Capítulo 6: Humano.

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Eu não sabia em quantas enrascadas poderia me meter até esse dia chegar. Eu havia roubado do príncipe algo que não sabia o que era. Estou sendo perseguida por todos os guardas do rei. O chefe deles sabe meu nome. Vim parar na pior floresta do mundo e acabei de descobrir que todas as lendas sobre O Fantasma são reais, enquanto sou caçada por criatura das sombras.

Esqueci de alguma cosia? Ah, a lista ainda pode aumentar. Afinal eu posso morrer aqui. Parando para pensar, morrer enforcada me parece muito mais agradável agora.

Continuei correndo ouvindo os uivos deles por todos os lados. Peraí quando achei uma árvore boa o suficiente para que eu subisse e comecei a escalar. Meus braços doíam pelo esforço. Escalei até o galho mais alto e me encolhi contra o tronco da árvore.

Olhei para baixo e meu sangue gelou quando vi todos os lobos rodearem a árvore e olharem para mim, como uma presa em potencial. Eu imaginava que iria morrer de fome, não sendo devorada por Criaturas das Sombras.

Parei de respirar quando senti a presença de algo envolta de mim. Ofeguei sentindo um arrepio na espinha e a sensação de algo deslizando pelo meu pescoço. Lentamente ergui a cabeça e percebi que aquela coisa estava bem na minha frente, sentado no galho, me observando.

Minhas pernas escorregaram e eu gritei quando senti que iria cair da árvore. Meus dedos se fecharam no galho quando meu corpo ficou pendurado. Senti uma não se fechar no meu pulso e olhei para cima, para encontrar a figura me segurando.

Agora eu podia ver o quer era. A luz da lua brilhava sobre o rosto dele. Era um rapaz. Um rapaz totalmente humano. Ele tinha olhos negros, que pareciam ter pequenas estrelas perdidas no meio. O cabelo preto e muito curto. Sua pele era pálida demais, como se ele não tomasse sol a um bom tempo. Uma criatura bonita demais para algo sobrenatural.

Eu ofeguei quando percebi os olhos dele encararem os meus com tanta intensidade, que ele parecia poder desvendar todos os meus segredos. Eu não pensei direito. O medo tomou conta de mim e eu peguei a faca do bolso da calça e ataquei ele.

Ele me soltou quando a faca afundou na carne do seu ombro e eu gritei, quando meu corpo foi em direção ao chão. Arregalei os olhos quando a pedra no meu bolso brilhou com uma intensidade sem igual e eu caí contra algo macio.

Minha cabeça ficou zonza e minhas pálpebras foram se fechando aos poucos, quando eu percebi a luz verde da pedra começar a diminuir. E então eu apaguei por completo.

[...]

Sentia minha cabeça girar e girar enquanto meus olhos se esforçavam para abrir. Assim que eles finalmente me obedeceram, encontrei a luz do dia. A copa das árvores balançavam com o leve vento.

Ergui minha mão e passei sobre minha testa, sentindo minha cabeça doer e meus músculos gemerem em reprovação pela noite anterior. Me sentei e olhei envolta. Não havia nenhuma criatura a vista. Apenas árvores e mais árvores.

Isso me fez pensar se toda aquela noite não havia sido só um sonho doído. Ou melhor, grande pesadelo. Olhei para baixo percebendo que havia várias flores e folhas embaixo de mim, como uma cama.

Eu fiz uma careta e me coloquei de pé, um pouco zonza. Encarei o chão envolta de mim, até meus olhos parem na minha faca, caindo embaixo de uma árvore e suja de sangue. Eu caminhei até lá e a peguei, vendo o sangue seco sobre a lâmina.

Respirei fundo e comecei a andar rapidamente em direção a cidade, quando percebi que tudo aquilo realmente tinha acontecido e não era apenas um sonho. A faca na minha mão parecia pesar toneladas e meu sangue gelou, como se aquela coisa estivesse me observando naquele momento.

Corri, sentindo os galhos batendo no meu rosto até finalmente ver o muro vivo que separava a cidade da florestas. Eu não pensei direito é muito menos me lembrei de todos os guardas que provavelmente me esperavam lá. Eu só queria sair daquele lugar o mais rápido que conseguisse.

Meus pés pisaram na grama macia e eu olhei para a floresta atrás de mim uma última vez, sentindo algo queimar na minha nuca. Passei pelos muros vivos e meu corpo foi para o chão, quando senti alguém pular sobre mim.

Meu rosto ficou contra a grama, enquanto mãos firmes me prendiam contra o chão. Meu coração acelerou e eu senti minha garganta se fechar. Ergui os olhos quando alguém parou na minha frente e vi Devlon com as mãos na cintura, com uma expressão confusa.

—Eu jurava que você não ia sair viva daquela floresta, sabia? —Comentou e fez um sinal para que os guardas me puxassem. Eles me colocaram de joelho e eu suspirei frustrada. —Revistem ela.

Eles começaram a enfiar as mãos no bolso da minha jaqueta e da minha calça. A faca suja de sangue foi entregue a Devlon e ele apenas a analisou com os olhos curvados. Depois foram as moedas que eu havia roubado da igreja. Os guardas se afastaram de mim e Devlon os encarou com as sobrancelhas erguidas.

—Então? —Questionou.

—Não tem mais nada, senhor. —Um dos guardas respondeu, fazendo Devlon e eu o encaramos.

—Que? —Falei e tentei empurrar eles.

—Como assim não tem mais nada? Ela roubou um objeto precioso do rei. Tem que estar com ela! —Devlon exclamou. —Procurem de novo.

Nesse momento eu já estava estática no lugar, pensando no que Devlon havia acabado de falar. Não era algo do príncipe, mas sim algo precioso do rei. Trevis estava certo, era uma safira que ele havia encontrado.

—O que fez com o que roubou, Kayla? —Devlon questionou, quando eles pararam de me revistar e não encontraram nada de novo. —Você escondeu na Floresta do Medo?

Eu o encarei por alguns segundos, tentando esconder todas as minhas emoções dele. Eu não pretendia contar a ele sobre o meu encontro da noite. E se a pedra não estava comigo, então claramente aquela coisa havia roubado de mim.

Então eu falei a primeira coisa que me veio em mente.

—Eu perdi durante a fuga ontem. Caiu do meu bolso. —Menti descaradamente e Devlon curvou os olhos em desconfiança.

—Prendam ela!





Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now