Capítulo 5: O Fantasma.

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Ouvi o grito dos guardas atrás de mim, mas não me dei ao trabalho de olhar para trás. Usei o restante das forças que tinha e finalmente passei pelos muros vivos e adentrei na floresta. Meus pensamentos estavam em rezar para que os guardas não se descem ao trabalho de entrar aqui para me buscar.

Corri floresta a dentro, sentindo os galhos baterem contra o meu rosto. Cai no chão quando meus pés se enroscaram em raizes e meus joelhos bateram contra a grama escura e cheia de folhas mortas.

Coloquei a mão no meu peito, sentindo meu coração doer com a intensidade que batia e minha garganta implorar por água. Me escorei em uma das árvores e fechei meus olhos, respirando fundo.

—Kayla? —Olhei em direção ao início da floresta, não tendo certeza que havia escutado meu nome sair dos lábios de Devlon. Eu não podia vê-lo. Mas sabia que ele não havia entrado na floresta. —Sim, eu sei que seu nome é Kayla e imagino que esteja me ouvindo agora. Olha, eu sei que você está assustada e com medo.

Fiz uma careta e soltei uma risada. Eu não estava com medo e muito menos assustada. Eu só queria fugir e vender aquela pedra.

—Você sabe o que dizem sobre essa floresta. Imagino que já tenha ouvido os boatos. Tenho certeza que não quer passar a noite aí, não é? —Prosseguiu e eu olhei para cima, vendo a última luz do dia indo embora. —Podemos fazer um acordo. Você me devolve o que roubou e eu deixo você sair livre.

Fechei os olhos e escorei a cabeça na árvore. Sim, eu não queria passar a noite em uma floresta mal assombrada e cheia de criaturas das sombras. Mas não estava nem um pouco afim de acreditar nas palavras falsas de Devlon. É claro que eu seria presa e enforcada. Ainda mais roubando quem eu roubei.

—Vamos lá, Kayla. Sei que está me ouvindo. Eu conheço todos os órfãos que vivem nessas ruas. Sei que você só está tentando sobreviver como todos eles. Mas você roubou do príncipe. Isso não foi uma boa escolha. —Continuou e eu revirei os olhos. Eu já estava cansada de ouvir Devlon.

Me coloquei de pé, já me sentindo um pouco melhor para respirar e olhei envolta. Eu poderia me afastar e encontrar uma árvore alta e boa para me esconder durante a noite. Não ousaria ficar aqui no chão. Amanhã eu resolveria como sair desse lugar e passar pelos guardas que certamente me esperariam lá fora.

Comecei a me afastar, ainda ouvindo Devlon e suas baboseiras. Ele saber meu nome me incomoda de uma forma que eu não sabia identificar o quanto. Não havia nada pior do que ser conhecida pelo chefe da guarda real do rei.

Fiz uma careta com esse pensamento e apertei a pedra que estava no meu bolso. Me perguntei se Devlon saberia ao certo o que é uma safira é porque ela é tão importante para o rei querer. E principalmente, porque fazer uma comemoração por ele ter encontrado uma. E se ela é tão importando, como o príncipe a deixou dando sopa no bolso do casaco, estando no meio do centro da cidade?

Todos sabem que existem ladrões pelas ruas. Então não entendo como algo importante para eles querem tanto de voltar estar solta no bolso dele daquela forma. Suspirei frustrada e exausta. Nada havia saído como eu planejei.

Olhei para cima vendo que a noite já havia se instalado e agora só restava a escuridão envolvendo aquela floresta. Não pude deixar de engolir em seco ao perceber que estava tudo silencioso demais e escuro demais.

Deus, eu tenho só 17 anos. Sou jovem demais pra morrer.

Eu tentei não pensar em todos os boatos sobre aquela floresta. Mas estando ali no meio dela e a noite, aquelas histórias imundaram minha mente sem eu perceber.

Todos falavam sobre as criaturas das sombras que habitavam esse lugar e surgiam durante a noite. Lobos Negros e Rastejadores eram os mais temidos deles. E também, havia a história sobre O Fantasma. Um ser desconhecido que vivia entre eles e muitos acreditavam ser amaldiçoado.

Eu achava isso uma grande bobagem. As ruas da Cidade dos Ossos está sempre cheia de boatos e histórias falsas sobre o mundo e a magia. Então nunca se sabe no que se deve acreditar.

Parei no lugar quando ouvi um galho se quebrar atrás de mim e balancei a cabeça para os lados. Qual é, eu não mereço tanta desgraça em um dia só. Me virei lentamente e meus olhos se arregalaram aos poucos quando eu encarei a figura imensa que me observava.

—Maldito arrependimento. —Falei, antes de me virar e começar a correr, ouvindo os rosnados do Lobo Negro que agora vinha atrás de mim. Eu ainda estava esgotada. Então não demorou muito para que minhas pernas já denunciassem que não aguentariam outra corrida.

Além do mais, estava noite e eu não conseguia ver o lugar que pisava. O rosnado começou a se aproximar e eu xinguei baixinho quando um galho acertou em cheio a minha testa e eu senti a área arder com o pequeno corte que eu sabia que havia se formado.

Continuei correndo até tropeçar de novo e cair de cara no chão. Gemi de dor e arregalei os olhos quando percebi que havia outra coisa me observando na escuridão. Me sentei no chão e rastejei para trás, vendo a figura do que parecia ser uma pessoa no meio da árvores e de outros lobos.

Não havia nada sobrenatural ali. Parecia uma pessoa de verdade. Alguém me observando com olhos negros. Eu engoli em seco quando percebi no que havia me metido.

Me coloquei de pé, sobre o olhar atento do que quer que aquela coisa fosse e comecei a andar para trás, vendo os lobos se aproximarem, enquanto aquilo ainda continuava parado me observando como se fosse parte da própria noite.

—Meu Deus! —Sussurrei e comecei a correr para longe, sentindo a adrenalina tomar conta de mim. —Não são lendas.





Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now