Capítulo 27: Cidade Marítima.

2.9K 523 99
                                    

Subi atrás de Axel, vendo as sombras dele se movimentarem com certa violência, como se estivessem ansiosas para o que viria. Parei sobre as escadas, vendo elas agarrarem um dos piratas e baterem ele contra a parede várias vezes, até jogá-lo por cima da minha cabeça e ele rolar escada a baixo.

Axel nem moveu um músculo sequer, elas fizeram isso sozinhas. Ele continuou a subir as escadas até sair no convés, onde os piratas brigavam. Fiquei atrás dele, vendo as sombras se expandirem. Me encolhi quando percebi que elas estavam cobrindo todo o navio, como se a noite estivesse caindo sobre nós.

Tudo virou noite, fazendo os piratas pararam para observar o que estava acontecendo. Com um estalar de dedos de Axel, as sombras se movimentaram e começaram a agarrar todos os piratas inimigos.

Foram apenas segundos para que Axel tivesse com todos eles presos e amarrados a cordas. E ele não havia precisado se mover, tudo com apenas um estalar de dedos. As sombras retornaram a ele, ficando ali, na curva do seu pescoço e eu tinha a sensação que olhavam pra mim.

—Eu devo prender vocês também? Afinal, eu estava acorrentado em uma de suas celas. —Axel tombou a cabeça para o lado, olhando para o capitão Henry, que tinha uma expressão cautelosa no rosto.

—Você sabe que já está no controle da situação. Não precisa de correntes para aprisionar nenhum de nós, sabe muito bem disso. —O capitão desceu as escadas e parou na frente do homem que se parecia o capitão do outro navio pirata. —David, meu velho amigo, quanto tempo, não?

—Vejo que tem um aliado interessante. —David respondeu, soltando uma risadinha logo em seguida. —Presumo eu, já que está na presença do portador e da garota, que encontrou a safira que eles roubaram.

—Porque? Está interessado nela também? —Retrucou, dando mais alguns passo até parar na frente de David.

—Todos estão interessados nela, Henry. —David afirmou e olhou diretamente para Axel e eu. —E neles também.

—Uma pena que você não vai ter a sorte de ver ou tocar em uma das safiras. —Observei o capitão erguer a espada pra cima e abrir um sorriso. —Seu navio vai precisar de um novo capitão. —Virei o rosto quando ele ergueu a espada e abaixou de novo, cortando a cabeça de David. —Joguem o corpo no mar e limpem a sujeira. E os outros... —Ele olhou para os piratas inimigos. —Joguem no navio deles. Não fazem diferença pra mim.

Axel cruzou os braços na frente do corpo, vendo os piratas amarados sendo levados de volta para seu navio. O capitão se aproximou de nós dois, trazendo os olhos até mim.

—Eu disse para não soltá-lo e você fez o total contrário. —Comentou, alisando a lâmina da espada suja de sangue. Dei de ombros. Minha ideia sempre foi soltar Axel. Mas eu faria isso depois de roubar a safira dele, quando estivéssemos nos aproximando da Cidade Marítima. —Presumo que eu deva devolver a safira a você, portador.

—É o mais prudente, capitão. Não me leve a mal. Isso não é pessoal, mas preciso dela. —Axel afirmou, franzindo a testa para o sol sobre sua cabeça, agora que as sombras haviam recuado. —E ela não serviria muito aqui, no meio do mar. É apenas uma safira da terra.

—Vocês estão atrás das outras, não é? —O capitão deu alguns passos, agora limpando a lâmina suja na jaqueta.

—Isso não é da sua conta. —Axel resmungou e o capitão ergueu os olhos até nós. —Quero que nos deixe na Cidade Marítima.

—Vocês dois estão sendo procurados. Principalmente ela, que roubou do próprio rei. —Ele fez um sinal com a cabeça para mim. Abri um sorriso nervoso, lembrando desse fato. —Podemos fazer um acordo e trabalharmos juntos.

—Um acordo? —Axel soltou uma risada. —Não faço acordos com piratas. —Afirmou e eu arqueei as sobrancelhas. Mas com mendigos ele fazia, pensei. —Sua ajuda não é do meu interesse.

—Que pena. Tenho certeza que poderíamos fazer grandes negócios juntos. —O capitão murmurou. —Mas tudo bem. Levarei vocês e os deixarei na Cidade Marítima. —Ele enfiou a mão no bolso e jogou a safira para Axel. —Se mudarem de ideia, estarei disposto a ajudar.

Axel não respondeu. Ele guardou a safira no bolso e virou as costas, passando pela porta para fugir do sol. O capitão me encarou por alguns segundos e então apontou para a espada na minha mão.

—Pode ficar.

[...]

Encarei o horizonte, onde a cidade aparecia aos poucos. Era um emaranhado de casas sobre a água. Pescadores e pequenos barcos. Olhei para cima e vi que a bandeira pirata havia sumido. Ninguém poderia imaginar quem éramos. O navio atracou alguns minutos depois. O sol já havia sumido. Dando lugar a uma noite clara pela luz da lua.

—Vamos, preciso passar em um lugar. —Axel começou a andar para onde a rampa era colocada. Revirei os olhos e procurei pelo capitão Henry, o encontrando perto do timão, observando a cidade. Suspirei e subi as escadas, vendo ele trazer os olhos até mim.

—Veio se despedir, senhorita? —Indagou e eu abri um sorriso fraco, parando ao lado dele.

—Desculpa por tudo. Se eu pudesse, deixava você ficar com a safira. Mas eu preciso dela e de Axel. Ele é meu seguro de vida atualmente. —Afirmei e ele riu, balançando a cabeça. —Mas eu realmente queria ser uma pirata. Então, quando isso acabar... —Dei de ombros e ele me encarou.

—Sabe usar a espada que te dei? —Neguei com a cabeça e ele assentiu. —Então termine essa sua missão com o portador e volte. —Ele pegou algo do bolso e me estendeu.

—Uma bússola? —Franzi a testa e ele abriu um sorriso.

—É mágica, Kayla. Eu pedi para um mago a encantar a alguns anos atrás. —Ele apontou para a bússola na minha mão. —Quando isso acabar, ou quando precisar de ajuda, só precisa segura-la e pensar em mim. Então eu saberei onde você está e irei até você.

Olhei para ela, deslizando o dedo pelo vidro que cobria o ponteiro principal. Abri um sorriso e ergui os olhos até o capitão.

—Obrigada. —Afirmei veemente e ele assentiu, piscando logo em seguida. —A gente se vê, capitão.

—Foi um prazer, Kayla. Se cuide. —Assenti e ele ergueu o chapéu como um cumprimento. Desci as escadas e vi Axel me esperando com os braços cruzados e uma expressão emburrada.

—Já terminou? —Indagou com ironia e eu revirei os olhos.

—Ja sim, cachorro raivoso. Podemos ir. —Retruquei. Então nós desembarcamos no navio, pisando nas terras da Cidade Marítima.




Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now