Capítulo 40

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Aviso - esse capítulo contém cenas pesadas que podem ser gatilhos para você. Cuidado ao prosseguir.

Naquela noite, a pequena Charlotte de oito anos descobriu algo muito inesperado em sua masmorra.

Talvez devido a rapidez com que fora feita, os empreiteiros reais acabaram deixando um certo canto pouco acimentado naquele lugar escuro e, certa noite, Charlotte descobriu que tal lugar se tratava de um buraco grande o bastante para que seu corpo infantil pudesse passar.

Aquela masmorra fora construída com o único propósito de "abrigar" a jovem filha do rei Leonard, o que significava que não haviam masmorras adjacentes a de Charlotte.

Quando ela enfim escapou de sua cela, foi direto para liberdade.

Haviam alguns poucos guardas no caminho daquela garotinha até a parte superior do castelo, só que anos de prática em se manter extremamente silenciosa para não apanhar mais, aliados à escuridão daquele lugar, fizeram com que Charlotte passasse despercebida por tudo e por todos.

O próprio Leonard não acreditava que uma garotinha frágil como Charlotte conseguiria sequer passar das paredes duras de sua masmorra, ainda mais sem poderes. Por isso, e por saber que ninguém em sã consciência teria coragem de descer lá, o atual rei do gelo nem sequer colocou feitiços nas saídas para impedir sua filha de fugir, o que só facilitou para Charlotte de fato conseguir escapar.

Quando finalmente conseguiu alcançar o andar térreo do castelo, Charlotte parecia um coelhinho encurralado, olhando de um lado para o outro com desespero de ser pega.

Por conta de uma luxação na perna esquerda e a falta de dois dedos no pé direito, ela teve que parar por um momento para descansar.

Aquela fora a primeira vez que ela tinha tido coragem de ir contra aquele homem em três anos de tortura por culpa de algo que Charlotte não entendia.

Como ela não entendia, mesmo sendo nova, ela achava injusto demais estar sofrendo tanto.

Por isso, na primeira oportunidade concreta de fuga que a pequena Charlotte teve, ela de fato fugiu sem se importar com nada ou ninguém além de si mesma.

Ao se distrair por pensar em sua vida pregressa durante esta pausa, aquela garotinha de oito anos quase foi pega por um comboio de guardas que fazia uma patrulha naquelas redondezas.

Por sorte ela era pequena e logo conseguiu correr para se esconder em um dos vãos da parede mais próxima.

Ela ficou lá até os guardas passarem, chegando a prender a respiração só para não ser encontrada.

Mas estranhamente se ouviu uma linda melodia ecoando de uma porta perto do lugar onde estava escondida, e quando ouviram tal melodia, os soldados só faltaram correr para longe desesperados de medo.

Charlotte não entendeu essa reação deles diante de uma música tão linda. Como a garota curiosa e inocente que era, ela quis logo saber de onde vinha a música, mas quando colocou seus olhinhos azuis pela brecha da porta, descobriu que era de quem...

Leonard estava sentado à frente de um piano enorme de cauda longa da cor azul celeste. Ele tocava o tal piano com maestria, fazendo as notas se interligarem tão perfeitamente que chegava a ser assustador de tão emocionante.

Algumas lágrimas brotaram involuntariamente dos olhinhos azuis de Charlotte.

Só que não foi a destreza de Leonard no piano ou a beleza da música que deixaram aquela menininha vidrada e tocada.

Foi a tristeza no rosto de Leonard o que realmente despertou a atenção da pequena Charlotte.

Leonard parecia estar sentindo tanta dor ao tocar aquela música que chegava a ser palpável.

Beleza Aprisionante - História dos Quatro ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora