Capítulo 13: Príncipe Herdeiro.

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Já havia anoitecido e eu tinha passado a tarde toda organizando os livros. Miriam havia ficado comigo até o final, como se estivesse com medo de me deixar sozinha. Suspirei, colocando o último livro entre os outros e desci a pequena escada.

—Tudo certo aí, Kayla? —Miriam questionou e eu assenti. Puxei o carrinho em direção ao corredor e vi Miriam esperando na saída.

—Você podia ter ido. Não precisava ficar me esperando. —Falei e ela balançou a cabeça. —Ou está com medo que eu fuja do príncipe herdeiro? Eu sei que ele vira aqui hoje a noite. Ou melhor, a qualquer momento.

—Não estou com medo de você fugir. Sei que não faria isso. —Eu senti vontade de rir. Eu com certeza faria se pudesse. —Só pensei que não se sentiria confortável ficando sozinha aqui na biblioteca a noite.

—Ontem foi só um susto. —Menti, deixando o carrinho no lugar e indo até onde ela me esperava. Miriam me acompanhou pelo corredor, até eu perceber que ela parecia ansiosa. —Ele já está aqui, não é?

—Esta sim. —Confirmou e eu mordi a língua. —Cuidado com o que vai falar, Kayla. Ele é o herdeiro do trono. Não sei como não está irritado por você ter o roubado.

—Vou me comportar, prometo. —Falei, sem saber se aquilo era verdade ou mentira. —Onde ele está?

—Esperando na sala. Venha, vou levá-la até lá. —Ela fez menção de tocar meu braço e eu me afastei por impulso, chamando a atenção dela. —O que foi?

—Só não gosto que me toquem. —Falei e vi a confusão se instalar dentro dela. —Vamos logo. Não quer deixar o príncipe esperando.

Miriam pareceu extremamente confusa, mas me conduziu até a sala de estar. Parei na entrada vendo o príncipe sentado no sofá com as penas cruzadas e uma expressão irritada. Assim como o rei, ninguém sabia o nome do príncipe ou dos outros membros da família real.

—Vossa alteza, seja bem vindo a grande biblioteca real. —Miriam fez uma reverência, chamando a atenção dele. Ele virou o rosto na nossa direção e analisou Miriam de cima a baixo, antes de me encarar.

—Saia, fada. —Mandou e eu engoli em seco com o tom de voz dele. Miriam se retirou e eu encarei um ponto na parede, tentando não olhar pra ele. —Se aproxime, ladra.

Entrei na sala e caminhei até ficar perto do sofá. Fiz uma pequena reverência e o encarei, vendo seus olhos me avaliarem.

—Vossa alteza. —Falei, quase como um cumprimento.

—Como é seu nome? —Indagou e eu segurei a careta que quis se formar no meu rosto.

—Kayla.

—Kayla de que? —Eu parei de respirar por alguns segundos. Meu sangue esquentou e meu estômago se revirou.

—Só Kayla. Não tenho sobrenome. —Falei e ele revirou o olhos, balançando a perna em sinal de impaciência.

—Você... —Ele me olhou de cima a baixo. —É a garota que me roubou no meio do centro da cidade? Devo dizer, é corajosa e audaciosa pra uma ladra. —Zombou e eu cerrei os punhos. —A senhorita pelo menos sabia o que estava roubando de mim?

—Não, vossa alteza. —Falei e ele arqueou as sobrancelhas e soltou uma risada descrente. —Eu só estava tentando roubar alguma cosia pra conseguir algum dinheiro. Mil perdões por ter feito isso com o senhor.

Ele me encarou e lentamente curvou os olhos em pura desconfiança. Tentei pareceu o mais natural possível. Me remexi, quando senti minha nuca formigar e ele me avaliou de novo.

—Meu pai quer a senhorita morta e pendurada em uma corda. —Eu arregalei os olhos e encarei os olhos dele. —Mas eu o convenci de que podemos aproveitar alguma coisa nessa história toda. —Comentou e se colocou de pé, parando na minha frente. —Aquilo que roubou era uma safira. Meu pai havia acabado de encontrá-la e você fez o favor de perdê-la. Não acho que tenha noção de o quanto foi difícil encontrá-la e depois pega-la. —Virei o rosto para o lado quando senti a respiração dele bater na minha bochecha. —Aquela safira é importante e poderosa. Existem 4 delas. A outra está no Reino Cinzento. A senhorita, como pagamento pela grande confusão que causou, irá até lá e roubara a safira para meu rei.

—Como? —Falei, quase me engasgando com o ar. —Quer que eu trabalhe para você, roubando a safira que está com outro rei?

—Sim e não. Ela está no Reino Cinzento, mas na com o rei daquelas terras. A safira está na Cidade Marítima. Você deve ir até lá encontrá-la e trazê-la para nós antes que o rei cinzento a encontre primeiro. —Esclareceu e eu respirei aliviada quando ele se afastou. —Isso ou meu rei não te deixará viva por mais um dia.

Eu encarei o chão em silêncio, sentindo meu coração acelerado. Certo, eu deveria ter fugido no exato momento que Devlon me tirou da prisão. Me pouparia disso.

—Preciso avisar Miriam...

—Ela já sabe! —Me cortou em um tom grosseiro. —Você acha que isso aqui foi uma caridade básica? —Ele riu em escárnio e me olhou de cima a baixo. —Não se iluda. Você só veio parar aqui porque queríamos ter certeza que não era uma garota doida que morava nas ruas. Que era alguém sociável o suficiente para obedecer e trabalhar sem criar o caos.

Meu rosto ficou congelado. Eu não esperava uma caridade básica de ninguém. Sabia que Devlon havia feito tudo isso por algum motivo. Agora eu tenho a verdade. Era apenas um teste de sanidade.

—Dois dias forem suficientes para vocês terem certeza que eu não sou doída. —Falei, com a risada entalada na minha garganta. —Vou arrumar minhas coisas.

—Excelente. Estarei esperando aqui. Faça o favor de não demorar. —Resmungou e se sentou no sofá. Virei as costas e sai para o corredor, segurando a saia do vestido e tentando andar mais rápido.

Parei na ponta da escada quando dei de cara com Miriam e ela me lançou um olhar repleto de culpar.

—Eu sinto muito. Queria ter contado a você. Mas eles não me permitiram. —Eu soltei uma risada descrente. —Me desculpa, Kayla.

—Pode ficar com as suas desculpas. Nunca esperei nada de você nem de ninguém. —Afirmei e passei por ela, subindo as escadas.

—Quando terminar isso, vou pedir para que seja trazida de volta pra cá. —Parei, segurando o corrimão e encarei ela por cima do ombro. —Pode morar com a gente de verdade e não apenas como uma avaliação.

Balancei a cabeça e voltei a subir. Fui em direção ao meu quarto, tendo a certeza que precisava achar um jeito de fugir naquele momento. Eu iria era dar o fora e não ajudar o príncipe.

Abri a porta do quarto e tateei a parede para ascender a luz. Um grito se entalou na minha garganta quando eu percebi que o Portador das Sombras estava ali. Antes que eu pudesse gritar ele já havia tampado minha boca com a mão e me prensado na parede.




Continua...
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As aventuras da Kay começam agora. Logo eu volto com o mapa pra vcs não ficarem perdidos. <3

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now