40 - Visão

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No dia seguinte, o lindo lótus incandescente se resumia a um punhado de cinzas frias.

Nós partimos cedo, com o raiar do dia. O primeiro passo era chegar ao ninho das fadas. Lá encontraríamos a ajuda necessária para seguir até às Brumas, o nosso verdadeiro objetivo. O fruto da persuasão se escondia lá.

Corri os dedos sobre a superfície do chapéu de um cogumelo que alcançava a minha cintura. A textura era lisa e fria, o aspecto era semelhante ao interior das conchas de moluscos. Era feito de madrepérola.

Fizemos uma pausa para almoçar. Eu me debrucei sobre uma rocha banhada pelo sol. À luz do dia, eu pude perceber detalhes ocultos pelo luar da noite anterior.

— Eu não tinha mensurado a grandiosidade da riqueza desse lugar. — observei as joias incrustadas na pedra. — Estão espalhadas por tudo lugar.

Toquei uma safira. Diamantes, esmeraldas, turmalinas, rubis, topázios. Pedras preciosas estavam incrustadas em cada lugar rochoso pelo qual cruzávamos. Uma fortuna incalculável. Era fácil imaginar como a descoberta da entrada para aquele mundo poderia destruir tudo. Escravidão, assassinato e roubo de recursos naturais. Em parte, eles não estavam errados em ter medo. E o medo levava a medidas desesperadas.

Gael e Elisa estavam descansando espichados no chão, de olhos fechados. O calor do sol ameno era relaxante e confortável.

— Ali! — apontei uma bola azul atrás de um tronco caído. — Eu vi um, eu vi um!

— Um o que?! — Gael e Elisa perguntaram em uníssono.

Os dois já tinham levantado num pulo com o meu grito.

— Um zárrul! Olha lá! — três deles apontaram. — Eles são tão lindos! Que gracinha!

— Um zárrul?! — Elisa bufou. — Que ótimo! Quase tive um infarto! E tudo por causa de um bicho catarrento!

— Vem cá bichinho. — revirei a minha mochila. — Olha só o que eu tenho para você. — mostrei uma barra de cereais com chocolate.

Quando eu dava um passo eles sumiam. Me sentei de pernas cruzadas e agitei o doce. Eles foram se aproximando até um certo ponto. Joguei um pedacinho. O mais esperto pegou e fugiu. Os outros dois resmungaram. Joguei mais um. O outro também fugiu. Só ficou o menor, de pelos dourados como caramelo.

— Vem aqui, pequenino, vem. — estendi um pedaço na mão.

Ele veio, meio ressabiado, mas comeu.

— Quer mais um pedaço? — ele parou bem na minha frente. Literalmente uma bola de pelos toda desgrenhada com um focinho liso de porco e dois olhinhos brilhantes. Nem dava para ver as perninhas. Eu dei mais um pedaço e ele não fugiu. Dei uma risada. Ele pôs a língua azul para fora e abanou o rabo.

— Mas você é guloso, hein? — no final ele já tinha subido no meu colo e estava se refestelando com a segunda barra enquanto eu lhe fazia cafuné.

Elisa e Gael estavam estarrecidos com a cena, olhando para mim de boca aberta.

— Ela pegou um. — Elisa balbuciou.

— Estou vendo. — Gael respondeu tão incrédulo quanto a loira.

Aparentemente o que eu tinha feito era uma façanha. Os zárruls eram difíceis de capturar, até mesmo por caçadores experientes. Mas eu não queria realmente pegá-lo, apenas oferecer um lambisco. Talvez ele soubesse disso.

Olhei o bichinho e sorri. Baguncei ainda mais o pelo dele e o pequeno felpudo foi embora.

Até que aquele mundo de fantasia não era tão ruim quanto eu tinha pensado. Se tivesse um colchão ali, eu estaria me sentindo de férias.

Mas a minha segunda noite não foi tão agradável quanto a primeira. Os meus sonhos não foram coloridos e alegres, cheios de vida como um arco-íris. Foram sombrios e escuros, cheios de morte.

Pessoas encurvadas, gritando de dor. Fogo. Animais em pânico. Fumaça e pandemônio.

Vi imagens do mundo que estava do outro lado, aos poucos se desfazendo. Lentamente se instalando um caos total e completo, as pessoas morrendo, os animais, a natureza. Corpos. Incêndios avassaladores. Um globo de terra seca, desértica e erodida. Morta.

Acordei sobressaltada, com dificuldade para respirar.

— Está tudo bem, foi só um sonho. — Gael tentava me tranquilizar.

— A Terra está morrendo. — tentei recuperar o fôlego.

Gael e Elisa olhavam para mim com preocupação.

Os mundos estavam ligados intimamente. Existia muito mais mágica no mundo real do que qualquer um havia imaginado. A Terra se alimentava da magia do mundo Natural, se os portais fossem realmente fechados...

Aquelas imagens chegavam até mim como um pedido de socorro. Eu era uma guardiã, a minha responsabilidade era guardar a vida, protegê-la. O portal precisava ser protegido, agora mais do que nunca.

— Era sobre isso que os primeiros guardiões falavam. — expliquei. — Não é só as pessoas que eles tentavam proteger, é o planeta inteiro. O núcleo terrestre se alimenta de magia. E essa magia vem daqui, através do portal. Sem ela... tudo o que existe lá vai morrer. O próprio planeta vai morrer. E quanto mais fraco o portal fica, mais doente se torna o planeta.

Não era só a vida dos híbridos e a liberdade dos caçadores que estava em jogo. Nós não podíamos mais nos dar ao luxo de falhar. O peso do mundo estava em nossas mãos. E isso era uma carga bem pesada para carregar.

O que acharam, queridos leitores? Agora estou torcendo ainda mais pela Alma! Gosto muito do nosso planeta e não quero nada que ele suma! kkkkkkkkkkk

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O que acharam, queridos leitores? Agora estou torcendo ainda mais pela Alma! Gosto muito do nosso planeta e não quero nada que ele suma! kkkkkkkkkkk

Gostaram da ligação intrínseca entre os mundos? Espero que sim.

Bjos e até a próxima! 

Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now