Capítulo 47: Penhasco.

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—Não sei porque quis vir junto. Não é uma boa ideia. —Axel resmungou, enquanto nós três andávamos pelas vielas da pequena cidade pirata e ia em direção as montanhas escuras e nubladas.

—Porque eu sou mulher? —Indaguei e ele estalou a língua. Revirei os olhos como resposta e ouvi uma risada vinda de Kenji.

—A questão não é essa, Kay. Só não sabemos o que esperar lá, entende? E nós temos poderes, você não. —Kenji argumentou e eu andei mais rápido, até passar Axel e parar na frente dele, interceptando seu caminho.

—O que foi? —Ele ergueu o queixo, como se quisesse entrar em um tipo de competição. Estendi minha mão, enquanto a outra colocava na minha cintura.

—A safira, da pra mim. Assim nós três vamos ter poderes. —Axel soltou uma risada e olhou para Kenji, que parecia se divertir com a situação. —Anda, me dá a safira!

—Você nem sabe como usá-la. —Axel a tirou do bolso e brincou com ela na sua mão. —Vai acabar morta.

—Eu usei ela na Floresta do Medo. Antes de você decidir rouba-la de mim. —Afirmei e ele tombou a cabeça, passando a língua sobre os lábios.

—E graças a isso, eu salvei sua vida. —Declarou, dando de ombros como se aquilo fosse algo que eu devesse agradecer.

Espera, como é que é?

—Como sabe disso? —Indaguei e ele apenas me encarou com um sorriso divertido nos lábios. Sim, eu teria sido morta se Axel não tivesse roubado ela de mim e eu tivesse sido pega com ela. Dei um passo para trás, como se tivesse ligado os pontos. —Você estava lá... Na minha primeira noite na prisão.

—Estava. —Confirmou e eu senti minhas bochechas queimarem de raiva.

—E você fala isso com essa cara de pau? —Indaguei e Axel sorriu ainda mais, como se percebesse que aquilo só servia para me irritar. E essa era a intenção dele. —Quantas malditas vezes você fez isso? Ficou me observando?

—O tempo todo desde que você saiu da Floresta do Medo. —Axel estalou a língua e ergueu o queixo mais um pouco. —Eu precisava achar um bom momento para falar com você.

—Você é um idiota! —Exclamei, cerrando meus punhos. Ele abriu a boca para falar algo, mas eu ergui a mão e ele ficou em silêncio. Soltei um grunhido de raiva e arranquei a safira da mão dele, virando as costas e indo em direção a floresta.

[...]

As árvores e arbustos envolta de nós estavam úmidas. O ar envolta de nós estava preso em uma neblina que não nos deixava ver o que vinha a nossa frente. Soltei um suspiro cansado, sentindo minhas pernas doerem. Não fazia ideia quanto tempo estávamos andando. Mas já estava anoitecendo e eu estava cansada demais. Algumas vezes eu ouvia barulhos pela floresta e sentia que estávamos sendo observados. Mas nenhuma criatura ousou chegar perto de nós.

—Tudo bem aí, Kay? —Kenji questionou, quando percebeu que eu havia parado um segundo. Assenti com a cabeça e voltei a andar, não querendo dar o braço a torcer. Se eu desistisse, Axel usaria isso como munição pra me atacar e eu não podia deixar isso acontecer de jeito nenhum.

—Toma. —Olhei para Kenji quando ele começou a se aproximar e tirou sua jaqueta, estendendo pra mim. —Você está arrepiada de frio.

—Mas e você? —Indaguei e ele abriu um sorriso.

—Estou acostumado com o frio. Relaxa. —Kenji voltou a andar e eu enfiei as mãos nas mangas da jaqueta, vestindo ele. Era enorme perto do meu corpo pequeno e magro. Mas foi automático relaxar quando o calor da jaqueta passou pra mim.

—Pelo mapa, estamos quase chegando ao local do navio. —Axel falou, andando na frente de nós dois. —Talvez mais alguns metros. Só que o mapa não deixa claro aonde está o navio. Se é um rio ou o que.

—Me deixa ver. —Kenji pediu e andou até para ao lado de Axel. Passei pelos dois, continuado a andar e olhando para os lados, sentindo o vento sussurrar nas folhas das árvores. Axel e Kenji estavam conversando sobre o mapa quando perdi o equilíbrio e arregalei os olhos quando percebi até onde havia chegado. Dei um passo para trás, quase caindo no penhasco que havia na minha frente.

—Ja sei onde o navio está. —Falei, chamando a atenção dos dois que se aproximaram no mesmo instante. Eles pararam cada um ao meu lado, olhando para o penhasco que se estendia. Lá embaixo eu podia ver o leio seco do que um dia foi um rio, ou algo muito maior.

—Olha. —Axel apontou para uma parte mais escura lá embaixo, onde as árvores já tomavam conta e eu pude ver a silhueta de um navio, preso a rochas no solo e completamente destruído.

—O navio do rei dos mares. —Kenji olhou para o penhasco na nossa frente, como se procurasse por um jeito de descer. —Não parece tão assustador como falaram.

—Ainda não o vimos de dentro. —Comentei e Kenji tombou a cabeça com um sorriso animado.

—Vamos lá. Temos um tesouro amaldiçoado para achar. —Axel exclamou, começando a andar pela beirada do penhasco, procurando um lugar para descermos.

—Não tem como descer. —Kenji resmungou. —Só se você queira dar adeus a sua bela vida. Eu ainda pretendo ter filhos, então não estou afim de morrer agora.

—Podemos tentar dar a volta. Mas temos que ser rápidos e aproveitar a última luz do dia antes que ela suma de vez. —Axel olhou para o horizonte, vendo a luz do sol diminuindo aos poucos.

—Você enxerga no escuro. —Kenji olhou para Axel com uma careta.

—Mas vocês dois não. —Axel rebateu e eu soltei uma risada sem me conter, atraindo a atenção dele pra mim. —Do que você está rindo?

—Você se preocupando com os outros é novidade pra mim. —Dei de ombros e ele bufou, mostrando irritação. Revirei os olhos e apertei a pedra que estava no bolso da minha calça. —Eu acho que sei como podemos descer.

Os dois me encararam com as festas franzidas e eu mordi o lábio, puxando a safira do meu bolso e mostrando a eles. A cor verde brilhando no fim do dia.

—Safira da terra. —Os dois falaram juntos, como se tivessem percebido o óbvio.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now