5 - Odeio insetos!

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Eu podia passar horas perdida entre livros, mas com muito custo, escolhi um novo exemplar e saí da livraria. Me dirigi para o ponto de ônibus com uma garrafa de água na mão. O calor estava de matar! Um bichinho pulou em cima de mim. Odeio insetos!

— Sai! Sai! Sai! — cambaleei com um gritinho histérico e bati a mão no peito para afastar aquilo de mim.

Esbarrei com tudo em alguma coisa, a garrafa voando. Senti o líquido gelado molhar o meu braço. Recuperei o equilíbrio e não era alguma coisa, era alguém.

— Me des... — de todas as pessoas do mundo, é claro, que tinha que ser ele. — ...culpe. — engoli em seco.

Uma rocha muda. A hostilidade do confronto algumas noites atrás reverberou na minha mente.

Ele só ficou lá, parado, me olhando de cima com aqueles olhos esmeralda, salpicados com luz de ouro. Uma gota de água pingou da barba curta, outra ficou pendurada, decidindo se pulava também ou não. Se ele já me odiava antes... depois daquilo ali então!

Para minha sorte, ali estava claro e cheio de gente. Nem queria pensar qual seria a reação dele se eu lhe tivesse dado um banho num beco sem iluminação!

Cogitei seriamente virar as costas e sair andando. Por que a minha mãe tinha que ter me dado uma educação tão boa?

— Eu... foi um acidente... — comecei a procurar freneticamente dentro da mochila. — Tenho alguma coisa para ajudar.

Peguei um pacote de lenços de papel. Comecei a pressionar sobre a camisa molhada. Uau! Era bem firme o que tinha lá por baixo. O tecido estava todo colado a um corpo definido. Engoli. Podia ter comprado uma garrafa de água maior! O tórax subia e descia sob a palma da minha mão. Aí eu me dei conta de que provavelmente estaria invadindo o espaço pessoal dele e que estaria sendo totalmente inadequada.

Olhei para cima. Ele estava me estudando, me analisando, como se quisesse ler os meus pensamentos, o que eu tinha escrito abaixo da pele.

Dei um passo atrás.

— Talvez seja melhor você mesmo fazer isso. — ofereci com sorriso sem graça.

E embora ele estivesse encharcado por minha causa, não parecia que iria comer o meu fígado, ou coisa assim.

— Tanto medo de um bichinho inocente. — ele finalmente abriu a boca, secando rosto e pescoço. — Pergunto-me qual seria sua reação frente a algo que realmente pudesse feri-la.

— Não é medo. Insetos são nojentos.

— Então, já que não há perigo envolvido, creio que não será necessário salvá-la.

Franzi a testa.

— Me salvar de que?

— Do inseto que os seus cabelos estão mantendo em cativeiro.

Arfei com horror!

— Onde?! — sacudi a cabeça vigorosamente e comecei a bater no cabelo de forma histérica. — Tira! Tira logo! Já saiu? Tira!

— Fique quieta! — ordenou.

Eca! Odeio, odeio insetos! Finalmente ele tirou o bicho das minhas madeixas.

— Tenho andado pensando sobre uma coisa... — começou a divagar, analisando com cuidado as minhas reações. — Uma possibilidade nova. — observou o grilo que ainda segurava na mão. — Talvez... alguém devesse... — o olhar pulou para a minha direção. —, proteger os mais fracos. Ao invés de seguir o instinto natural de matá-los.

Ele estava me censurando? Por cauda do grilo?!

— Sinto muito pela blusa, foi sem querer! — e já estava de saída.

— Então da próxima vez, olhe na direção em que anda. Isso costuma ajudar.

Lá estava de volta, o ogro dos fundos do mercado!

— Como você é rabugento e mal-humorado! — disparei.

Mas ao invés de me dar uma resposta malcriada, o esboço de um sorriso apareceu. Ele contornou um carro e abriu a porta do carona.

— Entra.

No carro dele? Nem morta! Minha mãe disse para não dar confiança a estranhos, principalmente os que são lindos e têm cara de psicopata.

É claro que ele leu a resposta — óbvia — estampada bem no meio da minha cara.

— Eu sou, rabugento e mal-humorado, como você disse. — admitiu. — Mas não sou apenas isso. Nesse momento em particular, só estou tentando fazer uma garota linda e extremamente irritante cheguar mais cedo em casa.

— Eu sou irritante?! — eu?! Não ele?!

E seletiva.

— Eu não sou irritante. — afirmei. — E não estou com pressa. — dei as costas.

— Você é, sem dúvida nenhuma, a pessoa mais irritante que eu já conheci na vida.

Parei. Eu queria ter a força de vontade necessária para simplesmente ignorar, mas não tenho.

— E posso saber por que?! — a irritação me fazendo semicerrar os olhos.

— Por que você me faz duvidar das minhas certezas. — ele me pegou de surpresa. — Você pode, por favor, entrar no carro?

Ele me surpreendeu outra vez. Gael Ávila pedindo por favor, para mim! O emburrado que me encarava com frieza sendo gentil e educado?! Não podia ser a mesma pessoa. Ele tinha sido abduzido por alienígenas, agora eu tinha certeza que existia vida fora da Terra.

— E se eu disser não?

— Serei obrigado a segui-la até o ponto de ônibus, aí nós vamos ficar lá esperando, no sol — deu destaque ao calor —, e você vai ter que aguentar a minha companhia desagradável por muito mais tempo. Mas a escolha é sua.

— Então eu escolho esperar o ônibus sozinha.

— Ah! — ele abriu um sorriso vagabundo. — Essa escolha não é sua, Srta. Ferras. Não pode me impedir de ir a lugar nenhum. — o recente confronto no beco escuro subiu à minha mente com clareza. — A rua é pública!

Ordinário! Ele não disse isso! Que ordinário! A raiva devia estar espumando nos meus olhos porque o sorriso dele ficou mais largo, mais debochado e muito mais provocador.

O ronco de um motor me fez olhar na direção da avenida.

— Aquele era o seu ônibus. — o imprestável acrescentou cheio de satisfação enquanto eu via a minha condução partir e me deixar para trás.

Aquele estranho lindo abriu um pouco mais a porta, reforçando o convite.

— Tem ar-condicionado.

A minha raiva deu lugar a um riso inesperado. Ele estava mesmo barganhando comigo. Aceitei a carona e ele fechou a porta depois que entrei, como um cavalheiro de antigamente. E nesse dia ele foi mais lindo do que estranho.

Lindo e estranho. Gael Ávila realmente oscilava entre essas características. Alguma delas ganharia? Ou chegaríamos a um meio termo?

 Alguma delas ganharia? Ou chegaríamos a um meio termo?

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Olá, olá! 

Tbm odeio insetos! kkkkk Mais alguém?

Se gostou deixa uma estrelinha, bjos e até a próxima.

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora