Capítulo 48: Neve.

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Cedric

Empurrei a tampa da caixa, olhando ao redor para ver se alguém estava vindo. Como não havia ninguém, eu pulei para fora e chamei por Lyra e Trevis. Nós já havíamos desembarcado e agora estávamos em um depósito na Cidade das Estrelas.

—Graças aos Deuses deu certo. —Lyra pulou para fora da caixa e se encolheu quando sentiu o ar frio. —Droga, vamos precisar de roupas quentes.

—Tem metros de neve lá fora. —Trevis murmurou, olhando pelas frestas da parede. —Legal, eu nunca tinha visto neve. Mas está frio demais.

—Vamos achar umas roupas quentes pra vestir. —Lyra esticou o mapa em cima de uma da caixas e eu me aproximei para olhar. —Temos um longo caminho.

—A marca fica no meio do nada. —Falei e Lyra assentiu, com os lábios tremendo. —Vamos precisar achar uma carona pra lá.

—Sempre há uma carroça por aí. —Lyra rebateu, agora abraçando o próprio corpo com os braços. —Droga, vamos andar. Não estou aguentando ficar parada aqui.

Lyra pegou o mapa e enfiou dentro da mochila de novo. Saímos para a rua, sentindo vento frio bater contra nossos corpos e vendo nossos pés afundando na neve fofa do chão. Eu também nunca havia visto neve. Mas como uma primeira impressão, não me agradou nem um pouco.

—Vamos achar um lugar para passar a noite. Preciso de uma cama e um banho quente urgentemente. —Lyra resmungou e eu e Trevis concordamos, mesmo não sabendo dizer o que era um banho quente. Afinal, não temos isso nas ruas. É uma cama macia para dormir? Nem pensar.

[...]

—Se importam de dividir o quarto comigo? Não quero gastar dinheiro demais. Não sei o que nos espera. —Lyra olhou para nós dois e rapidamente negamos. Se fosse necessário, eu acharia um lugar lá fora para dormir. Mesmo que acabasse morrendo congelado. —Boa noite, um quarto por favor.

Estávamos em uma estalagem da cidade. A lareira quentinha da entrada enviava uma onda de ar quente que fazia todos os meus músculos relaxarem. Trevis estava parado ao meu lado, encolhido e em silêncio, enquanto Lyra conversava com o senhor do outro lado do balcão.

—Venham. —Ela chamou, ajeitando a mochila nas costas e pegando a chave. Subimos as escadas atrás dela. Lyra parou na primeira porta do corredor e a abriu, revelando um quarto simples, mas aconchegante. Ela entrou e soltou a mochila nos pés da cama e suspirou, cansada. —O senhor disse que a cozinha fica lá embaixo na porta à direita. A comida está inclusa no quarto, então vocês podem ir lá comerem alguma coisa se quiserem. —Ela se abaixou e puxou um saquinho da mochila. —Vou comprar algumas coisas e já volto.

—Não quer que a gente vá junto? —Lyra negou com a cabeça e se despediu, saindo e deixando nós dois sozinhos no quarto.

—Ta com fome, moleque? —Indaguei e Trevis assentiu, com a maior cara de sono do mundo. Nossa viagem de navio no meio daquelas caixas forem desconfortáveis demais. Quase não conseguimos dormir. —Vem, vamos lá comer alguma coisa enquanto ela não volta.

[...]

—Porque não quis contar nada sobre você pra Lyra? —Trevis indagou, enquanto mordia um pão. Eu estava sentado perto da janela, observando a neve acumulada lá fora. —Pensando bem, nem eu sei nada sobre você.

—Não tenho nada pra contar, Trevis. —Afirmei. E era verdade. Eu não tinha absolutamente nada pra contar sobre mim, porque eu não sabia nada sobre a minha história. Estou a tanto tempo nas ruas, que simplesmente esqueci como era antes de eu ir parar nelas.

Eu não me lembro dos meus pais. Não me lembro se tinha uma casa quentinha, uma cama ou comida a vontade. Não existe nada além de um grande vazio de lembranças.

Eu sei que Lyra está tentando se aproximar, mostrar que podemos confiar nela. Mas quando o mundo te mostra de várias formas possíveis, que não é confiável até você ficar quebrado, é difícil pensar que existe alguma exceção nele.

E ela contar a história dela me mostrou que talvez ela seja uma exceção e que talvez eu esteja exagerando. Mas eu prefiro ser desconfiado e sobreviver, do que confiar demais e acabar pagando por isso.

Como se soubesse que eu estava pensando nela, Lyra passou pela porta com umas sacolas na mão e soltou tudo no chão, soltando uma respiração pesada.

—O que é isso? —Trevis indagou e ela abriu um sorriso radiante, que me fez até estremecer.

—Roupas limpinhas e quentinhas pra nós três. —Ela apontou para as sacolas. —Eu sou uma dama e gosto das coisas muito bem limpinhas. Então vocês vão tomar banho e colocar as roupas que eu trouxe, então podemos dormir. Caso contrário, vocês dois dormem lá fora.

—Como é? Está nos chamando de sujos? —Cruzei os braços e ela deu de ombros, exibindo um sorriso calmo.

—Então, quem vai puxar a fila pro banho? —Indagou e Trevis começou a rir. Apontei para ele e ergui o queixo.

—Vai você primeiro espertalhão. Tá rindo então pode ir primeiro. —Lyra sorriu e entregou as roupas a Trevis que correu para o banheiro. Olhei pra Lyra e ela sorriu animada pra mim.

Okay, ganhou alguns pontos comigo.



Continua...
.....
Eis a autora que teve uma super ideia pra um livro, mas não pode escrever pq tá cheia de coisas já. (Choro interno)

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now