Capítulo 14: Safira.

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Eu ofeguei, sentindo o corpo dele prendendo o meu e a pele gélida de sua mão contra meus lábios. Ele me encarou com atenção, enquanto as sombras dele vinham na minha direção e deslizavam pelo meu pescoço, me causando um arrepio na espinha.

—Eu vou soltá-la. Apenas não grite e ficará tudo bem. —Falou. A voz era grave e rouca, me causando um tremor e fazendo todos os pelos do meu corpo se eriçarem.

Quando o corpo dele começou a se afastar do meu, eu deixei a adrenalina falar mais alto. Levei minha mão até o cinto do vestido e puxei a faca escondida ali. Sem pensar duas vezes eu o ataquei.

Seus olhos ficaram surpresos e ele olhou para baixo, vendo a faca entrando na lateral de sua cintura. Ele se afastou de mim, praguejado algo indecifrável e eu o empurrei para o chão. Para minha supresa, a safira caiu do bolso dele e brilhou verde contra a madeira.

A peguei e abri a porta, enquanto ele arrancava a faca de si. Corri por todos aqueles corredores em direção a escadaria principal. A saia do vestido se enroscava nas minhas pernas, dificultando o trabalho.

Cheguei até a escada e comecei a descer, quase virando o pé no processo. A safira estava firme entre meus dedos, enquanto eu olhava para cima e via as sombras surgindo no topo da escada.

Eu tropecei e cai, rolando escada abaixo. A safira caiu da minha mão e quicou no chão, soltando algumas faíscas verdes. Meu corpo parou quando chegou ao final da escada e eu senti algo quente escorrer da minha testa.

Foi como ver tudo em câmera lenta. Miriam e o príncipe surgiram no final do corredor e me encararam, enquanto a safira ainda quicava. Ela parou assim que bateu contra a parece. O príncipe cerrou os punhos e seu rosto ganhou um tom avermelhado.

—Guardas! —Gritou e eu rastejei até a safira, agarrando ela e correndo até as grades no chão da parede. A puxei de uma vez só e deslizei pelo buraco, vendo os guardas surgindo no final do corredor.

Cai sobre a água suja do esgoto e me coloquei e pé, começando a correr para longe dali, seguindo a escuridão da caverna. Ergui a saia do vestido e senti minhas botas afundarem na lama enquanto eu corria.

Mais e mais até a saia do vestido parecer pesada nas minhas mãos. Para o meu desespero, eu ouvi o barulho dos guardas no corredor. O que significava que eles haviam entrado no túnel atrás de mim.

Continuei a correr, vendo o quanto aquela caverna parecia se estender e nunca acabar. Eu não fazia ideia de onde ela terminaria. Tropecei no chão, exausta e caí de joelhos entre a lama e água suja.

Me coloquei de pé para voltar a correr, quando senti algo perfurar minha perna. Gritei com a onda de dor que atingiu minha espinha e caí de novo. Vendo a flecha fincada na minha carne.

Olhei para trás vendo os guardas se aproximarem e engoli em seco. Virei a cabeça quando ouvi um rosnando atrás de mim e vi o Lobo Negro que corria na minha direção. Eu me encolhi no chão e ele saltou sobre mim, pulando sobre um dos guardas.

Meu estômago se revirou ao vê-lo matar os guardas com a maior velocidade possível. Minha cabeça começou a girar e eu vi quando o Portador das Sombras surgiu no meio dos guardas que tentavam se defender do lobo. Eu pensei em me levantar e voltar a correr. Mas a tontura venceu e eu apaguei.

[...]

Acordei sentindo minha boca seca e uma dor tremenda na minha coxa. Abri os olhos e percebi que estava deitada em uma cama. Me sentei, observando o local envolta. Era um simples quarto de alguém.

Olhei para minha perna, puxando a saia do vestido sujo e vendo que tinham passado uma faixa no ferimento. Faixa essa que já estava encharcada de sangue. Escorreguei na cama, quando a porta do quarto de abriu.

—Você está bem? —Ouvi a voz grave perguntar e arregalei os olhos.

Ah não, não, não. Não pode ser!

Me levantei, me escorando não parede e encarando o rapaz parado na frente da porta. O quarto estava claro, e agora eu podia vê-lo sem todas aquelas sombras. Seu rosto era fino e bem desenhado, como uma obra de arte perfeitamente riscada. Engoli em seco vendo ele se aproximar de mim, com os olhos negros me avaliando.

—Não achei que fosse acordar tão cedo. Você bateu a cabeça quando caiu da escada. —Murmurou. —Nem sei como conseguiu ficar de pé e entrar naquela caverna.

Ele soltou uma tijela de sopa em cima da mesinha que havia no canto e eu percebi que ele tinha um frasco com um líquido estranho na mão. Ele se virou pra mim de novo, me encarando com as sobrancelhas erguidas.

—Qual o problema? O gato comeu sua língua? —Questionou em um tom irônico. —Você saiu gritando igual uma doída da última vez que me viu.

Eu fiz uma careta ao ouvir aquilo.

—É claro! —Exclamei irritada e vi a expressão dele ficar surpresa. —Um maluco surge do nada no meio de uma biblioteca e tenta me matar.

—Eu não tentei te matar. —Retrucou, estalando a língua. —Que eu me lembre foi você que enfiou uma faca em mim.

—Quem é você? —Questionei. —Onde eu estou? Porque você me sequestrou? E o que diabo você quer de mim?

—Agora você fala. —Zombou e eu curvei os olhos na direção dele, vendo um desafio se formar ali. —Sente-se na cama. Ainda está com o ferimento e precisamos cura-lo.

—Eu não quero a sua ajuda! —Declarei e ele revirou os olhos, apontando para a cama. —Fique longe de mim!

—Se eu quisesse te fazer mal, já teria feito. Não sei se notou, te tirei de uma grande enrascada ontem a noite. —Afirmou e eu cruzei os braços na frente do corpo. —Olha só, eu posso responder todas as suas perguntas depois, está bem? Mas agora precisamos curar sua perna. Os guardas ainda estão atrás de você e agora de mim. Então temos que sair dessa cidade logo.

—Ainda estamos na Cidade dos Ossos? —Eu fui até a janela e puxei um pouco a cortina, vendo as ruas estreitas da cidade.

—Estamos sim. Mas precisamos ir. —Eu me virei para ele e o vi abrir o frasco. —Consegui isso aqui com uma bruxa. Usei um pouco pra curar o ferimento que você me causou ontem. Vamos usar o resto na sua perna.

Senti minha coxa latejar, como se implorasse por cuidado e não me contive em caminhar até a cama e me sentar nela. Me encolhi quando ele se aproximou e então parou, vendo minha reação.

—Preciso colocar direto no machucado. —Falou e encarou meus olhos por alguns segundos, antes de voltar a se aproximar aos poucos. —Relaxa, já disse que não vou te machucar.

Virei o rosto e senti meu sangue esquentar quando ele rasgou a saia do vestido. Minha garganta ficou seca e meu coração acelerou. Observei com o canto dos olhos ele tirar a faixa que cobria o ferimento e então erguer os olhos até mim.

—Vai arder. —Eu assenti e coloquei a mão na minha boca. Assim que senti o líquido entrar em contado com a minha pele, ela ardeu de forma indescritível. Eu mordi minha mão para evitar gritar, enquanto sentia uma lágrima solitária escorrer dos meus olhos.

—Meu nome é Axel, a propósito. —Falou e então cobriu o ferimento de novo.




Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now