Capítulo 60: Caverna.

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Lyra

Estávamos embarcados em uma carroça, indo em direção a floresta que se estendia ao lado da estrada. Os cavalos reclamavam da neve, mas nosso caroneiro não parecia preocupado com o frio. Me encolhi contra a caixa atrás de mim, vendo Trevis dormir enroscado em Cedric, que também dormia.

—Você é corajosa. —Ouvi Diana dizer. Ergui os olhos, já que ela estava sentada na minha frente, encolhida também, mas agora com roupas comuns e com os cabelos vermelhos soltos envolta do rosto. —Fugir da biblioteca e estar aqui, tentando evitar uma catástrofe.

—Você também é. —Afirmei, vendo ela abrir um sorriso fraco. —Roubou uma safira e ainda fugiu do seu pai. Que no caso é um rei.

Diana encolheu os ombros e escorou o queixo nos joelhos. Os cabelos ruivos ondulados caindo sobre as bochechas vermelhas pelo frio. Sempre dizem que príncipes e princesas tem uma beleza rara. Mas até então, tendo visto apenas o príncipe e as princesas solares, achava a beleza deles simples e comum. Mas Diana definitivamente tinha uma beleza rara. Por um segundo, me perdi completamente nos olhos âmbar que se escondiam atrás dos longos cílios.

—Meu pai deve estar me odiando agora. —Afirmou, suspirando. —Mas não posso fazer algo só porque ele deseja.

—E a sua mãe? —Indaguei, pois não sabia absolutamente nada sobre a rainha lunar.

—Ela morreu quando eu nasci. Não tive a oportunidade de conhecê-la. Mas todos dizem que ela era corajosa e destemida. —Ela abriu um sorriso, com um misto de saudade e tristeza.

—A minha mãe também morreu quando eu nasci. —Falei, chamando a atenção dela. —E meu pai foi embora, porque simplesmente não conseguia viver comigo, sabendo que ela morreu.

—Sinto muito. —Sussurrou, olhando bem nos meus olhos. Ficamos em silêncio, apenas encarando uma a outra, como se fosse impossível desviar os olhos. As batidas do meu coração aceleraram, de uma forma que eu podia ouvi-las ecoando dentro de mim.

—Ele vai vir atrás de você, não vai? —Ousei perguntar, já que meu coração estava me assustando. Ela sorriu, mordendo o lábio.

—Vai sim. Quer dizer, vai mandar gente atrás de mim, com toda certeza. —Por um segundo, pensei ver seus olhos brilhando. —Então espero que esses guardiões estejam mesmo nesse lugar. Porque no momento, é meu único ponto de segurança.

Sorri, assentindo. Era o ponto de segurança de todos nós.

[...]

Descemos da carroça quando ela passou por um ponte de madeira, sobre um riacho. Olhei no mapa, vendo que aquele era nosso único ponto de referência. Agora teríamos que andar na mata até encontrar o símbolo 4, que estava próximo do que parecia ser uma cachoeira.

—Acho que conseguimos chegar lá hoje. Não parece tão longe. —Trevis comentou, analisando o mapa ao meu lado.

—Ainda bem. Tô morrendo de fome. —Diana declarou, formando uma careta no rosto.

—Bem vinda a realidade. —Cedric zombou e ela piscou várias vezes, como se estivesse fazendo graça. —Vamos logo.

Cedric tomou a frente, andando e abrindo caminho para nós três. A floresta parecia mais viva do que eu jamais tinha visto. Mas também, a Cidade dos Ossos não é referência pra nada. Havia pássaros cantando por todo lado, uma brisa suave tocando as árvores cobertas de neve.

Andamos pelo que pareciam horas. Meus pés estavam doloridos e a cede tomava conta de mim. A neve no chão deixava tudo muito pior. Mas pelo menos, andando, não sentíamos tanto frio.

—Eu tô morto. —Trevis declarou, parecendo ofegante. Mesmo sobre a pele negra, eu podia ver a vermelhidão na ponta do nariz dele, pelo frio. —Será que falta muito?

—Acho que estamos perto. —Cedric comentou, afastando os galhos congelados para que passássemos. Havia começado a ventar mais, o que significava que a noite logo viria.

—Não podemos passar a noite na floresta. Ah não ser que queiram ser congelados. —Diana murmurou, se encolhendo. Seu rosto estava vermelho e sua respiração causava um vapor no ar. —Serio, nunca passei tanto frio na vida. E olha que eu nunca sai do Reino Lunar.

—Olha! —Exclamei, para a imensa cachoeira que se estendia a nossa frente, completamente congelada. Molhei os lábios, sentindo que até minha boca já estava congelando. Andamos mais de pressa, saindo da linha das árvores e parando sobre o leito do rio congelado.

—Parece que tem uma passagem atrás da cachoeira. —Cedric comentou, enquanto víamos o que parecia ser a silhueta de uma caverna atrás da água congelada. —Vamos até lá, com cuidado.

—Em algum momento essas águas não estão congeladas? —Trevis indagou e Diana fez uma careta.

—Depende da profundidade da água. Mas normalmente tudo descongela na primavera. —Explicou, enquanto caminhávamos até a cachoeira, tentando não pisar no rio.  —Tem algumas semanas pra primavera. Então é melhor não pisar no gelo.

Chegamos até a encosta do penhasco, encarando a cachoeira e o vão que se abria atrás dela. Cedric olhou pra nós por um segundo e então começou a andar ali, sobre as pedras congeladas. O seguimos, cuidando para que não escorregássemos nas pedras. Cedric logo se enfiou entre a água congelada e a parede de pedra, chegando a caverna. Trevis foi logo em seguida e depois eu. Olhei para trás, vendo Diana se equilibrando nas pedras para chegar até ali.

—Droga! —Ela parou, quando os pés quiseram escorregar e engoliu em seco. Involuntariamente estendi a mão pra ela.

—Segura minha mão. —Pedi e ela me olhou, estendendo a mão e apertando a minha. A puxei, tentando dar equilíbrio para que ela viesse até onde estávamos. Diferente da minha mão que parecia uma pedra de gelo, a de Diana estava quente, o que me fez sentir uma sensação reconfortante.

Ela pulou, caindo dentro da caverna parcialmente escura e abriu um sorriso radiante pra mim. Sorri de volta, vendo seus olhos fixos nos meus.

—Vamos? —Cedric chamou, olhando para a caverna escura que se seguia adiante. —Espero não encontrar nenhuma criatura das sombras aqui.

—Vira essa boca pra lá. —Trevis resmungou, parecendo realmente apavorado. —Só tenho 12 anos. Sou muito novo pra morrer.

Mas nenhum de nós respondeu, estava ocupado demais olhando pra frente, pra onde uma sombra parecia surgir, flutuando e sendo envolvido pela noite. Minha boca secou e meu corpo entrou em completo estado de alerta. Não precisava olhar para os outros para saber que estavam como eu. Pálidos e assustados.

—Olá, caros visitantes. —A criatura continuou nas sombras, mas ainda sim, pude ver o sorriso cheio de dentes pontudos. —Estávamos esperando por vocês.


Continua...
.....
Prontos pra saberem tudo sobre os Guardiões?

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now