Capítulo LXXVI

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O retorno para casa de Sarah transcorreu em silêncio enquanto eu tentava organizar meus sentimentos, tudo parecia tão confuso em minha mente. Sarah respeitou o meu espaço até chegarmos à sua casa, no entanto quando entramos, ela me bombardeou com perguntas, tentando consertar algo que não estava quebrado.
— Ema, você está bem? Eu preciso saber se está bem, por favor, responda. Seu silêncio está me consumindo. – ela disse, preocupada.
— Estou bem. – respondi, avançando em direção à sala.
— Quer conversar? – Sarah me seguiu.
— Não.
— Ema, não faça isso. – ela interrompeu. — Não se afaste de mim. Eu não estou decepcionada com você.
— Não quero mais fazer isso, Sarah. Não consigo. – fui sincera. — Não posso tratá-la daquela forma. Não quero humilhá-la, muito menos causar dor. Você consegue lidar com isso? Não sou como Mariana ou Angelina. Lamento, mas não posso me transformar em alguém diferente da minha natureza. Se vai me deixar, faça isso logo, antes que se torne mais doloroso.
— Por que acha que vou te deixar? – Sarah indagou, surpresa.
— É o que acontece. – respondi.
— Não, Ema. Não sou sua ex. Não vou desistir de você. – Sarah tocou meu rosto. — Vou ficar com você, não importa como será o sexo, nem se teremos. Estou com você pelo que sinto. Eu te amo, Ema.
— Eu preciso de ajuda.
— Que tipo de ajuda? – Sarah perguntou.
— Ajuda para tirar a roupa. Estou quase fazendo xixi. – respondi, e Sarah sorriu levemente.
— Posso ajudar nisso. – disse ela. Colocou meu cabelo para o lado e começou a soltar meu espartilho, o que me trouxe alívio.
— Finalmente, minhas costelas voltaram para o lugar certo. – murmurei.
— Ainda estamos tendo uma D.R.? Ou já estamos bem? – Sarah perguntou, voltando à minha frente.
— Acho que estamos bem. – respondi. — Agora, preciso ir ao banheiro. – dei passos apressados em direção à escada.
— Voltamos a conversar quando você esvaziar a bexiga. – Sarah disse, com um sorriso.

***

Era madrugada quando desci em direção à cozinha, em busca de um pouco de água para saciar minha sede. Meu sono estava irregular naquela noite. Ao entrar na cozinha, acendi a lâmpada e peguei uma jarra de água, despejando um pouco do líquido em um copo. Após beber, me sentei à mesa e acabei cochilando sobre meus braços. Fui despertada abruptamente por Nicolas, que empurrava meu ombro.
— Ema?! Você está sonâmbula? – perguntou Nicolas, intrigado.
— Eu não sou sonâmbula. – ergui a cabeça, com os olhos semicerrados.
— Por que está dormindo na cozinha? – ele continuou, curioso.
— Eu vim beber água e... Sei lá, acho que a calmaria me fez dormir. – bocejei. — Por que você está usando batom?
— Estou? – Nicolas passou um dos dedos nos lábios e observou. — É, tem batom. É da Verônica. – ele sorriu. — Você precisa conhecê-la, Ema. Ela é tão linda. – sentou ao meu lado. — Eu a convidei para sair, ela disse que vai tentar encontrar uma babá para a Vanessinha. – ele tocou meu ombro. — Bem que você podia cuidar da Vanessinha por uma tarde, né? Faz isso por mim, Ema?
— Quem é Vanessinha?
— A filha de 4 anos da Verônica. – respondeu Nicolas.
— Você realmente não consegue ficar longe das mães solteiras, hein?! – estalei a língua.
— Por favor, Ema. Cuida da Vanessinha por uma tarde. Eu prometo que se você precisar de um rim, eu doo para você.
— Você nem sabe se somos compatíveis, e além disso, seu rim deve ser ruim. – me levantei da cadeira.
— Ema, a Verônica quase nunca está de folga. Por favor, me ajuda. Eu acho que estou apaixonado. – Nicolas agarrou meu antebraço.
— Onde você conheceu essa tal de Verônica? Mal chegamos na cidade.
— No trabalho. Ela é dançarina exótica.
— Ahhh... Stripper? – franzi a testa.
— Dançarina. – corrigiu ele.
— Ok. – tirei as mãos de Nicolas do meu braço. — Eu vou falar com a Sarah amanhã de manhã. Se a garota puder vir para cá, eu cuido dela, mas só por algumas horas.
— Ema, eu te amo. – Nicolas me agarrou, prendendo meus braços.
— Arhhhh... – gruni.
— Você é a lésbica mais legal desse mundo. – ele me soltou.
— Droga, Nick. – respirei fundo, tentando recuperar o ar. — Parece um troglodita. Espero que não abrace a Verônica desse jeito, você vai parti-la ao meio.
— Gostou da minha pegada? Boa, né? – ele riu. Dei-lhe um tapa na nuca. — Aaai...
— Rum. – resmunguei. — Pelo menos você está cheirando a mulher.
— Deve ser o perfume da Verônica. Ela é tão cheirosa. A gente se beijou hoje, quando a deixei em casa. Eu não entrei. A Vanessinha estava dormindo. E seria estranho ela acordar amanhã e eu estar lá.
— Pelo menos está sendo respeitado. – comentei.
— Você já vai voltar para o quarto?
— Vou.
— Dorme bem. À tarde, você vai conhecer a sua futura cunhada. – Nicolas disse empolgado.
— Boa noite, Nick. – passei a mão no cabelo dele, fazendo um leve afago.

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