Capítulo CXVIII

277 44 4
                                    

Quando o salão se encheu, o ambiente foi tomado por risos e conversas descontraídas, enquanto uma suave música ecoava ao fundo. Os palcos permaneciam mergulhados na escuridão, enquanto nos bastidores, as garotas se preparavam para o início das apresentações. Fui equipada com um comunicador e um fone de ouvido, conectando-me aos quatro seguranças estrategicamente posicionados pelo salão.
— Ala sul está limpa. – um dos seguranças anunciou através do comunicador, enquanto seu rosto ainda me era desconhecido. Nicolas permanecia em silêncio, claramente magoado comigo.
Percorri o salão observando os frequentadores, a maioria com mais de 40 anos, vestidos elegantemente em trajes sociais e exibindo suas reluzentes alianças de casamento.
À medida que eu avançava, era impossível não perceber a atmosfera descontraída que envolvia o ambiente. O murmúrio das conversas era acompanhado pelo tilintar das taças de cristal. Era como se ali, naquele espaço, as preocupações com as aparências se dissipassem, criando um ambiente seguro onde os clientes pudessem temporariamente abandonar suas responsabilidades e simplesmente desfrutar do momento.
Quando as luzes do palco principal começaram a se mover, a música se sincronizou perfeitamente, destacando a presença discreta do DJ controlando as batidas lá no mezanino.
Aproximei o comunicador da boca.
— Oi. Alguém me ouve?
— Sim.
— Devo permanecer aqui no salão, entre os clientes? Ou devo me posicionar em outro lugar?
— Fique próxima ao palco. Estou na ala leste. O Daniel vai cobrir a saída. O Pablo está na entrada. Não sei onde está o Nicolas, ele não atualizou a posição.
— Entendido. – guardei o comunicador dentro do casaco. Peguei meu celular e comecei a escrever uma mensagem para Nicolas quando cinco mulheres ocuparam o palco, suas roupas escuras e justas marcavam as curvas. Verônica não estava entre elas. Enviei a mensagem para Nicolas:
"Cadê você?????"
Aguardei em vão pela visualização da mensagem enquanto observava as jovens dançar ao som envolvente de R&B, imerso na atmosfera vibrante do ambiente. Desistindo de esperar, guardei o celular no bolso traseiro da calça, resignada com a falta de resposta. Foi então que os palcos secundários se iluminaram, revelando dançarinas em movimento, cada uma trazendo sua própria energia e estilo único, incluindo Verônica, cuja presença destacava-se entre as demais.
Logo, as jovens dos palcos secundários iniciaram suas acrobacias, deslizando e girando habilmente pelas barras, exibindo sua destreza e flexibilidade. Enquanto isso, as mulheres do palco principal moviam-se com graça e sensualidade, executando uma coreografia envolvente e provocante. Eu não pude deixar de notar que os clientes nas mesas próximas estavam completamente absorvidos pela apresentação, seus olhares fixos e fascinados, capturados pelo espetáculo diante deles.
Finalmente, Nicolas apareceu, perambulando pelo salão sem um destino aparente. Distanciei-me do palco e segui em sua direção, determinada a abordá-lo. Interceptei seu caminho, fixando um olhar sério em sua direção.
— Onde você estava? – questionei.
— Fui ao banheiro, Ema. Apenas isso. — respondeu ele, continuando em direção à lateral do palco. Decidi seguir outro caminho, movendo-me para o início do salão em busca de uma visão mais abrangente do local.
As horas se arrastaram enquanto mulheres se revezavam nos palcos, entregando-se às suas performances. Entre uma apresentação e outra, eu espiava meu celular algumas vezes, trocando mensagens com Sarah, que aparentava estar sofrendo de insônia. Enquanto ela lutava para dormir, eu desejava poder fazer o mesmo.
A noite transcorreu sem incidentes e, por volta das 2 horas da manhã, as performances haviam chegado ao fim. Dirigi-me ao bar para me juntar aos seguranças, notando a ausência de Nicolas, que parecia ter desaparecido do local. Escolhi um lugar perto do balcão e, para minha surpresa, o bartender me ofereceu um drink.
— Beba isso. Vai energizar seu corpo. – sugeriu ele.
— Obrigada, mas no momento só posso aceitar água. – recusei educadamente.
— Tudo bem, eu pego pra você. – ele respondeu, indo buscar a água.
Enquanto esperava, um grupo de dançarinas ocupou as banquetas ao redor. Uma delas, com cabelos tingidos de vermelho, pediu um suco com vodka ao bartender. Eu a reconheci como uma das garotas do palco principal, agora vestida de forma mais casual.
Quando o bartender me ofereceu um copo de água mineral, a jovem de cabelos vermelhos observou-me enquanto eu bebia.
— Você é...? – começou ela.
— Eu? – respondi, olhando para ela.
— Sim, você. – insistiu.
— Ema. – respondi brevemente.
— Ah, então você trabalha aqui como o quê? Não te vi no palco. – questionou ela.
— Faço segurança. – respondi.
— Ouçam, meninas! Temos segurança feminina agora! – ela anunciou para as colegas, com um sorriso. Não consegui discernir se era zombaria ou genuíno interesse em minha presença.
Levantei-me e ela fez o mesmo.
— Posso ajudar em algo? – perguntei.
— Claro, bebê. Fique um pouco mais. Não te conhecemos e seria legal saber mais sobre você. – ela convidou.
— Não sou muito interessante. – respondi, enfiando as mãos nos bolsos do casaco.
— Discordo completamente. – ela retrucou. — Vamos deixe conversar um pouco antes de irmos embora. – sugeriu.
— Desculpe, não sou a melhor companhia para isso. – recusei.
— Está fugindo, Ema? Parece desconfortável. Até mesmo assustada. – Renata, como descobri depois, tocou meu ombro. — Relaxa um pouco. Só queremos jogar conversa fora antes de irmos embora.
— Não estou assustada, só um pouco cansada. – expliquei.
— Pobrezinha. Por que não usa o quarto de descanso? Geovana pode fazer uma massagem em você. – sugeriu ela.
— Não, obrigada. Vou para casa. – recusei.
— Você tem carro? – ela perguntou.
— Estou de carona com Nicolas. – respondi.
— É parente dele? – indagou ela.
— Não, somos apenas amigos. – esclareci.
— Amigos que dormem juntos? – Renata questionou sem rodeios.
— Não. – respondi de forma firme.
— Entendo. Ele é uma gracinha, mas não faz meu tipo. – ela comentou.
— Hm. – olhei ao redor e vi que o salão estava vazio.
— Ema, você tem uma vibe gay. Já te disseram isso? – ela provocou, e as outras garotas riram.
— Vibe gay? – estreitei os olhos. — O que te faz pensar isso sobre mim?
— Normalmente, as pessoas olham primeiro para os meus seios e depois para os meus olhos. E você está evitando me olhar por muito tempo. Acho que gosta de garotas e não quer me deixar desconfortável perto de você. Estou certa? – ela explicou com um sorriso malicioso.
— Renata, pare com isso. – Verônica se aproximou. — Eu conheço a namorada dela. É muito bonita e virá aqui te dar uma lição se continuar dando em cima da Ema.
— Não estou tentando nada. – Renata deu de ombros.
— Não finja ser inocente. Eu conheço você. – Verônica repreendeu.
— Ema, o Nick pediu para te chamar. Ele já foi para o estacionamento. – Verônica me informou.
— Estou indo. – respondi.
— Ema. – Renata me chamou.
— O que foi? – olhei para ela.
— Gostou da apresentação? – ela indagou com um sorriso sugestivo.
— Renata! – Verônica a repreendeu.
— Eu não vi... Eu... eu estava observando o salão. – respondi nervosamente.
— Você viu, bebê. Eu sei que viu. – Renata sorriu com malícia.
— Foge, guarda-costas. Renata pensa que é a Whitney Houston. – uma das dançarinas brincou, provocando risos entre as outras.
Afastei-me do balcão, seguida por Verônica.
— A maioria das garotas aqui é tranquila, mas Renata é um pouco atrevida. Tenha cuidado, ok? O fato de você ter uma namorada não vai afastá-la. – Verônica me alertou.
— O que eu fiz para chamar a atenção dela? – perguntei confusa.
— Nada, mas você é o tipo dela. – explicou Verônica.
— Acho que estou desacostumada a viver em uma cidade grande. Onde eu morava, as pessoas eram mais reservadas, e a quantidade de lésbicas na cidade podia ser contada nos dedos. – comentei.
— Bom, aqui tem pelo menos seis garotas que gostam de outras garotas. Algumas estão solteiras. – Verônica informou.
— Caramba. – fiquei surpresa.
— É, Ema, depois de algumas bebidas, as coisas ficam confusas. Recomendo que não dê muita abertura para algumas delas. E coloque Renata no topo da lista. – Verônica aconselhou.
— Obrigada pelo aviso. – agradeci com um sorriso fraco.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora