Capítulo 24

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Aviso - esse capítulo contém cenas pesadas que podem ser gatilhos para você. Cuidado ao prosseguir.

Depois daquilo, por incrível que pareça, Charlotte nunca mais foi estuprada naquele castelo por ninguém.

Apesar de continuar a evitando ao máximo, Richard baixou um decreto que impedia qualquer um de tocar na ex-rainha do gelo com intenções lascivas ou seria condenado à morte.

Os antigos guardas dela, que foram mortos sem misericórdia por Richard, haviam mudado para soldados mais sérios e centrados, além de nenhum outro homem se atrever a falar com a rainha mais do que o estritamente necessário.

Mary, que sabia das violações que Charlotte vinha sofrendo, ficou meio desgostosa ao saber desse novo decreto de seu rei e resolveu aumentar suas punições com choques e chicotadas para compensar.

James, diferentemente do que Charlotte imaginava, apoiou o decreto de Richard por completo. Charlotte havia estranhado a indiferença constante daquele príncipe pelo corpo dela e descobriu que era porque James, assim como Victor, gostava de homens em vez de mulheres. Mesmo assim, pela sua criação como um cavalheiro, o príncipe do fogo era extremamente contrário a esse tipo de violência vergonhosa tal qual seu irmão mais velho. Até para James havia limites entre uma vingança tolerável e intolerável. "Estupro" ficava na área do "intolerável". Só por isso ele concordou com aquela intervenção, mesmo que parecesse aos olhos de muitos dos cidadãos do Reino do fogo como algo "benevolente demais para uma rainha inimiga".

Charlotte não sabia como se sentir diante daquela demonstração estranha de sentimentos feita por Richard. Ela não esperava que ele fosse tão longe a ponto de fazer um decreto para protegê-la. E ela não fazia a menor ideia do que Richard queria dizer com aquilo.

Os sentimentos de Charlotte ficaram muito confusos e, apesar de não querer admitir, uma ponta de esperança cresceu em seu coração, esperança de que nem tudo o que Richard disse que sentia por ela fosse completamente mentira...

No entanto, apesar do decreto, a beleza de Charlotte era enlouquecedora demais para ser mantida em paz por muito tempo.

Certa noite alguns soldados enganaram os guardas de Charlotte, dizendo para eles que ela foi designada a um trabalho extra na lavanderia e teria que ficar lá até altas horas da noite, sendo supervisionada por eles.

Os tais soldados mentiram tão bem que até mesmo Charlotte acreditou e não discutiu quando foi obrigada a ficar com eles, uma vez que Mary havia lhe conferido a missão impossível de lavar todas as cortinas do terceiro e quarto andares do Castelo até o dia seguinte.

Infelizmente para ela, assim que seus guardas foram embora, os soldados mentirosos a amordaçaram e começaram a violentá-la antes mesmo que ela conseguisse terminar de lavar a quinta cortina do quarto andar.

Ela nem sequer podia gritar por conta do pano em sua boca e teve de aguentar três horas de sexo forçado até que os soldados se assustaram com um barulho vindo do lado de fora da lavanderia e saíram correndo com medo de serem pegos no flagra, deixando para trás uma Charlotte amarrada e machucada quase inconsciente.

A última coisa que Charlotte viu antes de desmaiar foi cabelos ruivos e olhos castanho-escuros a encarando com uma análise cirúrgica.

Quando acordou, ela já se encontrava solta das cordas e sentada encostada a um dos grandes poços de água daquela lavanderia. Uma mulher da idade dela, a mesma que ela vira antes de desmaiar, estava de pé em sua frente com um copo de água em uma mão e um pequeno pão na outra.

- Você finalmente acordou... – A garota disse com ares de alívio, se agachando nervosamente na frente de Charlotte – Como se sente? Você está bem?

- Eu... – Charlotte não sabia o que dizer.

Embora estivesse coberta de suor, sujeira e até sêmen, sua regeneração irritantemente rápida já havia deixado suas partes baixas novinhas em folha, sem nenhum arranhão. E pelo visto a garota na frente dela, além de tê-la desamarrado, também havia ajeitado seu vestido de empregada, terminado de fazer os trabalhos de lavagem de Charlotte e até mesmo limpado um pouco de seu rosto sujo.

- Toma. Beba um pouco de água e coma um pouco de pão também – A garota estendeu o que trazia nas mãos com uma expressão nervosa no rosto, como se estivesse com medo de ser atacada por Charlotte caso se aproximasse demais.

Charlotte também estava meio nervosa com a presença daquela mulher ali, já que nunca jamais nenhuma de suas "companheiras empregadas" havia lhe ajudado antes, não importando que estado ela estava. E a roupa da mulher que lhe oferecia comida e água era exatamente igual à dela, o que sugeria que esta era também uma das empregadas do Castelo.

Com um pouco de relutância, Charlotte aceitou a água e o pão dados pela garota, uma vez que ela sabia bem ser difícil uma simples empregada envenenar aqueles negócios tão do nada.

- Obrigada – Charlotte agradeceu a garota assim que terminou sua pequena refeição – Mas não deveria ter feito isso. É proibido me dar comida além do que está estipulado, mesmo que seja só um gole d'água ou um pequeno pão.

- Eu sei, mas... – A garota, que não era nem um pouco feia, ficou adoravelmente vermelha ao prosseguir – Eu só queria te ajudar a se recuperar mais rápido. Sei que estavam fazendo algo... proibido com você. Sinto muito.

Todo mundo no reino inteiro sabia que era proibido tocar naquela ex-rainha com propósitos lascivos, então o conhecimento da garota não surpreendeu Charlotte. O que realmente a deixou surpresa foi aquela gentileza toda...

- Qual é o seu nome?

- Safiye... – A garota disse ficando ainda mais vermelha e linda.

Charlotte pensou que era impressionante que alguém tão bonita fosse uma simples empregada daquela mansão e não a esposa de algum nobre endinheirado. Dava até para sentir uma pena da pobre Safiye e de suas mãos visivelmente calejadas e feridas pelo trabalho braçal duro.

- Obrigada pela ajuda Safiye... – Charlotte agradeceu mais uma vez antes de se levantar e seguir o caminho até a saída.

- Você vai... contar o que houve ao rei? – Safiye indagou parecendo ansiosa ao seguir Charlotte.

- Não. Sua majestade não deve querer saber sobre essas bobagens sem importância referentes a mim – Charlotte pronunciou com fingida indiferença, quando na verdade ela só não reclamava para Richard sobre o que houve por medo de que ele matasse os soldados desta noite exatamente como fez com os antigos guardas dela – Preciso voltar para minha cela sem ser vista.

- Eu posso ajudá-la com isso, distraindo os guardas, se você quiser – Safiye se ofereceu acanhadamente, fazendo Charlotte parar seu passo pela surpresa.

- Você realmente faria isso por mim? – Charlotte perguntou baixinho – Por que? Por que está querendo me ajudar tanto?

Era muito estranho que uma cidadã do Reino do fogo, cuja criação provavelmente foi totalmente focada em fazê-la odiar o reino do Gelo, estivesse agora se esforçando tanto para ajudar uma cidadã do gelo que também era a ex-rainha de lá.

- Bem... Porque... – Safiye parecia enrolada com as palavras, mas no final conseguiu dizer com certa firmeza – Porque eu não gosto de injustiças, e sinto que o que você está passando neste castelo é uma enorme injustiça que não deveria estar ocorrendo.

Por essa Charlotte não esperava.

A ex-rainha no final aceitou a ajuda oferecida por Safiye e, a partir daquele dia, inesperadamente encontrou uma amiga no meio de toda aquela situação dolorosa.

Beleza Aprisionante - História dos Quatro ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora