7 - Queda

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Na última aula daquela tarde, estávamos praticando saltos. Era a última do dia. John, além de meu amigo, era o meu parceiro há mais de um ano. Em um dos saltos as mãos dele escorregaram, ele não conseguiu me pegar direito. Caí por cima dele. Senti o impacto instantâneo no pé esquerdo. Uma fisgada aguda que me fez soltar um palavrão. Me sentei rapidamente, as duas mãos voando para o tornozelo. Droga! Não tive um bom pressentimento.

John já estava agachado ao meu lado, com o semblante preocupado, me perguntando se eu estava bem.

— Eu não sei. Está doendo muito.

O professor e outros alunos já estavam formando um aglomerado à minha volta.

— Consegue se levantar?

— Acho que não. — eu estava rezando para que fosse só uma torção. Por favor, por favor, por favor uma fratura não. Eu ainda estava no chão agarrada ao tornozelo quando ele rompeu a aglomeração e se abaixou à minha frente.

— Você está bem? — aquele verde dourado me olhou sem rodeios. A preocupação estampada em cada linha da sua expressão, o que só podia ser descrito como bizarro.

Fiquei sem fala. De onde ele tinha saído? E o que estava fazendo ali?

Como não recebeu uma resposta, focou sua atenção no tornozelo machucado. Primeiro, soltou as minhas mãos, depois deslizou a sua delicadamente da base do joelho até o fim da minha panturrilha. Pele sobre pele. O calor daquela palma aquecendo mais do que só o que tocava. Ele soltou a fita e tirou a sapatilha do meu pé. Tocou com delicadeza os esparadrapos que envolviam os meus dedos e franziu as sobrancelhas para as bolhas frescas. O estranho acariciou o meu tornozelo ferido. Fagulhas acesas num rastro de arrepios.

— Por que se importa? — saiu da minha boca. O insulto de mais cedo ainda estava bem fresco.

Ele levantou os olhos para mim, surpreso. Parece que ainda não tinha se dado conta disso. Seu semblante adquiriu uma tonalidade mais sombria e ele desviou o rosto.

— Eu ainda não sei. — essas palavras foram ditas mais para si mesmo do que para mim. Um pensamento em voz alta. — Não sei dar nomes. — ainda examinava o ferimento, não o meu rosto.

Pousou devagar o meu pé no chão e deu uma encarada em John de forma homicida. Ui! Acho que essa foi pior do que as minhas. Saiu sem olhar para trás.

— Quem é ele? — John me trouxe de volta à realidade. O meu amigo me olhava com um misto de curiosidade e desgosto. As pessoas ao meu redor cochichavam sobre a cena que acabara de ocorrer.

— Pode me ajudar a levantar? — fiz uma careta. — Não vou conseguir sozinha.

Foi o suficiente para voltar a atenção dele ao que importava. Eu não podia responder à pergunta de John. Eu não fazia ideia de qual era a resposta.

Me levaram ao hospital e tirei raios-x. Felizmente não era grave e não precisei de muletas, mas seriam quatro semanas sem poder dançar.

Observei o meu tornozelo inchado envolvido com talas. Vou ficar louca com essa dispensa médica.

Dançar era a minha vida, o que eu mais gostava de fazer no mundo. Eu respirava dança. Se eu não pudesse mais dançar... deixaria de ser eu mesma.

Os dias seguintes foram tristes e sem graça, eu podia andar, desde que fosse com metade da velocidade de uma tartaruga inválida, mas nada de ballet. Como eu estava de atestado, só tinha o período da manhã cheio. Então estava passando as tardes inteiras na padaria da minha mãe. Ficar em casa sem nada para fazer fazia a minha cabeça viajar para uma pessoa muito, muito estranha!

Eu não o via há dias, desde o acidente na semana passada. Ele tinha desaparecido, como disse que faria se eu mandasse. Eu mandei... e ele sumiu. Tinha que parar de pensar nele, mas a padaria estava quase vazia e se eu quisesse tirar aquela mancha verde e dourada da cabeça precisaria me entreter. Aproveitei para organizar o armário embaixo do balcão.

Será que o veria de novo? Para onde será que ele tinha ido? Eu não consegui decidir se tinha mais medo que ele voltasse ou não. Uma hora ele era educado e na outra...

Odeio ele! Odeio tudinho nele! Aqueles malditos olhos verdes! Ele era tão rabugento e imbecil! Era melhor que sumisse, e que nunca mais voltasse. É, isso era o melhor. Se eu repetisse vezes o suficiente, talvez pudesse me convencer de que eu não estava, no fundo, decepcionada com a ausência do estranho Gael Ávila. Odeio aquele garoto!

Levantei de detrás do balcão e gelei. 

Olá a todos! 

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Olá a todos! 

Por que será que demoramos para reconhecer alguns sentimentos? 

 Um grande beijo e até o próximo capítulo!  

Doce Pecado | 1Donde viven las historias. Descúbrelo ahora