45 - Lilith

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Gael cometeu o erro de desviar os olhos dela e olhar para mim.

Ele não viu o ramo do vestido em sua direção. As minhas mãos voaram para as facas, enquanto a gavinha se enrolava com força ao pescoço dele. Uma forca verde.

— Mas que pena! — a voz dela não escondia mais o silvo sob os sinos. A serpente sorria de forma cortante. — Uma refeição tão deliciosa merecia um banho antes. Nunca entendi a falta de higiene de algumas espécies.

Ela atirou seus ramos em mim. De onde saíam tantas gavinhas se ela usava tão pouca roupa?! Eu tentava cortá-las à medida que se esgueiravam sobre meu corpo. O ramo que eu cortado guinchava com dor, pingando seiva branca. Mas da ferida brotavam dois novos tentáculos em uma bifurcação.

Gael estava imobilizado. As mãos presas não conseguiam alcançar suas armas ou sequer aliviar a pressão em seu pescoço. Ela o estava sufocando. Um misto de terror e raiva lutando dentro de mim.

— Deixa ele ir! Sua vadia imunda! — disse cortando as gavinhas enroladas no meu cabelo e no meu pescoço.

Imunda?! Eu?! Olha só pra você! Cheirando a bicho morto! — ela parecia realmente ofendida, mas o 'vadia' ela perecia receber muito bem!

Um galho me deu uma rasteira e se enrolou nos meus tornozelos, me levantando no ar. O cortei foi um talho seco. Caí de costas no chão e o golpe expulsou todo o ar dos meus pulmões.

Ouvi-a inspirar profundamente com satisfação. Lilith estava deslizando a ponta do nariz pelo rosto dele enquanto suas unhas retalhavam lentamente a frente da camisa do caçador. Ela sussurrou para si mesma:

— Posso sentir o cheiro do seu gosto delicioso.

Aquela ordinária!

Ela não olhava para mim, absorta em seu próprio mundo de sensações. Dei um passo na direção deles e uma rama forte me prendeu pela cintura. O aperto doía. Tentava me partir ao meio.

Gael estava perto de mim. Roxo. O desespero me consumiu. Ele não ia aguentar muito tempo.

Peguei uma das minhas facas e atirei na direção dela. Minha mira não era tão boa quanto eu gostaria que fosse. A faca saiu voando e abriu um talho no braço da cobra. Lilith deu um silvo de dor e afrouxou o aperto. Foi uma distração suficiente.

Com a outra faca na mão, cortei o ramo que impedia a respiração de Gael, mas não tive tempo de soltar suas mãos. A compressão em meu abdome voltou com ímpeto total. Senti espinhos crescendo em seus ramos para dentro da minha carne. Soltei um grito de dor.

Lilith sorria maliciosamente enquanto me puxava para si. Sentia cada vez mais partes do meu corpo sendo cobertas e comprimidas. As orquídeas em sua roupa se moviam como bocas esfomeadas.

Corte o mal pela raiz.

Eu precisava chegar perto o bastante para atacar a planta mãe, não adiantava lutar contra a folhagem.

O aperto ao redor do meu corpo ficou ainda mais forte. Uma anaconda que iria quebrar as minhas costelas. Só mais um pouquinho. Eu repetia na minha cabeça. Só um pouquinho mais perto!

A minha lâmina mordeu na direção dela. Lilith se esquivou do golpe, mas não foi rápida o bastante. A adaga cravada até o cabo em seu ventre. O golpe o sorriso de sua face. Ela urrou de dor e afrouxou o aperto, caindo de joelhos no chão.

Me desvencilhei de seus galhos e corri até Gael. Soltei suas mãos. Ele tossia convulsivamente no chão. Acabei de tirar as cordas de seu pescoço. Uma marca horrível sorriu em sua garganta.

Uma risada macabra ecoou atrás de mim. Eu me voltei num ápice. A alguns metros de nós, Lilith estava de pé sobre uma poça de sangue. O sangue dela, que escorria da barriga, manchando a renda da roupa até se acumular no chão.

A minha faca estava jogada a seus pés. Ela arrancou orquídeas de sua saia a as colocou sobre a ferida. As raízes se fixando no sangue, crescendo para dentro dela. As pétalas brancas assumindo o tom carmim do líquido que bebiam. Seus ramos fazendo o mesmo, como um ninho de cobras, se enroscando e se contorcendo, lambendo o líquido empoçado no chão. Os olhos dela assumiram um tom amarelo profundo e suas pupilas se comprimiram numa fenda única, negra, de alto a baixo. A língua bifurcada que dançou para fora de sua boca medonha completou a visão que me daria pesadelos por dias.

Lilith avançou sedutoramente em minha direção. Os quadris balançando, as pernas longas e esguias aparecendo por entre o rachado da saia.

— Que refeição mais curiosa. O prato principal é... — ela lambeu os lábios — de dar água na boca, e a sobremesa, um tanto selvagem.

— Vai ter que encontrar outro homem para devorar, erva daninha. Esse aqui é só meu.

Ouvi uma lâmina cortando o ar atrás de mim e um guincho. Gael acabava de esfaquear o estômago de uma planta. Elas estavam saindo da terra, usando raízes como pernas e folhas como braços. Silvando como cobras. E estavam nos cercando.

Gael abriu caminho com a espada, espirrando líquido para todos os lados e me empurrou naquela direção.

— Vai! E não olhe para trás! — falou com a voz rouca.

— Tragam para a mamãe. — a serpente sibilou às minhas costas. O sorriso sinistro rasgando o rosto, salivando de expectativa.

 O sorriso sinistro rasgando o rosto, salivando de expectativa

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Olá, olá! 

O nome Lilith não foi escolhido de forma aleatória, como algumas pessoas notaram. Afinal, não seria um paraíso adequado sem uma serpente à altura, não é mesmo?! kkkkkkkkkk

Espero que tenham gostado. Bjos! 

Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now