Capítulo 60 - Difícil escolha

511 62 12
                                    

A criatura encapuzada exibiu os dentes sob o negro capuz em um mórbido sorriso.

- É assim que ele vai morrer? — perguntou calmo.                                    

- Não! — berrou Celine, escondendo a face nas mãos, no momento em que sentiu brasa queimando o lado esquerdo de sua face, junto a um clarão passando de seu lado. "Deuses! O Adriel não!", implorou.

Uma bola de fogo rumou na direção de Adriel e passou ao lado de seu rosto, acertando em cheio a cabeça do desconhecido. Adriel aproveitou a deixa e correu para perto dos amigos, enquanto Dario tomava a frente e deixava os comandados às suas costas.

- Obrigado, Monde! Obrigado! — ofegava Adriel.

- Mantenha a calma... Você precisa recuperar sua espada — pediu o mago.

A bola de fogo disparada por Mondegärd queimou as vestes escuras e mais uma vez estas foram ao chão, para depois levantarem-se, exatamente como estavam antes do ataque.

- Novamente? A mesma coisa? — perguntou a criatura, inalterada.

- Não é possível! — esbravejou Dario. — Talvez ela seja imune ao fogo. Nas duas vezes o atacamos com fogo e nada aconteceu... — arriscou.

- Ao fogo, sim, está correto — concordou o inimigo. — Mas não apenas ao fogo. Por mais de mil anos guardei este artefato, e nada pôde desviar-me de meu intento.

- Está querendo dizer que nada pode feri-lo?! — irritou-se Adriel.

- Nada que vocês possam fazer aqui, neste momento.

- Você acha que... — o guerreiro ia retrucar, quando Celine o interrompeu.

- Com licença, mas... o senhor é um Ishtar?

- Ishtar? — a criatura parou por um momento, contemplativa. — Em verdade, sim; esta é de fato uma das formas de referir-se a mim pelos seres deste tempo.

Os guerreiros entreolharam-se inertes, até Dario quebrar o silêncio:

- Nós, humanos, pouco sabemos sobre sua raça. No entanto, as histórias que ouvimos pouco equivalem à postura demonstrada por você aqui.

O Ishtar permaneceu sério sob o capuz.

- Muito pouco sabem os humanos sobre o mundo. E menos ainda sabem daqueles que vivem há milhares de anos.

Todos calaram-se novamente. Paciente, o monstro permanecia imóvel, esperando a ação daqueles que invadiram seu aposento.

- Se você diz a verdade, quero dizer, se realmente podemos levar o globo se assim desejarmos, por que todas as proteções?

- O que o leva a crer ser eu o responsável por elas?

- Mas... — começou a falar o capitão, mas Adriel o interrompeu, dizendo baixinho para todos ouvirem:

- Você acredita nele, capitão? Tudo isso parece estranho demais para mim!

- Cale-se, Adriel — ralhou Mondegärd. — É óbvio que tudo isso é muito estranho, mas o que podemos fazer? Entre todas as missões das quais participamos, nunca encontramos ser que pudesse simplesmente evitar nossos ataques como esse Ishtar faz.

- Correto — concluiu Dario. — Precisamos saber mais sobre ele antes de tomarmos a próxima decisão.

Neste momento, Dario lembrou-se das palavras que Isa ouvira enquanto estava de guarda e virou-se para o encapuzado.

- Outra de nossas companheiras, morta há pouco, nos disse ter ouvido uma espécie de canto ou poema. A voz dizia "estar esperando levarem o globo por sorte". Era você?

- Sim, sou o responsável. Cantei justamente para que ela ouvisse. Como lhes disse, não passo de mediador. Há mais de mil anos minha função é entregar a pedra a quem quiser leva-la deste templo. Mas durante esse tempo, mesmo muitos tendo chegado até aqui, nenhum conseguiu sair em posse do globo.

Dario e os outros trocaram olhares novamente, tentando entender o significado daquelas palavras.

- Se é tão simples assim pegarmos a relíquia, por que nunca ninguém conseguiu deixar este lugar em posse dela? — alertou Mondegärd. — Provavelmente ele fará alguma coisa assim que tocarmos a esfera. Não podemos ser ingênuos e achar que ele simplesmente nos dará a relíquia milenar sem nenhum tipo de teste.

- Não temos o que fazer — tornou Dario, taxativo. — Podemos ficar aqui o tempo que quisermos trocando palavras, mas enquanto não pegarmos o globo, não vamos chegar a lugar algum. Preparem-se.

"Será assim tão fácil pegar o globo? Qual será a intenção deste demônio com tudo isso?", perdia-se em dúvidas o capitão. E mesmo sem ter certeza se seu próximo ato era o correto, arriscou:

- Então vou pegar o artefato e levá-lo para o meu reino, pois esta é minha missão — anunciou solene, dirigindo-se para a varanda. O príncipe entrou na varanda e chegou até o pedestal. Respirou fundo e esticou a mão.

- Não tão rápido, príncipe Dario.

Todos olharam para a porta oeste, de onde saíra as últimas palavras. Sem esperar resposta, a voz prosseguiu:

- Ele diz a verdade. Com certeza este Ishtar não fará nada contra você ou seus amigos; por outro lado, ele não é mais o dono da pedra para entregar-lhe.

Do portal oeste viera um homem alto e musculoso. Suas roupas leves eram de pano e parecia muito bem nutrido.

- Quem é você?! Responda! — gritou Adriel.

- Eu sou Meriedro.


Dario os outros não sabiam o que pensar. O que significava a presença do Recuperador que todos diziam estar morto?

Não perca os momentos finais do livro. São apenas mais quatro capítulos!

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora