- Não vamos começar logo cedo outra vez, vamos?

- Não...- Sussurrei. - Porque estou com os pensamentos carregados demais tentando me entender...- Passei as mãos pelo rosto - Maryanne, a que ponto você chegou? - Sentei-me sobre a cama. - Prometi não beber desde quando...

- Ficou seminua na virada do ano.

- Não era para lembrar-me, idiota! - Resmunguei.

- Ás vezes é impossível não lembrar...

- Impossível é esquecer sua cara de espanto quando viu-me daquela forma. Qual era a necessidade de tamanha confusão? Não fiz por querer, fui dopada e hipnotizada por dois olhos negros apaixonantes. Negros como um céu de uma noite sem estrelas.

- Por isso mesmo. Você estava sob minha responsabilidade. E o que eu disse para você? Não suma, Maryanne, fique sempre ao meu lado, se puder, agarre-me!

- Ok, Pedro.- Olhei-o - Mas diga-me, o que te levou a pensar que eu realmente te obedeceria? - gargalhei sarcasticamente.- Eu, em um parque junto a milhões de pessoas, onde setenta por cento eram garotos, ficaria estacada ali ao seu lado, sendo pisoteada por você e outras mil, pessoas, além de te ver trocar beijos descarados com uma ruiva sem sal? Ata, Pedro, ata.- Revirei os olhos. - Sumi sim, confesso.
Beijei incontáveis bocas rubras, confesso outra vez. Porém, ponha-se em meu lugar... já estava com ânsia vê-los aos beijos.
Então o que eu iria fazer ao lado de alguém que não estava importando-se comigo? Nada. O mundo esperava-me atrás de você, embora não era um mundo tão fantástico. Mas eu queria divertir-me, Pedro. Libertar-me daquele ano estranho, confuso e melancólico naquele parque.
Espairecer um pouco, mas você proibia-me.

- Eu sei, Mary. Entendo tudo, mas eu te proibia porque aquele não era um ambiente para você. Não havia pessoas para você. Somente jovens bêbados e tarados. Porém insistiu para ir, e não adiantar dizer não para você. Todavia, mesmo dizendo incontáveis vezes: Maryanne, não vá para o outro lado, não vá... Você desobedeceu-me desnecessariamente por conta de sua rebeldia, embora eu havia deixado nítido a você, quando te peguei em sua casa, que trocaria beijos e mesmo que ficasse zangada, não tinha a opção de presenciar tudo, permanecendo em casa.

- Ok, ok... Você está sempre certo e eu errada, como sempre. Além de ter dito que não iria discutir logo cedo.- Olhei-o. Ele olhava-me também.- Vá, Pedro, diga.- Revirei os olhos.- Me lembre pelos vigésima oitava vez desse vexame, vai.

- Irei lembrar, porque talvez isso te faça perceber que o álcool e você não combinam.
Aquela cena de você somente com as partes íntimas, dançando em volta de uma árvore nunca saiu-me da mente...- Sussurrou.- Bêbados te desejavam loucamente.

- Isso já é o bastante. Ok, destruidor de manhãs.- Levantei e fui até a janela.

- Às vezes é necessário cutucar feridas. Mas saiba que é o para o seu próprio bem. É para te fazer pensar, acordar.

- Pode parecer cômico ou que minhas palavras soam como ironia, mas ainda dói. Essa ferida ainda dói. - Sussurrei.

- Você disse-me toda a verdade aquele noite, Mary?

- Sim.- Sussurrei.

Não.

- Tem mesmo certeza? - Assentiu.

- Já tem quase dois anos tudo isso, mas lembro perfeitamente. O que eu te disse foi realmente a mais pura verdade.

Não. Não foi.
É uma longa, mas muito longa, história... Talvez algum dia eu revele-a, ou não.

- Tudo bem. Confio em você.

- Entretanto, retornando para onde paramos, nós dois não, não... Você sabe... nós relacionamos...?

Desventuras De MaryanneWhere stories live. Discover now