Capítulo 12: Aventureira.

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Desci as escadas de pedra, que pareciam formar um caracol e parei quando encontrei a cozinha. Por algum motivo, que eu não sabia o qual, as Fadas da Luz moravam aqui na biblioteca real. Os quartos ficavam nos andares superiores e as áreas teoricamente comuns ficavam na área leste, onde estava a cozinha.

Observei as fadas que andavam por aquela cozinha. Algumas me olhavam com cara de tédio e outras abriam sorrisos, que eu tentava retribuir. Levei meu prato até a pia onde haviam mais louças sujas.

—Kayla? —Olhei para trás vendo a figura de Lyra. Ela abriu um sorriso assim que me viu e caminhou até mim, tirando o prato da minha mão. —Quer mais? Não precisava trazer, eu iria lá buscar.

—Não quis incomodar. E também queria conhecer as outras partes desse lugar. —Comentei, analisando a cozinha que parecia ter saído de um livro antigo. As paredes eram de pedra. Os armários de madeira. E ainda haviam ervas e coisas penduradas pela cozinha.

—Parece uma toca de bruxa e não uma cozinha de fadas. —Comentei e ela riu, começando a lavar as louças sujas.

—Bem vinda a minha realidade. —Murmurou e eu me aproximei dela.

—Você passou a vida toda aqui? Quantos anos tem? —Perguntei, tentando ter certeza que ela tinha a mesma idade que eu.

—Sim, eu nasci aqui. Tenho 17. —Afirmou e eu balancei a cabeça. —Não saio muito daqui. Tina não gosta que eu fique perambulando pelas ruas.

—Porque? —Perguntei e ela tombou a cabeça para o lado e abriu um sorriso. —Certo, é muito óbvio. —Olhei para o serviço que ela estava fazendo e suspirei. —Desculpa se fui meio indiferente com você ontem. Não era meu melhor dia.

—Tudo bem, eu entendo. Você parecia bastante assustada. —Comentou e estalou os dedos, ascendendo uma esfera de luz perto das louças que ainda estavam sujas. —E eu também sou curiosa demais. Sei que viu algo e não quis contar.

—Você não acreditaria. —Comentei e ela ergueu os olhos até mim, parando o que estava fazendo.

—Tenta, ué. —Balancei a cabeça negativamente e ela revirou os olhos, voltando a limpar as coisas. —Morar em uma biblioteca me deu a chance de ler e ouvir muitas histórias. Tanto de terror quanto de conto de fadas. Acredito em muitas coisas. Duvido que vá me surpreender tanto.

Olhei para Lyra, vendo ela terminar de lavar e estalar os dedos, fazendo a luz sumir. Ela virou os olhos violetas na minha direção e abriu um sorriso.

—Quer ver uma coisa legal? —Questionou e eu balancei a cabeça afirmativamente. Lyra segurou a saia do vestido e correu em direção a escada. A segui, tentando não pisar na saia do vestido e acabar passando vergonha. Ela me levou em direção aos corredores de quartos e depois ao seu próprio quarto.

—Porque me trouxe aqui? —Indaguei e ela foi até a janela, a erguendo e passando uma das penas por ela, me deixando surpresa.

—Você já vai ver. Vem logo. —Chamou, desaparecendo do outro lado e eu olhei envolta, achando tudo aquilo uma maluquice. Fui até a janela e fiz o mesmo, vendo que ela havia subido até o telhado. Fiz o mesmo e a segui, escutando as telhas rangerem aonde eu pisava. —Eu venho aqui todas as noites ver as estrelas.

—Tina ou Miriam sabem disso? —Questionei e ela soltou uma risada.

—Miriam sabe. Ela já me pegou aqui em cima uma noite dessas. Tina não. Ela com certeza brigaria comigo e me colocaria de castigo. —Ela parou e se deitou no telhado. Fiz o mesmo e fiquei ao lado dela. Lyra tirou uma das telhas e pegou uma pequena luneta. —Eu vejo absolutamente tudo daqui.

Ela abriu a luneta e colocou no olho, observando algo pelas ruas da cidade. Ela afastou ela do rosto e estendeu a mim.

—A noite é mais interessante. Mas eu já vi muita coisa doida com isso aí. —Afirmou e soltou uma risadinha. —As vezes eu queria poder estar lá embaixo como uma pessoa normal. Mas eu não posso e muito menos sou uma pessoa normal.

—Acredite, Lyra, não a nada bonito lá embaixo para se querer viver lá. —Afirmei e ela virou o rosto para mim, enquanto eu olhava pela luneta e via a feira da cidade cheia como sempre. —É o próprio caos.

—Deve ser melhor do que viver aqui. Entre paredes de madeira e pedra sem perspectiva de mudança. —Retrucou e pegou a luneta de mim. —Eu não quero passar minha vida toda nesse lugar como as outras da minha espécie. Eu vejo o mundo pelas páginas dos livros e desejo muito viver algo como uma aventura.

—Lyra, a aventureira. —Brinquei e ela abriu um sorriso. —Boa sorte com o seu sonho. Mas também cuidado com o que deseja.

—Cuidado com o que esconde também, Kayla. As vezes segredos podem custar caro. —Lyra comentou e eu engoli em seco. —Posso te dar um conselho? —Ergui as sobrancelhas e ela prosseguiu. —Cuidado com quem confia. Devlon nunca ajudou ninguém assim. Aposto todas as moedas que tenho guardadas que tem algo mais nisso.

—Eu não tenho dúvidas disso. —Olhei para as ruas. —Mas estou aqui pela comida só. —Lyra soltou uma gargalhada e eu acabei sorrindo junto.

Não confiar em ninguém. Isso era praticamente minha filosofia de vida.





Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now