Capítulo CXXIX

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O ranger da porta do meu escritório em casa interrompeu meu foco na papelada espalhada pela mesa. Ema entrou segurando uma xícara, vestindo um pijama cinza composto por um short e uma blusa. Sorri ao vê-la.
— Você não deveria estar dormindo?– perguntei.
— Deveria, mas você também deveria. Já é quase uma hora da manhã, Sarah. – disse Ema, aproximando-se da mesa.
— Estou quase terminando de revisar o caso, amor. Estarei ao seu lado antes das duas.
— Não. – disse Ema, colocando a xícara sobre a mesa e vindo até mim. Ela segurou meu antebraço, ajudando-me a levantar. Havia uma almofada sobre a cadeira. — Está com seu bumbum dolorido?
— Um pouco, mas vai passar. – respondi, envolvendo os braços em torno do pescoço de Ema e dando-lhe um breve beijo. Quando nos separamos, Ema retirou a almofada da minha cadeira e sentou-se.
— O que acha de me ter como assento?
— Hmm... deixe-me pensar. Eu gostava da almofada, mas adoro ainda mais essas belas coxas. – falei, sorrindo. Sentei-me com cuidado sobre as coxas de Ema, minhas nádegas ainda estavam doloridas apesar da massagem com pomada analgésica que ela me dera após nossa sessão. Eu não tinha tido tempo para descansar, o trabalho me chamava.
— Beba o chá, tem gengibre, é bom para a garganta. Você se esgoelou hoje à tarde.
— Por que será, Ema? – brinquei, pegando a xícara. — É gengibre com o quê?
— Menta.
— Quem diria, está toda preocupada com seu amorzinho. – brinquei, dando um selinho em Ema. — Eu gosto quando você cuida de mim.
— É justo, eu te machuquei. – disse ela.
— Não, nada disso, tá? Eu deixei você fazer, então, nada de culpa. Eu adorei tudo, amor. Faria de novo, se não tivesse que continuar trabalhando.
— Vou ficar com você até terminar o trabalho. – disse Ema, envolvendo os braços em meu corpo.
— Que delícia de poltrona. – sorri. — Será que posso levar para o meu outro escritório?
— Talvez devesse tentar. – respondeu Ema, sorridente.

***

Despertei para o novo dia, ansiosa pelas promessas que ele trazia. Fui recebida por uma atmosfera tranquila, quebrada apenas pelo som suave da água corrente do chuveiro. Pouco depois, Ema emergiu do banheiro, com os cabelos ainda úmidos e os olhos fixos no brilho de seu celular, que iluminava seu rosto com uma luz azulada.
— Bom dia, amor. – estendi os braços, espreguiçando-me preguiçosamente.
— Sarah... – Ema me olhou, com uma expressão de perplexidade. — Acabei de falar com o Pedroso. Fui readmitida na polícia local, mas...
— Ema, vamos apenas celebrar a notícia, está bem? – levantei-me, afastando o cobertor e me aproximei dela. Envolvi-a em um abraço caloroso, depositando um beijo suave em seu rosto. — Quando começa?
— Não sei ao certo. Acho que devo passar na delegacia. Ainda estou processando tudo isso. – Ema parecia ainda incerta quanto à notícia.
— Pedi ao meu pai que te deixasse em paz. Parece que ele finalmente caiu em si e cumpriu o prometido. – sorri, esperando que minhas palavras aliviassem a tensão entre nós.
— Você não conseguiu isso tão facilmente, certo? O que teve que fazer em troca? – Ema me lançou um olhar perspicaz, semicerrando os olhos.
— Apenas ofereci meu apoio. – respondi sinceramente. — Vou acompanhá-lo em eventos chatos e manter minha boca fechada. Um acordo que beneficia a todos.
— Eu vou recusar a vaga. Não quero me envolver nisso. Seu pai vai criar problemas para você por minha causa. – Ema afastou-se, visivelmente inquieta.
— Ema, já aceitei a oferta. Está feito. – respondi, aproximando-me novamente. — E não se preocupe, não farei nada ilegal. Eu juro. Fui a Santa Mônica para provar ao meu pai que você é uma pessoa boa. E agora você está aqui, diante de mim. Tive dias maravilhosos ao seu lado. Confio em você e no seu caráter. Não permitirei que ninguém da minha família pense o contrário. Sei que não feriu o Alex. E não teria paz se meu pai continuasse a te punir.
— E agora, Sarah? Devo retornar à corporação sabendo que duvidam de mim, mas não podem me impedir de exercer minha função porque receberam ordens de cima? – Ema parecia angustiada.
— Você foi punida injustamente. Deve se preocupar com as vidas que vai proteger e os criminosos que vai prender. – tentei confortá-la.
— Devo agradecer ao seu pai? Não estou grata por ele devolver meu distintivo. Afinal, foi ele que me prejudicou. – Ema me encarou, com seriedade.
— Não, amor. Apenas siga o que seu coração mandar. – toquei seu rosto delicadamente. — Podemos comemorar com um café?
— Estou nervosa. Imagino como serei tratada, como alguém que não merece o cargo, mas o obteve mesmo assim. – Ema suspirou.
— Você merece sua posição. E qualquer um que te veja em ação saberá disso. – tentei amenizar sua tensão.
— Eu deveria estar feliz. – Ema respirou fundo. — Mas só consigo pensar em como fui tratada quando seu primo morreu. Fui interrogada como uma criminosa.
— Amor, você vai ficar bem? – toquei sua nuca, olhando-a nos olhos. — Tudo isso foi traumático para você. Não quer ficar no setor administrativo por um tempo, até se sentir pronta para voltar às ruas?
— Não, não vou deixar o medo vencer. – Ema respondeu com determinação.
— Tudo bem. – dei-lhe um breve beijo. — Estou aqui para o que precisar.
— Obrigada. – Ema sorriu levemente.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora