Capítulo LXXVII

536 55 15
                                    

(Sarah narrando)

Despertei ao lado de Ema. Observar seu rosto em repouso era como contemplar uma obra de arte cuidadosamente esculpida. Cada curva delicada e cada traço suave pareciam ter sido meticulosamente desenhados para transmitir serenidade. Com um sorriso leve nos lábios, acariciei sua bochecha, sentindo a maciez da sua pele sob meus dedos. Decidi deixá-la descansar um pouco mais e me levantei da cama, caminhando pelo quarto com passos suaves, como se temesse perturbar o tranquilo silêncio da manhã. Rumo ao banheiro, deixei Ema entregue aos seus sonhos, aproveitando a calma do momento.
A água fria da torneira trouxe um choque revigorante ao lavar o rosto, despertando todos os sentidos. O aroma fresco do sabonete preencheu o ar enquanto eu escovava os dentes, e a sensação da água morna do chuveiro escorrendo pelo corpo era como um abraço reconfortante da manhã. Após o banho revigorante, envolvi-me em um roupão macio, deixando que meus cabelos úmidos secassem naturalmente, enquanto o vapor do banheiro criava uma névoa suave ao meu redor.
Retornando à cama, encontrei Ema acordada, perdida em seus próprios pensamentos. Sentei-me ao seu lado, sentindo o colchão ceder sob meu peso, e beijei suavemente sua testa, transmitindo todo o amor e tranquilidade que eu sentia naquele momento.
— Bom dia, amor. O que planeja para hoje? – indaguei, deixando minha voz ecoar suavemente no ambiente.
Ema, com as pernas estendidas na cama, revelou que Nick havia solicitado sua ajuda como babá mais tarde.
— Ele roubou uma criança? – brinquei, erguendo uma sobrancelha em humor, enquanto minha mão encontrava o ombro dela e deslizava suavemente até sua nuca, sentindo a textura macia da pele sob meus dedos.
Ela explicou sobre a mulher com uma filha de quatro anos que Nick estava interessado.
— Hm. – murmurei pensativamente, considerando a situação. — Estou de folga, posso te ajudar nisso.
— Faria isso? – Ema perguntou, olhando-me com uma expressão mista de surpresa e gratidão.
— Claro. Eu gosto de crianças. E amo você. Por que não tornar isso em um momento agradável para todos? – sugeri com um sorriso gentil.
Entretanto, a conversa logo mudou de rumo quando Ema mencionou o incidente do dia anterior. Rapidamente, assegurei-a de que não era necessário discutir o assunto, enfatizando que nossa felicidade era o mais importante.
— Eu estou feliz contigo, e quero que encontre sua própria felicidade também. – declarei, abraçando-a com ternura, sentindo o calor do seu corpo se fundir ao meu.
Ema respirou fundo, compartilhando suas lutas internas desde seu retorno à cidade.
— Estou tentando me reencontrar. Tem sido muito complicado me reerguer. – confessou, revelando sua vulnerabilidade, enquanto eu acariciava suavemente suas costas, transmitindo todo o apoio e compreensão que eu pudesse oferecer.
— Eu gosto da nova Ema. – afirmei sinceramente, olhando em seus olhos com apreço, enquanto um sorriso terno se formava em meus lábios. — E você gosta dela também?
— Acho que sim. – respondeu ela timidamente, aceitando aos poucos a nova versão de si mesma.
Então, o assunto voltou para Nick e sua possível jornada como padrasto. Brincando, sugeri a ideia de sermos "tias Sarah e Ema", enquanto imaginávamos levar a garotinha para passear no parquinho do condomínio, caso a mãe concordasse.

***

O café da manhã transcorreu de forma tranquila. Nicolas se juntou a nós, e abriu um sorriso largo no rosto ao ser questionado sobre sua nova companhia.
— Onde conheceu essa mulher que está ocupando seus pensamentos? – perguntei, levando uma torrada à boca. Ema estava ao meu lado, e Nicolas em frente a nós.
— Na boate. Ela trabalha lá. – respondeu Nicolas.
— Interessante. Ela é bartender?
— Não, é dançarina.
— Ah... Será que ela pode me dar umas aulas de dança? Não sou lá muito habilidosa nisso. – perguntei após mastigar.
— Dançar no mastro? – Nicolas questionou.
— Sim, acho sensual. – pisquei para ele.
— Acredito que ela possa te ensinar. – disse Nicolas.
— Olha só, Ema. Estou prestes a me tornar uma dançarina profissional. – brinquei.
— Apenas para apresentações privadas? – Ema perguntou com um sorriso divertido.
— Exatamente, querida. – dei-lhe um selinho. — Eu só me dispo para você.
— Sarah... – Ema repreendeu-me baixinho. Quando olhei para Nicolas, percebi que havia sido indiscreta.
— Desculpe, Nick. Eu... não quis ofender sua namorada.
— Está tudo bem. Ela não chega a esse extremo. Apenas dança. Não se envolve com os clientes. É apenas trabalho, não é? – Nicolas tentou suavizar o constrangimento.
— Sim, é trabalho. – respondi com um leve sorriso.

***

Eu estava no jardim, decidida a fazer alguns exercícios ao ar livre com Ema. Sobre um tapete fino e preto, estávamos fazendo abdominais.
— Treze, quato... – desisti, estirando-me no tapete. — Estou completamente fora de forma. Você é pior que um personal trainer. – brinquei, sem fôlego. Ela riu, terminando o exercício.
— Quase conseguiu.
— Quer que eu me movimente? Você tira minha roupa e eu me movimento sobre você... Bem nesse rostinho. – apontei para o rosto dela e mordi o lábio inferior.
— Ei! – Nicolas gritou da entrada da sala. — O porteiro ligou. Deixaram umas flores para a Ema lá na portaria.
— Quem ousou dar flores para a minha namorada? – sentei-me abruptamente no tapete, fitando Nicolas.
— Ema tem uma admiradora secreta. – Nicolas brincou, fazendo-me bufar.
— Vou fazer essa admiradora secreta engolir até os talos das flores. – resmunguei.
— Eu não entrei em contato com ninguém do meu passado. Isso deve ser um engano. – Ema se justificou.
— Engano ou não, vou descobrir quem é o remetente. – levantei-me.
— Eu vou buscar as flores. – disse Nicolas.
— Se apresse, por favor! – implorei, observando-o caminhar tranquilamente pelo gramado.
— Enquanto você investiga sobre a entrega, eu vou fortalecer meus bíceps. – Ema começou a fazer flexões de braço.
— Vou desmembrar a atrevida que te enviou as flores. – resmunguei.
Nicolas retornou 8 minutos depois, quase contei os segundos. Encontrei-o no gramado. Arranquei o cartão cravado entre as flores brancas e li o que estava escrito:
— "Gostaria de ter a oportunidade de conhecê-la melhor, sei que me precipitei..." – resmunguei alto. — Assinado Angelina. – olhei para Ema. — Ouviu? A Lina quer te conhecer melhor. – bufei. — Nicolas, entregue as flores para sua namorada. Ou faça o que quiser com elas. Elas não entrarão na minha casa. E eu vou ligar para a Lina, isso foi inapropriado.
— Eu não deveria decidir se quero ou não ficar com as flores? – Ema questionou, levantando-se calmamente. — São apenas flores.
— Você ouviu a mensagem do cartão? Você não conhece a Lina. Tenho a sensação de que ela tem segundas intenções. Mesmo assim, você gostaria de vê-la de novo? – indaguei, tentando disfarçar meus ciúmes.
— Ela faz parte do seu círculo social, então acabarei encontrando-a de qualquer forma. É melhor que seja um encontro agradável. Imagino que isso tenha sido um pedido de desculpas. – Ema recolheu o tapete e o dobrou ao meio. — Vou tomar banho. Você vem? – olhou para mim.
— Se preferir ficar com as flores, está tudo bem para mim. – concordei, procurando manter a calma.
— Não, não quero. Mas gosto de tomar minhas próprias decisões, Sarah. – Ema respondeu e começou a se dirigir para a entrada da sala.
— Eu sei... – respirei fundo. — Ela sempre está certa? – olhei para Nicolas.
— Quase sempre. – ele respondeu com um pequeno sorriso.

DOMINADORA POR ACASO (Sáfico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora