42 - Pântano

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Seguimos viagem com as pequenas fadas na liderança. Siringe nos ofereceu montaria também, algum tipo de cabra — ou bode, não chequei! — com pernas compridas, duas cabeças e um chifre em cada. Com sorte, tudo correria bem. Certo?

Um pouco antes do sol se pôr, Gael e Elisa começaram a trocar olhares que me deixaram inquieta.

— O que foi?! Eu quero saber! — exigi.

Eles se entreolharam de novo.

— Estamos sendo seguidos. — Gael respondeu.

— E o que está seguindo a gente?

Ele tornou a olhar para Elisa. Isso não era nada bom.

Amnatos. — respondeu.

O meu coração estremeceu. Não queria reencontrar as coisas do parque de diversão.

— O que significa que fomos descobertos e os sábios já sabem que estamos aqui. — acrescentou.

A sorte e eu não estávamos nos dando muito bem nos últimos tempos.

— Vamos adiantar o máximo de caminho que der. — Elisa falou. —Temos algum tempo até nos alcançarem.

A floresta foi se tornando cada vez mais úmida. Um toque muito leve de cheiro de enxofre pairava no ar.

— Já esteve aqui, Elisa? — a postura de Gael era rígida.

— Não. Mas devemos estar bem próximos do pântano.

— Isso também não é muito bom, não é? — perguntei já sabendo a resposta.

— Não. — Gael olhou para mim, escolhendo as palavras. — O pântano é uma das regiões sombrias. Não sabemos exatamente que tipo de criatura vive por esses lados.

— Vamos manter os olhos abertos. — Elisa tomou a dianteira com uma faca longa em cada mão. — E prosseguir em silêncio.

— Deixe-me ir à frente. — Gael segurava uma espécie de machado.

Eu segurava o chifre da montaria! Eu era bailarina, não gladiadora!

— De jeito nenhum. — Elisa retrucou. — Confio mais nos meus olhos do que nos seus. Você cobre a retaguarda.

Seguimos em fila indiana. Eu fiquei no meio deles. As fadinhas voavam com gentileza, mostrando a direção. O chão se tornava cada vez mais lamacento sob os cascos das cabras. Movimentos rasteiros começaram a ser vistos por toda parte. As cabras se agitaram. As fadas nos puxaram pelas roupas e cabelos em outra direção. Nos deixamos conduzir e elas se acalmaram.

Um chiado constante, mas muito baixo, semelhante a uma serpente, chegava aos meus ouvidos.

— Ouviu isso, Gael? — Elisa sussurrou e se deteve.

— Ouvi. Mas esse fedor está me desconcentrando. Não sei dizer se são eles.

— Os amnatos já deveriam ter nos alcançado. Talvez o cheiro atrapalhe o olfato deles também.

— Assim espero. — Gael acrescentou.

O cheiro de enxofre estava bem mais forte agora. Em alguns trechos chegava a me fazer lacrimejar. Um farfalhar à nossa esquerda, seguido de um rugido me fez gelar. Não parecia amigável. Um bicho feio e pegajoso saltou bem em cima da Elisa. Não consegui segurar o grito de medo.

Ela o golpeou com um movimento certeiro no estômago. Seu corpo ficou inerte encravado na lâmina. Era muito feio! E muito nojento! Dois olhos muito negros e protuberantes numa cabeça esguia e babenta. O maxilar inferior saltado, exibia dentes muito longos e afiados. O corpo, cheio de manchas escuras, bolhas e verrugas, me fez lembrar a pele repugnante de um sapo.

Elisa ficou com a palma da mão cheia de um líquido turvo. Dois gritos iguais, um depois do outro, vindos de direções diferentes, as cabras e fadas entrando em pânico e desespero assim como eu.

— Vamos sair daqui! — Gael ordenou.

Puxei a faca do meu cinto. Eu não sabia de onde aquelas coisas vinham, mas estavam chegando mais rápido do que podiam ser abatidas. Esfaqueei uma que se grudou vorazmente ao pescoço da minha montaria. Outra abocanhou a barra da minha calça, fazendo a pele arder. Um bicho repulsivo deu um pulo bem à minha frente e devorou a fadinha que nos guiava em pleno ar.

O meu animal empinou, me agarrei em seu chifre, mas Elisa foi derrubada do dela.

Um puxão de cabelo violento me fez perder o equilíbrio e eu caí na lama fedida. Gael desceu o machado sobre a criatura que havia abocanhado os meus fios, dividindo-a em duas. Me livrei com desespero e horror da cabeça de olhos arregalados.

Corri até Elisa, tentando ajudá-la a se livrar do emaranhado que a atacava. Corpos sendo espalhados por onde passávamos. As cabras escoiceavam loucamente, derrubando as criaturas sombrias, mas elas não estavam armadas como nós e as criaturas estavam em número muito maior. A primeira cabra tombou e foi praticamente coberta pelos corpos peçonhentos daquelas coisas gosmentas.

A minha roupa estava rasgada e o meu corpo coberto por gosma preta e sangue verde. O cheiro era de vinagre. Perdemos nossos animais. Eu podia ouvir o gemido agonizante deles atrás de mim. Urros de dor e desespero enquanto eram devorados vivos, misturados a grunhidos assombrosos de puro prazer das criaturas que se banqueteavam num festim de morte.

Elisa tomou a dianteira e seguiu em outra direção. No entanto, foi exatamente rumo às entranhas do pântano que acabamos seguindo.

 No entanto, foi exatamente rumo às entranhas do pântano que acabamos seguindo

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Olá pessoal! Alguém aí simpatizou com os bichos melequentos? Eca!

Prontos para ir mais fundo nesse pântano? Ele aguarda logo ali na página seguinte!

Bjos!

Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now