Capítulo 64: Os Quatro Elementos.

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Miriam

Não precisava de muito para um livro se tornar velho e inutilizável pelo rei. A maioria deles, sua majestade nunca nem mesmo leu o nome. Mas isso não importava. Tínhamos que organiza-los e deixar tudo na mais perfeita ordem pra ele.

—Miriam? —Fechei meus olhos ao ouvir a voz de Devlon atrás de mim. Não havia nada mais irritante do que as visitas que ele me fazia, para absolutamente nada.

—Em que posso ajudar? —Indaguei, continuando a organizar os livros na estante na minha frente. —Estou um pouco ocupada agora.

—Sempre ocupada, não é? —Murmurou, com a voz indiferente. —Sempre com o rosto entre os livros. Com uma coleção pessoal pra si própria ainda por cima. —Parei com um livro no meio do caminho, olhando pra ele com o canto dos olhos. —Mas ainda sim, não sabe absolutamente nada sobre as safiras. É no mínimo estranho.

—Já conversamos sobre isso. —Afirmei, ignorando o tom provocativo na sua voz. —Não há nada sobre elas nos livros.

—Com você sendo a guardiã deles, é de se esperar que não tenha mesmo. —Declarou e eu me virei, vendo o sorriso que iluminava o rosto de Devlon. —Quanto tempo mais, acha que vai conseguir ficar escondida aqui?

—Não sei do que está falando, Devlon. —Desci das escadas, passando por ele, em direção ao corredor. Ouvi ele rir e seus passos me seguindo.

—Traidora. —Sibilou, me fazendo virar pra ele de novo. Devlon cerrou os olhos. —Eu encontrei Lyra na viagem pro Reino Lunar, Miriam. Acho que não preciso dizer que ela estava com uma safira, não é? —Ele riu. —Aposto tudo que tem dedo seu nisso.

Apertei o livro que estava em minhas mãos, vendo ele me analisar como um predador. Ergui o queixo, abrindo um sorriso venenoso pra ele.

—Como ousa me chamar de traidora, sendo que é você quem está escondendo uma safira do seu próprio rei? —Questionei, vendo a surpresa tomar conta do seu rosto. —Imagino qual seria a pena pra isso. Uma bela corda no pescoço.

—E como você sabe que eu estou com uma safira? —Ele se aproximou mais, ficando na minha frente. Os olhos refletindo caos.

—Do mesmo jeito que eu sei pra quem você está trabalhando. —Afirmei, apertando o livro com força. —Quer falar mesmo sobre traição, Devlon?

Ele piscou, abrindo um sorriso largo e se afastou, acenando com a cabeça.

—Acho melhor se preparar, Miriam. A era dos quatro reinos está prestes a chegar ao fim. —Declarou, dando passos lentos para trás. E eu vi o momento que sua boca formou outra frase sem emitir som, "Viva a Rainha das Rainhas!".

[...]

Entrei na minha sala, andando apressadamente até a mesa. Revirei os papéis, tentando encontrar um cartão limpo para escrever uma carta.

—O que está fazendo? —Tina passou pela porta, olhando confusa para minha bagunça.

—Preciso que leve uma carta a sua majestade. —Falei, achando o papel e me abaixando, para poder escrever. As letras saíram de forma trêmula, por conta do meu nervosismo. Mas boas o suficiente para o rei entender o que eu estava dizendo. Eu iria entregar Devlon. Provavelmente já deveria ter feito isso no momento que senti a safira que estava com ele.

—O que? Por que? —Indagou, curiosa, me vendo escrever. Fechei a carta e estendi para Tina, que ficou me encarando confusa. —O que está havendo?

—Traição, Tina. Precisamos avisar o rei antes que seja tarde demais. —Afirmei, e quando ela pegou ficou parada, me observando. —Para o rei, apenas. Não entregue para nenhum guarda ou quem quer que seja. Apenas para o rei.

—Esta se entregando? —Indagou, quando fiz menção de sair dali.

—O que? —Me virei incrédula para ela. —Não! Claro que não. Não fiz nada de errado. É Devlon quem estou entregando.

—Então não vai contar ao rei que permitiu que Lyra saísse da biblioteca, mesmo que as leis mandem as fadas para esta biblioteca? —Eu arfei, incapaz de acreditar que Tina estava discutindo aquele assunto naquele momento. —Não podia ter feito isso, Miriam. Não podia tê-la ajudado!

—Não é hora pra discutir isso. Nosso rei está prestes a ser traído e você quer mesmo discutir a fuga de uma fada? —Indaguei, colocando as mãos na cintura.

—Você nem liga pro nosso rei! —Retrucou.

—Tina, vá agora. Mais tarde conversamos sobre isso. Mais tarde! —Prometi e ela me encarou alguns segundos em dúvida. Por fim assentiu e saiu. Suspirei aliviada e corri pelo escritório, até o armário que eu mantinha trancado. O abri, vendo todos os livros proibidos para a leitora de simples pessoas. Remexi tudo, até achar o suporte da parede falsa. O abri, um pequeno buraco no fundo do armário. Havia uma única caixa ali. Puxei ela e encarei a tampa, passando os dedos nos símbolos cravados ali. Os quatro elementos.

Ajeitei tudo de volta no lugar, abraçando a caixa contra meu corpo. Tranquei o armário e sai do escritório, andando apressadamente até a biblioteca principal de novo. Passei pelas fileiras de livros até chegar ao quadro que continha a passagem secreta.

Estalei os dedos, criando uma esfera de luz para poder ver a passagem. Me virei uma última vez para a biblioteca, observando o lugar que havia sido minha morada a muito tempo.

—Viva os Conjuradores, Devlon! —Declarei, desaparecendo pela passagem secreta.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now