao meu índice de álcool no corpo. Escolhi o flogger instintivamente. Acho que Mariana iria reprovar minha atitude, fui imprudente.

— Você precisa assistir à Mariana no clube. Os instrumentos que ela usa na Dani são bem mais flagelantes. Não que seja uma competição de quem causa mais dor. Afinal, a Dani é masoquista. E eu não sei se me encaixaria nisso. Eu gosto da dor, mas também consigo sentir prazer apenas me sentindo dominada.

— Eu vou estudar os termos, assim não farei vergonha a você no meio de seus amigos do clube.

— Eu nunca sentiria vergonha de estar com você. – fiz carinho no rosto de Ema, olhando-a nos olhos. — Obrigada pelos cuidados e pelo café da manhã. – dei um selinho em Ema.

— Vamos voltar para casa? Quero tomar banho. – disse Ema.

— Sim. O que acha de um banho de piscina? Parece um bom dia para aproveitarmos a companhia uma da outra. – envolvi o tronco de Ema com meus braços.

— Pode ser. Vamos deixar os assuntos chatos para depois.

— Quais assuntos chatos? – arqueei uma sobrancelha.

— Repórteres na entrada do condomínio, e bem, Catarina te ligou. Como você estava dormindo, atendi. O julgamento do seu pai sobre o caso do Rodolfo vai ser marcado. Nós duas seremos intimadas a depor.

— Hmmm... Está confortável com isso?

— Confortável não é a palavra certa, mas aceitei que preciso fazer isso para que seu pai seja responsabilizado pelo assassinato do Rodolfo. Agora, só preciso convencer a Verônica e talvez a Renata a relatarem à polícia o que acontecia na boate.

— Renata? Acho que preciso conhecê-la. Não fui apresentada à sua amiguinha stripper.

Ema riu.

— Ela não é minha amiga, mal nos falamos no dia do tiroteio. Ela parecia em choque.

— E você se sentiu comovida e ela se aproveitou da sua gentileza, não é?

— Não.

— Ema. – cruzei os braços, encarando-a.

— Ela me abraçou. Isso é se aproveitar da situação? Eu vi o pânico em seus olhos.

— Sim, ela pode abraçar a droga de um urso, não minha noiva.

— Está sendo malcriada. A Renata passou por uma situação muito delicada. É natural que ela buscasse conforto no primeiro rosto conhecido. – Ema argumentou.

— Tudo bem, mas chega de abraços. E de gentileza demais. Eu não quero estapear a garota. – respondi.

— Vamos aproveitar a manhã. Chega de Renata ou qualquer assunto externo. – disse Ema, saindo andando.

Caminhamos de volta para casa em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Quando chegamos, Ema foi direto para o banheiro, e eu segui atrás, observando-a enquanto tirava a roupa e ligava o chuveiro.

— Está me olhando por quê? – perguntou ela, sorrindo.

— Gosto de te observar. – respondi, tirando minha própria roupa e entrando no box com ela.

A água quente caía sobre nossos corpos, criando um ambiente relaxante e íntimo. Ema me puxou para mais perto, e nossos lábios se encontraram em um beijo apaixonado. Sentia a conexão entre nós se intensificar, como se cada toque fortalecesse nosso vínculo.

Depois do banho, vestimos nossas roupas de banho e fomos para a piscina. Deixamos os celulares sobre a mesa de apoio, entre as espreguiçadeiras. O sol brilhava intensamente, e a água azul estava irresistivelmente convidativa. Mergulhamos e nadamos por alguns minutos, aproveitando a sensação refrescante.

— Ema, você acha que estamos preparadas para o que vem pela frente? – perguntei, boiando ao seu lado.

— Eu acho que somos mais fortes do que pensamos. – respondeu ela, colocando os braços debaixo do meu corpo e me conduzindo sobre a água.

— Desculpa, quebrei a promessa, estamos falando de problemas. – confessei, sentindo-me um pouco culpada por não conseguir esquecê-los.

— Não precisa se preocupar. – Ema disse, me puxando para um abraço aquático.

Passamos o resto da manhã na piscina, conversando sobre coisas leves e rindo. Tentando esquecer os problemas por um momento e apenas desfrutar da companhia uma da outra.

Quando saímos da piscina, nos deitamos nas espreguiçadeiras, deixando o sol secar nossos corpos. Ema virou-se para mim, seus olhos brilhavam com uma mistura de amor e preocupação.

— Eu estive pensando... Talvez devêssemos planejar a viagem  de lua de mel. Precisamos nos afastar de tudo e todos por um tempo. – sugeriu ela.

— Parece uma ótima ideia. Para onde você gostaria de ir? – perguntei, animada com a perspectiva.

— Não sei, talvez uma praia isolada ou uma cidade pequena no interior. O importante é estarmos juntas, longe de toda essa confusão. – respondeu Ema.

— Concordo. Vamos fazer isso. Vai ser bom para nós. – concordei, sentindo um peso sair dos meus ombros com a perspectiva de um futuro mais tranquilo.

De repente, o celular de Ema tocou. Ela suspirou e atendeu, ainda deitada ao meu lado.

— Sim, Catarina? O que houve? – ouvi Ema dizer, seu tom de voz havia  ficando mais sério.

Pude ouvir Catarina do outro lado da linha, falando rapidamente. Ema assentiu algumas vezes, murmurando respostas curtas. Quando desligou, virou-se para mim com uma expressão preocupada.

— Parece que teremos que ir à delegacia mais cedo do que planejamos. Há novas evidências que precisam ser discutidas. – disse ela, levantando-se da espreguiçadeira.

— Vamos lá, então. Quanto antes resolvermos isso, melhor. – respondi, levantando-me também.

Voltamos para dentro de casa, trocamos de roupa rapidamente e saímos. No caminho para a delegacia, segurei a mão de Ema com força, buscando conforto em seu toque.

— Vamos ficar bem. Juntas, lembra? – disse ela, apertando minha mão de volta.

— Sim, juntas. – concordei, tentando ignorar a sensação de ansiedade que crescia em meu peito.

Ao chegarmos na delegacia, fomos recebidas por Catarina, que nos conduziu para uma sala reservada. Sentamos ao redor de uma mesa, e ela começou a explicar as novas evidências que haviam surgido.

— Temos algumas testemunhas que estão dispostas a depor contra seu pai. Isso pode ser crucial para o caso. – explicou Catarina.

— Quem são essas testemunhas? – perguntei, curiosa e ansiosa ao mesmo tempo.

— Verônica e Nicolas. Eles decidiram que é hora de falar a verdade sobre o que acontecia na boate Moonlit Mirage. – respondeu Catarina.

Ema e eu trocamos um olhar.

— Parece que não precisamos convencê-los. – disse Ema, sorrindo para mim.

— Melhor assim. – disse, sentindo uma nova onda de esperança.

A reunião continuou por mais algumas horas, com Catarina explicando os próximos passos do processo. Saímos da delegacia exaustas, mas aliviadas. As coisas estavam finalmente começando a se encaixar.

— Vamos para casa e descansar. Merecemos isso. – disse Ema, segurando minha mão enquanto caminhávamos de volta para o carro.

— Sim, merecemos. – concordei, sentindo-me grata por ter Ema ao meu lado.

Chegamos em casa, ainda processando as novidades do dia. Depois de tanta tensão, tudo o que eu queria era um momento de paz com Ema.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Where stories live. Discover now