Capítulo 81: Castelo.

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Kayla

Não sei em que momento eu percebi que as coisas estavam muito piores do que pareciam. Meu corpo se chocou contra o chão do que parecia ser um corredor, e meu braço ficou pressionado embaixo do meu corpo, me fazendo soltar um grito. Cedric olhou pra mim uma última vez, exibindo uma careta antes de grunhir e então desaparecer pelo telhado.

Me coloquei de pé, sentindo os estalos dos ossos do meu braço. Comecei a correr, tentando abrir as portas que estavam todas trancadas. Virei no corredor, vendo que ele dava para uma varanda. Na mesma hora que comecei a correr de novo, uma das portas se abriu atrás de mim e os guardas surgiram.

Olhei para a rua através da varanda, vendo que havia uma pilastra de madeira, onde as pessoas estavam pendurando roupas. Então sem pensar muito, pulei no suporte da varanda e saltei, agarrando a pilastra e deslizando até o chão, sentindo a pele da minha mão arder quando tentei me segurar. Cai sentada no chão, vendo os guardas vindo no final da rua.

—Por que isso sempre acontece comigo? —Perguntei, retoricamente, desviando das pessoas enquanto minhas pernas doíam pelo esforço da corrida. Desviei de uma carruagem, passando ao lado de uma casa e pegando a espada que estava presa na minha cintura.

Ergui ela assim que dei de cara com um guarda, que me atacou no mesmo instante, desviei do golpe dele, usando a minha espada para me defender. Então peguei um vaso de plantas de uma das janelas com a outra mão e taquei contra o rosto dele. Outro guarda sugeriu, me fazendo girar o corpo e erguer a espada. Nossas lâminas se chocaram, e eu pressionei as duas até meu joelho se erguer a acertar o meio das pernas dele. Assim que o mesmo se curvou, eu bati com o cabo da espada na cabeça dele.

Meus passos rápidos se tornaram uma corrida de novo, enquanto eu via mais e mais guardas aparecendo. Desviei para outra rua, vendo que estava ficando cercada. Abaixei minha cabeça quando uma flecha passou bem do meu lado, me fazendo quase derrapar no chão e cair. Ouvi os gritos dos guardas atrás de mim, com minha respiração saindo ruidosa por conta da corrida.

Virei em outra rua, mais estreita. Olhei pra trás pra ver os guardas, vendo que eles estavam ficando para trás. Virei minha cabeça para frente de novo, no mesmo instante que uma porta se abria e me acertava em cheio na testa.

[...]

Despertei, sentindo um gosto amargo na boca. Meus dedos deslizaram pela superfície macia do que parecia ser uma cama muito confortável. Abri meus olhos, encarando o teto de madeira. Quando olhei ao redor, vi que estava deitada em uma cama, com cortinas brancas me impedindo de ver ao redor. Fiz um movimento pra me levantar, sentindo meu braço sendo puxado para trás. Só então percebi que uma das minhas mãos estava acorrentada ao lado da cama.

—Mas... —A cortina foi puxada de forma grosseira, revelando a figura de pele morena, com olhos castanhos mel e um sorriso presunçoso no rosto.

—Olá, Kayla. —O príncipe cantarolou, dando alguns passos até parar ao lado da cama, deslizando a mão pelo lençol branco. —Está se sentindo bem?

—Aposto que preferia que eu estivesse morta. —Falei, sentindo uma dor pulsante na cabeça. Só então me lembrei do que havia acontecido. Uma porta tinha batido contra mim com força, me fazendo desmaiar no meio da rua.

—Vai ficar surpresa em saber que eu mesma pedi que o curandeiro real cuidasse pessoalmente de você. —Murmurou, me analisando com certo interesse.

—Desde quando virou tão condescendente, alteza? —Indaguei, ignorando o sorriso dele e puxando meu braço amarrado. —Estou curiosa pra saber quando meu corpo vai estar pendurado no meio da praça, por uma corda.

—Não pretendo mandar que seja enforcada. —Declarou, ignorando meu sarcasmo.

—Bem, se pensa que vou trabalhar pra você atrás das safiras, como queria da última vez, desista. A essas horas, elas já devem estar nas mãos da Rainha das Rainhas. —Afirmei, virando o rosto, quando ele se aproximou mais da cama.

—Não pensei que fosse. Estava imaginando o que você ganhou trabalhado pra um Portador das Sombras. —Questionou, pegando alguma coisa na mesinha ao lado da cama. Vi ele balançar o saquinho, com as moedas de ouro fazendo um pequeno barulho. —Se fosse dinheiro, te dou certeza que se tivesse trabalho pra mim, tinha ganhado muito mais.

Fechei meus olhos, soltando um suspiro longo. Eu havia ganhado passagem direta pro inferno trabalhando pra Axel. E um belo coração partido. Eu achei que depois do meu padrasto, não havia nada dentro de mim que pudesse se quebrar. Mas Axel fez questão de curar meu coração para quebrá-lo de novo, ele mesmo.

—Que lugar é esse? —Indaguei, apontando para as cortinas ao nosso redor. Por onde o príncipe havia passado, eu podia ver mais camas e mais cortinas.

—A enfermaria do castelo. —Olhei pra ele no menos instante, vendo ele soltar o saquinho e olhar pra mim. —Está de volta à Cidade dos Ossos, Kayla. Mais precisamente, no Castelo Solar.

—Porque eu estou aqui e não numa cela? —Ele pareceu pensar na minha pergunta.

—Sabe, eu e meu pai descobrimos muitas coisas não últimos dias. Primeiro, Devlon, nosso chefe da guarda, era um traidor nojento. Depois, soube que Miriam... você se lembra dela? —Ele não esperou que eu respondesse. —Era uma das guardiãs da safira. O que foi bem surpreendente, sabia?

—Não me diga. —Ironizei, fechando os olhos e estremecendo ao pensar no que viria a seguir.

—Ai veio toda a história dos guardiões, safiras, séculos passados, até parar nos conjuradores. —Afirmou, escorando uma mão ao lado da minha cabeça, se curvando para perto do meu rosto. Prendi o ar quando ele abriu um sorriso e me fitou. —E aí descobrimos algo muito mais valioso.

—Que seria? —Questionei, vendo o sorriso dele aumentar.

—Você, conjuradora.


Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now