Capitulo 11: Mundo Inferior.

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—Não quer falar sobre o que aconteceu? —Tina questionou, com seus cabelos loiros presos em uma grande trança. —Devlon não encontrou nada ontem aqui. O que a assustou tanto?

—Não sei. Talvez o lugar seja assombrado. —Falei em certo tom zombeteiro e vi ela revirar os olhos. —Onde está Miriam?

—Foi resolver algumas questões da biblioteca, sobre uma nova remessa de livros que vamos receber. —Ela empurrou o carrinho na minha direção. —Agora ao trabalho, mocinha.

Peguei o carrinho e olhei para as fileiras de corredores de livros. Lá vamos nós de novo. Comecei a colocar os livros nos lugares. Subindo e descendo escadas. Lendo nomes e mais nomes de autores e livros com capas estranhas sobre magia antiga e bruxaria.

Peguei o último livro daquele carrinho e parei sobre a ilustração da capa. Túneis e mais túneis subterrâneos que davam para um único ponto no subterrâneo. Como uma teia de aranha.

Mundo inferior: Guia sobre o portal dos mundos. —Li o nome e abri as primeiras páginas. Comecei a ver as ilustrações sobre as outras dimensões que existiam. Meu mundo era pequeno comparado a vastidão dos mundos que existiam em outras dimensões. Todas elas se encontrando em um único ponto, o Mundo Inferior.

Não conheço ninguém que já tenho ido até lá. Na verdade conheço pouco sobre ele e as outras dimensões. Mais sei que existem outros mundos mágicos por aí. Muitos ainda esperando para serem descobertos.

Fechei o livro e o coloquei no lugar, puxando o carrinho para ir pegar mais com Tina. A saída do vestido azul deslizava pelo chão de madeira, enquanto eu me lembrava da noite anterior.

—Maldição de vida! —Resmunguei e fui até onde Tina já esperava com uma pilha de livros em cima de uma mesa. Olhei para as janelas, ouvindo o som dos sinos da cidade tocando. —O que está acontecendo?

—Deve ser o casamento de um nobre qualquer. —Tina deu de ombros. —Esses sinos tocam por qualquer coisa.

—Você... —Mordi o lábio e ela ergueu os olhos até mim, enquanto eu colocava os livros lentamente dentro do carrinho. —Sabe o porque Devlon estava aqui ontem?

—Ele veio informar que o príncipe viria aqui está noite. —O sangue foi embora do meu rosto e eu vi ela analisar cada reação minha. —Ele vem conversar com você. Mas noto que já sabe disso.

—E quando pretendiam me contar? —Questionei e ela deu de ombros.

—Que diferente faria você saber ou não quando ele vinha? —Indagou em tom de ironia. —Terá que conversar com ele do mesmo jeito.

—O que diabos ele quer comigo? Quer que eu peça desculpas por tê-lo roubado? Qual é eu só estou tentando sobreviver nessa droga de cidade. —Exclamei e Tina me encarou com as sobrancelhas erguidas.

—Acalme-se, Kayla. Certamente é melhor ele vir aqui esperando um pedido de desculpas, do que você ter sua cabeça pendurada por uma corda, não? —Ela abriu um sorriso e eu suspirei completamente irritada.

—Eu não sei. Não sou uma adepta a reverências ao rei. —Falei, me lembrando das palavras de Miriam. —Mas te dou certeza que isso não é nem um pouco agradável ou menos ruim que ser enforcada.

Não quando você está sendo caçada por um Portador das Sombras, que saiu da Floresta do Medo só para vir atrás de você. Acreditem, nada pode ser pior do que isso.

[...]

Me sentei na cama e puxei o prato para mim. A única coisa boa disso tudo era não sentir minha barriga doer de tanta fome. Comida era o que não faltava ali naquele lugar. Lyra havia me trazido o almoço no quarto, quando eu afirmei que não queria descer.

Parei com o garfo na metade quando ouvi um barulho na janela. Me levantei e caminhei até as cortinas fechadas. Puxei as duas para o lado e arregalei os olhos ao ver Trevis pendurado ali.

—Ai meu Deus! —Exclamei, abrindo a janela e o puxando para dentro. Trevis caiu do joelhos no tapete do quarto e abriu um sorriso pra mim. —O que está fazendo aqui, Trevis?

—Como assim? Vim ver se você estava bem. —Ele se colocou de pé e olhou envolta. —Cedric me contou que viu você sendo presa. Fui até a prisão e descobrir que Devlon havia te trazido pra cá. Eu e ele ficamos a noite toda tentando achar você nesse lugar imenso. Quando estava indo embora vi você na janela. —Esclareceu e eu olhei para a janela, vendo Cedric pular por ela.

—Oi. —Ele abriu um sorriso sem graça e eu outro, sem saber ao certo como reagir aquilo. —Você está bem?

—Estou. Só me meti em uma grande confusão e acabei parando aqui. —Dei de ombros e ele fez uma careta. Olhei para Trevis vendo ele correr os olhos para o prato de comida na minha cama. Suspirei e puxei ele pelo braço até colocá-lo sentado e então entregar o prato a ele. —Coma tudo. É comida de verdade. —Falei e ele segurou o garfo com os dedos trêmulos.

—Mas e você? —Indagou em dúvida.

—Relaxa, tem bastante comida aqui. Pode comer tudo. Depois eu pego mais pra mim. —Afirmei e ele começou a comer no mesmo instante, da mesma forma que eu havia feito quando Devlon me levou comida. —Devagar, Trevis. Não quero que se afogue.

—Isso é muito bom. —Afirmou, tirando um grande pedaço de carne e enfiando na boca. Me sentei ao lado dele e encarei Cedric, vendo ele analisar o vestido que eu usava.

—Você ficou bonita assim. —Afirmou e eu encolhi os ombros, sentindo meu rosto corar. —O que aconteceu?

—Devlon me trouxe pra cá. Estou trabalhando para as fadas em troca de abrigo e comida. —Esclareci e ele me encarou surpreso. —É, eu não sei porque estão fazendo isso. —Trevis não se preocupou em responder, apenas continuou comendo, enquanto Cedric se sentava no chão. —Aqueles boatos que você ouviu eram reais. Sobre o rei ter encontrado uma safira.

—Sério? —Indagou de boca cheia. Peguei o copo de água no criado mudo e estendi para o mesmo, que pegou na mesma hora.

—Sim. Estava com o príncipe e eu a roubei. Por isso fui presa. —Ele me encarou de olhos arregalados, como se estivesse me chamando de louca e eu dei de ombros.

—Você é doída de roubar do príncipe. —Cedric murmurou e eu ri. —Bem, eu teria feito o mesmo provavelmente.

—O que você ouviu sobre essas safiras? Sabe o que elas são? —Perguntei a Trevis.

—Só ouvi dizer que são 4. —Ele bebeu a água de uma vez só e me devolveu o copo. —E que era ligado a alguma magia muito antiga e poderosa que envolve os portadores. Mas não sei exatamente o que.

Engoli em seco. Ligada aos portadores. Isso explicava mais ou menos aquele Portador das Sombras ter roubado a safira de mim. Mas não explica o porquê de ele ter vindo até aqui.

—Vocês teriam uma faca sobrando? —Olhei de Cedric para Trevis.





Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now