Uma Conjuração de Magia / Vol. 1

Capítulo 90: Outro Pesadelo.

Havia algo de tranquilizador naquele momento. Porque eu sabia que já não estava em outro pesadelo. A realidade as vezes não é muito justa com você. Mas ainda sim, reserva surpresas intensas.

-Está na hora! -A rainha se aproximou de mim, encarando meus cabelos agora soltos. -Por que soltou os cabelos? -Não respondi, o que fez ela trincar os dentes e soltar um tipo de rosnado com os lábios. -Não importa. Vai assim mesmo. Não vamos deixar nada atrasar esse casamento.

Ela se virou, acenando para os guardas que ficavam em frente a minha porta. Olhei para a varanda, vendo as sombras sumindo ali, antes de andar em direção a porta, atrás da rainha. Passei pela mesma, vendo a mulher que fez o meu vestido parada ali, segurando um buquê de flores brancas. Antes que ela me estendesse, eu mesmo o puxei da mão dela e fiquei no meio do corredor, esperando que me mostrassem o caminho.

-Que bom que não vai dificultar as coisas. É tão irritantes pessoas que não sabem se por no seu lugar. -A rainha soltou uma risadinha e começou a caminhar para longe. -Levem ela pra porta de entrada da igreja. Nada de atrasos, ou vamos ter um festival de enforcamento.

-Venha. -A mulher chamou, me obrigando a segui-la. Descemos alguns lances de escadas. Andando pelos corredores chiques e decorados. Ajeitei a manga do vestido branco, cheia de renda nas pontas, que pinicavam. -É aqui. Espere a música começar a tocar. Não deixem ela sair daqui, ou já sabem!

Então ela saiu andando, provavelmente para entrar na igreja por um outro ponto. Olhei para a porta, sentindo a presença dos guardas atrás de mim. Deslizei a adaga sobre a manga do vestido, até tê-la nas minhas mãos. Então coloquei entre as rosas brancas.

-Kayla? -Parei, com meu corpo praticamente entrando em estado de choque ao ouvir a voz de Henry atrás de mim. Fiquei parada, ouvindo o som da minha respiração. -Kayla?

Virei o rosto, encarando por cima do ombro os guardas. Eu nunca olhei pra eles. Não saberia dizer qual a cor da pele, dos olhos ou qualquer outra coisa. Mas ali, atrás de mim, estava Henry, Cedric e dois piratas de Henry. Fiquei imóvel, vendo Cedric tirar o chapéu que cobria parte do seu rosto. Os quatro usavam roupas da guarda solar.

-Viemos te tirar daqui. Temos que ser rápidos. -Henry olhou para o final do corredor, parecendo pensar no que fazer.

-Entramos por uma passagem secreta da biblioteca que dava para o castelo. Os outros estão nos esperando lá. -Cedric afirmou, se aproximando de mim, com o intuito de me tocar. Dei um passo para trás, evitando aquilo, o que o fez parar. -O que foi? Temos que ir!

-Não! -Consegui dizer, vendo os olhos dele se arregalarem, como se ele não soubesse se havia escutado direito. -Não!

-Você ficou louca? -Ouvi Henry perguntar. -Eles fizeram algo com você? Temos que ir, Kayla.

-Qual o problema? -Cedric indagou, e eu balancei a cabeça negativamente, erguendo o queixo e voltando a olhar pra porta.

-Vou me casar. -Afirmei, sentindo a risada entalada na minha garganta. Uma mendiga se casando com um príncipe. Era uma grande piada de mal gosto. -Vão embora.

-Kayla, o que tá dando em você? -Cedric parou na minha frente, tampando a minha visão da porta, onde eu podia ouvir a música começar a ser tocada. -Você não vai se casar com ele. Viemos aqui para te salvar.

Sorri para Cedric. O sorriso mais amargo e infeliz de toda minha vida.

-Não se pode salvar aquilo que já está morto. -Sussurrei, vendo os lábios dele tremerem ao ouvirem isso. -Saia da frente da porta, Cedric.

-Por que? -Indagou. -Por que vai fazer isso?

Dei um passo para frente, ouvindo o som da porta sendo destrancada atrás de Cedric.

-Percebi que quando se quer vencer o vilão, você precisa se tornar um também. -Afirmei, apertando o buquê com a adaga que estava nas minhas mãos. Cedric ficou paralisado, enquanto eu dava a volta por ele e entrava no salão, encarando o príncipe que me esperava.

As pessoas se colocaram de pé, nos bancos que delimitavam o corredor que tinha um tapete vermelho, com pétalas brancas. Respirei fundo, erguendo o queixo e começando a caminhar em direção ao destino que me aguardava. O príncipe sorriu ao me ver, estendendo a mão para que eu a segurasse. Apertei o buquê nas minhas mãos e então deixei que a direita fosse até a dele.

-Ficou perfeita de noiva. -Sussurrou, parecendo realmente contente. -Mas eu preferia o cabelo preso. Está... normal demais.

Olhei para frente, enquanto ele me conduzia até a frente da sacerdotisa. O rei estava sentado em um trono atrás dela, com a rainha ao seu lado, assim como as filhas. Encarei os dois, abrindo um sorriso com o canto dos lábios ao ver uma sombra surgir pela minha visão periférica.

-Vamos dar único a cerimônia! -O príncipe pediu.

Continua...